Chance Kornuth: Olá, pessoal! O convidado de hoje dispensa apresentações, mas eu vou apresentá-lo mesmo assim: Alex Foxen! Mais de $50 milhões em prêmios de torneios, um dos jogadores mais lendários da atualidade e alguém que eu tenho orgulho de chamar de amigo. Bem-vindo, irmão!
Alex Foxen: E aí, cara? Feliz de estar aqui.
Chance: Quer deixar uma mensagem de abertura?
Foxen: Eu gosto de participar de podcasts, embora eu não faça isso com frequência... principalmente porque, em certo nível, no poker, pode ser meio perigoso revelar qualquer coisa sobre a forma como você pensa. Alguns dos nossos oponentes são extremamente perspicazes. Eu acho que o EV dessas conversas é negativo, mas eu me divirto tanto que não consigo abrir mão completamente delas.
Chance: Então eu tive muita sorte de conseguir te trazer aqui! Vamos começar do começo: como você entrou no poker e o que fazia antes disso? Conta um pouco do seu passado.
Foxen: Eu comecei a me interessar por poker por volta de 2002-2003. Como muitos, fiquei impressionado com a vitória do Chris Moneymaker, mas o que realmente me marcou foi o Main Event de 2004, vencido por Greg Raymer. Eu lembro exatamente do sofá em que estava sentado, do ambiente da sala e da sensação incrível que tive assistindo à transmissão. Eu tinha 12 anos na época.
Chance: Um torneio lendário! E o Raymer é um cara bem peculiar, com aqueles óculos malucos...
Foxen: ...e os fósseis! (risos) É, isso também. Claro que eu não entendia o jogo de verdade, mas adorava a tensão e o drama.
O esporte sempre foi o centro da minha vida. Eu praticava praticamente todas as modalidades possíveis — futebol, hóquei, futebol americano, lacrosse, beisebol, basquete — e jogava em ligas oficiais. Fiz de tudo até o ensino médio, quando pediram pra eu escolher apenas uma. Acabei escolhendo três: hóquei, futebol americano e lacrosse. Eu amava especialmente o futebol e o hóquei e realmente planejava seguir carreira esportiva. Sonhava em ser profissional. Durante a temporada de hóquei, eu dormia com o meu taco. Sempre fui obcecado pelo que fazia.
Não acho que me arrependo de nada na vida, mas a decisão de seguir o futebol em vez do hóquei foi a que mais chegou perto de algo parecido com arrependimento.
Quando criança, eu era um verdadeiro encrenqueiro. Nada terrível, mas respondia aos professores, desobedecia os adultos. Quando eu estava na terceira série, uma professora ligou para os meus pais e disse que eu passaria a vida atrás das grades. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos! (risos) Engraçado pensar que muitos dos traços que fizeram ela dizer isso acabaram me ajudando no poker — eu sempre me importei muito pouco com a opinião dos outros, não ligava para a aparência que passava, e era completamente obstinado em alcançar meus objetivos.
Na adolescência, eu era frequentemente punido com "prisão domiciliar" — não podia sair de casa. E foi aí que o poker realmente começou. Sozinho no quarto, eu pegava um baralho e dava cartas abertas para oito ou nove jogadores, jogando uma mão completa por cada um. Foi assim que comecei a aprender poker. E, honestamente, é um ótimo jeito de mergulhar no jogo. Esse exercício me mostrou algo que muitos espectadores não percebem: com que frequência as pessoas recebem mãos ruins!
Chance: Você pegou a época em que o PokerStars começou a publicar replays de torneios com as cartas abertas? Eu via isso o tempo todo. É bem parecido com o que você descreveu.
Foxen: Não, eu não cheguei a assistir a esses replays. Mas vamos avançar um pouco. Na faculdade, eu jogava futebol americano. Depois de sofrer algumas concussões, tive que abandonar o esporte. O desejo de competir continuava lá, e eu precisava de uma nova saída — o poker acabou sendo perfeita para isso. Eu amava o jogo em si. Além disso, eu estudava matemática e finanças, e também me interessava muito por física, então os aspectos teóricos do poker me atraíam intelectualmente. E, claro, a competição e a pressão psicológica eram uma substituição ideal para o esporte.

Foxen: Agora que você falou disso, lembrei que eu assistia replays dos torneios high rollers do EPT! Eu passava as noites jogando online na Bovada e na Carbon Poker, e as manhãs assistindo às transmissões do EPT. Basicamente, minha vida era isso — por alguns anos eu me dedicava ao poker entre 12 e 16 horas por dia.
Chance: Pra quem não sabe, o Alex jogou como tight end pelo Boston College por três ou quatro anos.
Foxen: Na verdade, tive que parar no terceiro ano.
Chance: Eu sei a resposta, mas quero ouvir da sua perspectiva — como a gente se conheceu e como você acabou entrando no time do Chip Leader Coaching?
Foxen: Tudo começou pouco antes de a gente se conhecer, quando eu me vi diante de uma decisão importante na minha carreira. Eu sempre fui extremamente confiante nas minhas habilidades e convicto de que teria sucesso. Pode chamar isso de auto-hipnose, mas eu simplesmente nunca tive dúvidas. É uma característica valiosa, embora às vezes possa ser autodestrutiva. No meu caso, me ajudou muito.
Poker é uma competição estranha... ou melhor, um esporte estranho.
Chance: Você não considera o poker um esporte?
Foxen: Pergunta difícil. Eles têm muito em comum. Acho que sim, dá pra dizer que poker é um esporte — um esporte intelectual. Na minha opinião, está mais próximo de um esporte do que o xadrez, porque a personalidade do oponente tem um peso muito maior. Claro, no xadrez você também reage aos movimentos do adversário, mas de forma mais mecânica, mais padronizada. No poker, há muito mais variáveis situacionais, e a execução correta é muito mais importante. Algumas pessoas brilham nos momentos decisivos, outras... nem tanto. Talvez eu não entenda o suficiente de xadrez e as diferenças que estou apontando não sejam tão exatas.
Chance: Concordo com o que você disse, mas também não sou nenhum especialista em xadrez. Vamos deixar que os enxadristas nos corrijam nos comentários.
Foxen: (risos) Seria interessante. Acho que joguei no máximo umas dez partidas de xadrez na vida. Claramente, não sou um expert.
Chance: Eu joguei bastante quando era mais novo, mas nos últimos 25 anos devo ter jogado uma ou duas partidas, no máximo.
Foxen: Eu sempre gostei de jogos de estratégia e tabuleiro. Settlers of Catan! Jogava com os amigos até na faculdade. Dá pra aplicar bastante skill ali — principalmente com a expansão, que deixou o jogo mais complexo e profundo. Jogávamos em cinco pessoas, e eu ganhava cerca de 75% das partidas.

Chance: Um ROI de 200%!
Foxen: (risos) É, meu bb/100 era absurdo. Mas estamos fugindo do assunto! Sua pergunta era...
Chance: Conta a sua versão de como nos conhecemos. Você disse que estava num momento de encruzilhada.
Foxen: Exatamente. Eu sentia que estava evoluindo, jogando nos limites mais altos da minha carreira até então, mas sabia que faltava alguma coisa — um elemento essencial do jogo que eu ainda não tinha entendido. Eu fazia muitas deep runs e terminava em 16º, 7º... claro, parte disso era variância, mas eu sabia que não estava calibrando bem quando acelerar e quando frear. E foi exatamente isso que você apontou logo de cara!
Chance: Tá, deixa eu contar a minha versão. A gente estava jogando um torneio de $2.500 no Venetian, e o Alex deu três cold 4-bets e foldou para 5-bets em apenas duas órbitas! E, sinceramente, eu nem sabia se ele tinha uma mão decente em alguma dessas vezes. Eu estava procurando jogadores para o programa de coaching em troca de porcentagem dos lucros, e tinha uma vaga sobrando. E a forma como ele jogava me impressionou! Conversamos no intervalo.
Foxen: Eu lembro perfeitamente desse torneio. Na época, eu tinha poucos amigos no poker, e nenhum deles era particularmente bem-sucedido. Você estava indo muito bem, seu nome estava em alta, e quando veio falar comigo no intervalo, aquilo significou muito pra mim. Não que eu duvidasse de mim, mas aquele reconhecimento reforçou ainda mais minha confiança.
Chance: E como foi a sua subida até os high rollers? Hoje você joga torneios de $500.000, mas lá no começo você grindava limites bem mais baixos. Qual foi o ponto de virada?
Foxen: Toda vez que falo sobre isso eu fico arrepiado, porque essa ascensão ainda parece surreal pra mim. Mas, ao mesmo tempo, parecia inevitável. É difícil explicar. Lembro que em 2014 ou 2015 eu jogava torneios de $50 na ACR e morava na casa da minha mãe. Um dia, depois de uma sessão, subi pra jantar e simplesmente anunciei que um dia jogaria os torneios mais caros do mundo e seria um dos melhores. Foi totalmente fora do meu padrão.
Chance: Eu acho que soa bem típico de você!
Foxen: Talvez hoje pareça, mas na época não. Ou talvez eu dissesse algo assim pra um amigo, mas pra minha mãe?! Eu nunca falava disso com ela.
Acho que tudo vem do fato de eu amar demais o jogo e o aspecto competitivo dele. Então, quando decidi me dedicar totalmente ao poker, não havia outro caminho. Eu precisava alcançar o máximo — e continuaria tentando quantas vezes fosse preciso. Estudar 18 horas por dia? Sem problema! Se não fosse o suficiente, eu daria um jeito de aumentar as horas do dia.
Quando começamos a trabalhar juntos, eu tinha uma rede de backers que me bancava em torneios de até $5.000. E eu era bem relaxado com meu bankroll. O dinheiro não me motivava — eu só me importava em poder jogar o próximo torneio. Lembro que quando tinha $20.000, entrei num WPT de $3.500 por conta própria. Qual a diferença se eu ficasse com $20.000 ou $16.500?
Eu sempre quis subir de limites. Nunca me vi como um grinder eterno de torneios de $1.000. Pra mim, eles eram tipo satélites. “Hoje jogo um torneio de $400, se vencer, jogo um de $5.000!” — era assim que eu pensava. Não era sobre o dinheiro, era sobre enfrentar os melhores, competir, testar meu jogo.
Como o dinheiro nunca me afetou, subir de stakes foi algo natural. Um torneio que ficou marcado foi o Seminole Hard Rock $2.650 — acho que em 2016 ou 2017. (Foi 2017, o primeiro prêmio foi de $204.600 – GT.)
Chance: Você ganhou esse torneio dois anos seguidos!
Foxen: Sim, mas estou falando da primeira vez.

Chance: Eu lembro bem, porque na primeira eu tinha 50%, e no ano seguinte... bem menos!
Foxen: Tenho muitas lembranças desse torneio. Quando restavam 27 jogadores, eu tinha só um big blind e estava furioso comigo mesmo por um call idiota contra um cara que sempre teria ases. Eu tinha top pair e perdi um pote de cerca de 100bb. Button contra small blind. Dei call numa 3-bet, provavelmente errado — ele era muito tight. Eu sabia disso, mas simplesmente não consegui foldar top pair.
Chance: Você tinha ou num flop , certo?
Foxen: Sim, acho que . Fui de calldown, como um idiota, e me senti péssimo.
Chance: Eu posso até esquecer nomes, mas lembro de mãos que você jogou há oito anos.
Foxen: Impressionante sua memória!
Aquela vitória me marcou muito. Não apenas por confirmar que eu podia vencer nesse nível, mas pelo caminho completamente insano até o título. Eu dobrei ou tripliquei meu bankroll, não lembro exatamente. Você levou cem mil, eu também. Voltei pro quarto e chorei. Dá pra contar nos dedos de uma mão as vezes que eu chorei na vida.
Chance: Eu conheço três delas.
Foxen: (risos) Vamos deixar as outras duas em segredo.
Aquele título foi o catalisador da minha carreira. As pessoas começaram a prestar atenção em mim. Foi o grande ponto de virada. Até hoje me arrepio ao lembrar da força das emoções que senti.
Logo depois, viajei pra Barcelona pra jogar o EPT — e perdi um terço do meu dinheiro! (risos) Descobri que cem mil dólares não eram tanto quanto eu achava.
No ano seguinte tive uma boa WSOP — várias premiações, cheguei até a brigar pelo título de Jogador do Ano.
Chance: Você me mandou uma foto naquele torneio de 2-7 Single Draw de $1.500 com a maior pilha de fichas que eu já vi!
Foxen: Preciso achar essa foto! Aquele foi meu primeiro torneio de 2-7 na vida. Essa história define bem meu estilo no poker.
Chance: Tenho outra história! Eu organizei uma festa pra equipe do Chip Leader Coaching, mas você preferiu jogar um Deepstack de $600, o terceiro torneio do dia!
Foxen: Você está confundindo. Era um Deepstack de $200. Bom, $235 pra ser exato.
Chance: Antes que a gente fuja demais do tema, quero te perguntar algo. No começo da tua escalada, você teve que enfrentar os alemães — o grupo dominante da era dos solvers. Pra quem não sabe, eles estavam no topo do poker mundial por alguns anos e destruíam todo mundo, porque foram os primeiros a dominar os solvers. Como era jogar contra eles?
Foxen: Dizer que eles estavam no topo é até um eufemismo. Eles dominavam completamente, era quase cômico. Em certo momento, os cinco primeiros colocados do ranking GPI eram todos alemães: Fedor, Rainer, Dominik, Vogelsang, e acho que Koray também. Tinha mais um, talvez Christoph Christoffersen, se estou lembrando certo.

Foxen: Esse grupo foi o primeiro a descobrir os solvers e o primeiro a aplicar as descobertas no live. Encontrá-los nas mesas era fascinante e me motivava demais. Eu nunca conversei sobre poker com o Dominik Nitsche na vida, mas posso dizer com certeza que ele tem uma boa parcela de “culpa” pelo meu sucesso no jogo. Eu sentia muito aquela condescendência altiva dos nerds alemães olhando de cima para o “marombeiro” que cometia erros de iniciante. Eu jogava agressivo demais, abria mãos demais, apostava demais. Eles diziam na minha cara que ficavam felizes quando eu sentava na mesa deles e riam abertamente de algumas mãos minhas. Hoje eu entendo que isso vinha de uma insegurança profunda.
Chance: Tá bom, doutor!
Foxen: Pois é! Eles viam que eu ganhava bastante jogando “do jeito errado”, então o mais fácil era zombar dos meus erros em vez de tentar entender por que meu jogo funcionava.
Acho que a origem do meu estilo está naquele exercício em que eu dava cartas abertas para a mesa cheia e jogava mão por mão. Em algum momento, comecei a fazer contas. Se eu aposto 2/3 do pote no turn, o oponente paga com tais mãos e folda outras. Minha equidade contra o range de call é X. E se eu apostar meio pote? O range de call aumenta, minha equidade sobe. Qual linha dá mais resultado no longo prazo? Precisa calcular. Eu calculei, calculei e percebi que, no poker, o mais importante não é o que a gente faz, e sim a reação do oponente. É a possível reação deles que deve guiar nossas decisões — não o contrário.
De certo modo, eu criei meu próprio solver, mas de outro tipo. Essa experiência influenciou demais meu jogo. Eu nunca entendi como alguém, olhando uma mão, pode afirmar com segurança: “Claro que é call!” ou “Claro que é fold!” Claro pra quem? Contra quem?! No poker, absolutamente tudo depende do adversário.
Talvez eu quisesse muito que o poker fosse mesmo um esporte. Em esporte, você pensa algo como: “Esse defensor vira pra direita mais lento do que pra esquerda, vou explorar isso!” É procurar fraquezas e martelar nelas — é assim que se deve jogar!
Chance: Exploits! É, você tem razão. Essa é a essência do poker.
Foxen: Eu também acho.
Foxen: O problema do estilo exploit — e que assusta muita gente — é que o risco de errar feio aumenta. Errar feio mesmo. É desconfortável, especialmente quando você vive do jogo. É mais fácil dizer: “Não vou inventar estratégia própria, é complicado demais. Vou recorrer a uma autoridade e fazer o que a ferramenta manda. Seguindo o que ela diz, eu ganho um perdão antecipado.”
Chance: Sem falar que muitos têm backer, e o backer pode pedir para um nerd do solver revisar a mão do cavalo: “Não, o solver não joga assim, tá errado.” E pronto — desculpa aí, mano, você vai pular o próximo torneio! Talvez por isso nossa parceria de backing tenha dado tão certo: quando você caía numa mão meio tola, eu só dava de ombros — “eu entendi o que você pensou, sem problema”.
Foxen: Eu ia dizer exatamente isso: tem uma parte de mim que acredita num certo plano “cósmico”. E nossa parceria fez parte disso. Você foi a pessoa perfeita para ajudar a sufocar minhas inseguranças, validar minha forma de pensar e minha estratégia e, ao mesmo tempo, lapidá-las.
Lembro vividamente como você me “desensinou” a palavra “devem”. Eu seguia bustando em blefes e não entendia por que as pessoas pagavam com mãos que “deviam” foldar. E você falava: “Cara, você abriu praticamente toda mão na última hora e meia! Não ache que eles ‘devem’ foldar algo; eles não vão largar nada.” E eu: “Tá, mas eles devem... devem…” E você: “Não. Esquece a palavra ‘devem’, ela não tem lugar no seu vocabulário. Pergunte o que eles vão fazer!”
Isso foi uma grande virada. Eu não quero usar uma estratégia baseada no que meus oponentes DEVEM fazer. Quero manipular a estratégia para maximizar o resultado contra o que eles VÃO fazer.
Chance: Você tem muitas vitórias. Qual é a sua favorita?
Foxen: Hmmm...
Chance: Viu? Você precisa pensar. A minha resposta sairia na hora!
Foxen: Qual seria?
Chance: Meu primeiro bracelete! PLO $5k. A atmosfera era especial, torcida na arquibancada... No turn do último all-in eu tinha 95%, e todo mundo correu pra me abraçar, e eu tentando afastar o pessoal porque o river ainda não tinha saído... Eu me arrepio só de lembrar.
Foxen: Pra mim é mais difícil escolher. Acho que diria o Five Diamond — e justamente o ano em que fiquei em 2º lugar, não o título. Porque quando eu ganhei, eu já tinha acumulado várias outras conquistas.

Foxen: Meu primeiro bracelete também tem um lugar especial — ganhei no evento de $250k, um dos mais caros da WSOP. O torneio tinha um ar monumental.
Chance: Entendo por que ele não é o nº 1 pra você. Você já tinha ganhado tanta coisa antes que as sensações acabam ficando menos intensas.
Foxen: (risos) É, não foi um bracelet “luckyboxado” no começo da carreira numa modalidade que eu mal conhecia.
Chance: Como assim? Eu estava grindando PLO! E joguei muito bem.
Foxen: Eu sei, eu sei. Eu que podia ter feito uma piada melhor.
Chance: Beleza. Vamos de perguntas rápidas.
Foxen: Espera, quero voltar a uma coisa. No fim das contas, todas as vitórias em torneios ficam atrás do prêmio de Jogador do Ano do GPI, pra mim. Porque qualquer um pode cravar um torneio. Agora, apresentar resultados por um longo período é duríssimo. É a consistência que prova nível no poker. Por isso esse prêmio foi tão significativo pra mim.
Chance: Certo. Pronto para o “blitz”?
Foxen: Pronto.
Chance: Hero call ou grande blefe?
Foxen: Hero call.
Chance: High rollers ou fields gigantes?
Foxen: Uff! Difícil.
Chance: Pode desenvolver. Começa pelo hero call.
Foxen: Primeiro, meus calls com mãos fracas acertam com menos frequência do que meus blefes que passam — por isso eles ficam mais marcantes. E a sensação é diferente: algo do tipo “você tentou me enganar, e eu te superei”. O blefe é mais simples: às vezes o vilão simplesmente não tem nada. Ou ele é tight demais — qualquer um blefa esse perfil. No blefe, você não precisa pensar tão fundo pelo oponente quanto num hero call.
Foxen: Aliás, na minha segunda vitória no $2.650 eu fiz um hero call com 7-high. É uma das minhas mãos favoritas.
Chance: Soa maravilhoso.
Foxen: Foi contra o Blair Hinkle. Acho que ele lembra até hoje.

Chance: Vai contar essa mão?
Foxen: Claro. Eu tinha num board . O pré-flop foi limp e check, check-call no flop, check-check no turn, e no river caiu um . Ele fez uma aposta grande, e eu imediatamente coloquei ele em . Era o heads-up pelo título. O pote não era enorme, mas eu lembro da sensação absoluta de que ele estava blefando. A única dúvida era se ele poderia estar blefando com 8-high, mas fora isso, eu não tinha a menor hesitação no call.
Agora, sobre high rollers e torneios com grandes fields... Eu fico com os grandes fields dos mains. Não precisa ser o Main Event da WSOP — pode ser um torneio de $5k com alguns milhares de inscritos.
Chance: Claro, chegar longe num field enorme é bem mais prazeroso do que num high roller, mas os high rollers são mais interessantes de jogar, em média.
Chance: Ok. Cash game ou torneios? Pergunta fácil, né?
Foxen: Torneios. A maior diferença psicológica pra mim é que no cash não há um vencedor. Você pode ganhar dinheiro, mas não existe “o campeão". E eu sempre quis vencer. Eu amo competir.
Chance: Emoções no poker: segurar tudo no modo estoico ou deixar transparecer?
Foxen: Algo no meio-termo. O estoicismo é geralmente preferível, mas às vezes mostrar emoção é necessário. Se tiver que escolher, fico com o estoicismo.
Chance: A próxima é meio boba, mas eu vou perguntar assim mesmo: sorte ou habilidade?
Foxen: E se ser sortudo também for uma habilidade?
Chance: Uuuuh...
Foxen: Só uma resposta tola pra uma pergunta tola. (risos)
Chance: Certo, de volta a algo mais sério. Vamos falar de variância em MTTs.
Foxen: Quanto mais você joga torneios, mais entende que perder é inevitável, mas as vitórias trazem tanta alegria que compensam tudo. Cada vez que eu caio ou tomo uma bad beat, encaro como se estivesse apenas devolvendo um pouco dos momentos em que tudo deu certo. A variância é enorme, mas dá pra vencê-la com volume. Se você joga cinco torneios por ano com dois mil jogadores cada, pode passar a vida sem cravar um. Mas se jogar bastante e se manter em boa forma mental, a sorte vem — e todas as bad beats acabam esquecidas. Eu não lembro dos meus bad beats, mas lembro das vitórias.
Chance: Alguma mão memorável contra mim?
Foxen: Várias. A mais recente foi quando você fez de tudo pra distribuir nosso dinheiro pros outros no Main Event do WPT Choctaw — aquele que você acabou ganhando.

Chance: Pra quem está vendo o programa, vou contextualizar. Restavam uns 24, talvez 30 jogadores. Eu dei uma 3-bet com , e o Foxen mandou all-in com . A gente tinha uns 50 blinds cada. Eu paguei, venci o flip e tirei o Foxen do torneio. E, pra completar, tive a sorte absurda de eliminar a esposa dele em 5º lugar.
Foi assim que ganhei meu primeiro — e único — título de campeão do WPT. Grande lembrança, obrigado por trazê-la à tona!

Foxen: Considerando que terminei em 19º [na verdade, 21º – GT], foi mais longe do que você disse. Minha esposa ainda estava no torneio com um stack ótimo, e o meu estava em 1,7x o average — que nessa fase costuma ser uns 30 blinds. Você também estava indo bem, e eu comecei a sonhar: “e se nós três chegarmos juntos à mesa final?” Ia ser incrível! Mas aí me empolguei e meti uma 4-bet shove depois que você deu uma 3-bet no meu open de UTG.
Chance: Eu só queria garantir a vitória de um de nós dois.
Foxen: E conseguiu muito bem. Quem ganhasse aquela flip ficava gigante no torneio.
Chance: É tudo o que você lembra?
Foxen: Claro que não, mas é uma das mais recentes. Eu costumo lembrar mais das mãos perdidas do que das que ganho — então provavelmente você tem mais lembranças dessas nossas batalhas.
Chance: (risos)
Foxen: Teve outra memorável na Austrália. Um torneio de $1.600 ou $2.000, algo assim. Estávamos jogando num canto, nem era no salão principal. Espera... você ganhou aquele torneio, né?
Chance: Sim.

Foxen: Verdade! Agora lembro. Que engraçado. Talvez a gente tenha descoberto como manipular a realidade dos torneios.
Chance: Brincadeiras à parte, tive uma sorte absurda contra você nos primeiros cinco anos — nos all-ins e até na forma como o baralho caía. Mas nos últimos três, você tem se vingado com força.
Foxen: Total. Teve uma época em que eu simplesmente não conseguia ganhar uma mão contra você. E não era por falta de esforço!
Chance: Então conta os detalhes daquela mão na Austrália!
Foxen: Eu não lembrava direito. Talvez você possa refrescar minha memória. Só lembro que a Chrissy (minha esposa) estava na mesa ao lado e veio assistir — e ficou em choque com o que a gente estava fazendo.
Chance: Era a última mão antes do intervalo. Eu dei 3-bet com KQo. Você deu cold 4-bet com ATo. Eu pensei... começou o break... a Chrissy se aproximou... e eu meti o all-in. Você tinha uns 65-70 blinds. Pensou um pouco... e pagou! Acho que fiz full house.
Foxen: Sim, eu estava morto já no flop. Passei de “Sim! Meu call maluco funcionou!” pra “Ok, direto pro caixa” em dois segundos.
Chance: E a cara da Chrissy vendo aquilo!
Foxen: É, a reação dela foi a parte que ficou mais viva na minha memória. (risos)
Chance: Me fala da sua experiência nos Triton. São torneios caros, com fields fortíssimos. O que achou?
Foxen: Os Triton são exatamente o que eu sempre imaginei que o high stakes poker deveria ser. É uma sensação de prestígio absurda. Organização impecável, os melhores jogadores do mundo, e também os recreativos mais ricos e apaixonados pelo jogo. Tudo é pensado nos mínimos detalhes. Foi uma experiência incrível, e claro, ter tido bons resultados ajuda na avaliação. É difícil jogar lá, mas pra mim é um prazer imenso, porque eu amo competir com os melhores. Enfrentar e vencer esses caras é o que há de mais divertido no poker.
Foxen: A Triton é a essência do high stakes. Somos sortudos por essa série existir. Não sei quanto tempo ainda vai durar, mas nunca houve nada igual antes.

Chance: Já que você mesmo tocou no assunto... o poker te deu muita coisa, inclusive uma esposa maravilhosa. Fala um pouco sobre a Chrissy!
Foxen: Sim, eu sou um cara incrivelmente sortudo — e definitivamente não é só porque ganho all-ins. Talvez o mais sortudo do planeta, pra ser sincero. Eu realmente acho isso. Tenho medo de soar bobo ou exagerado, mas graças à Chrissy eu dei um salto enorme como pessoa e como jogador. Fisicamente, emocionalmente, psicologicamente... o impacto dela é impossível de medir. Ela é um ser humano especial, incrível, e digo isso com o máximo de objetividade possível em uma situação dessas. Sou infinitamente grato a ela por tudo. É uma mulher trabalhadora, empática, inteligente, divertida, amorosa... Se eu bustar de todos os torneios do futuro sem ITM algum, ainda assim vou me considerar o homem mais sortudo do mundo.
Eu avisei que a resposta ia soar meio boba — mas é a pura verdade.

Chance: Pra encerrar, conta pra gente quais são seus objetivos atuais no poker.
Foxen: Como já falei antes, eu valorizo muito a longevidade. Qualquer um pode ter um ou dois anos incríveis, mas se manter entre os melhores por décadas — isso é o auge. Quando o sucesso se repete, não dá mais pra dizer que é sorte.
Mas também tenho metas fora do poker. Quero ter filhos, talvez fazer uma pausa por um tempo, não grindar todos os torneios. Me dedicar mais ao coaching por um período. Eu realmente gosto de ensinar! Poder dar a outros a chance de sentir a mesma alegria que o poker me proporciona — e ver isso transformar a vida de alguém — é uma sensação indescritível.
O poker, pra mim, é um excelente campo para o autodesenvolvimento. Ele te coloca frente a frente com as emoções mais difíceis, com as falhas da sua própria visão de mundo, com a complexidade da mente humana... O poker te testa em todos os aspectos. E quanto mais você entende o jogo tecnicamente, mais profundos se tornam os aprendizados que ele oferece.
Eu adoro dar aulas. Individuais, em grupo, tanto faz — acho que no fundo eu simplesmente amo falar sobre o jogo!
Chance: Concordo. A sensação que um professor tem ao ver seus alunos conquistando sucesso é algo único. É realmente especial.
Foxen: Pois é. E me pegando no clima filosófico — acho que o nosso propósito na Terra, ou pelo menos o meu, é servir aos outros. Não necessariamente construindo casas ou algo assim, mas ajudando as pessoas a se tornarem melhores em alguma coisa. Isso é importante por si só e traz uma alegria imensa, quase inigualável.
E antes que alguém pergunte: “Mas e todos aqueles que perdem dinheiro jogando poker?” — o que eu mais gosto é que, na maioria dos casos, quem perde dinheiro no poker pode se dar ao luxo de perder. Claro que há exceções, mas na maior parte do tempo é assim. E se olharmos pra todas as vidas que o poker transformou, a maioria dessas mudanças foi pra melhor. No fim das contas, o poker é, de certa forma, um dos melhores mecanismos de redistribuição de riqueza que existem.