— Olá a todos! Hoje temos aqui Roberto Perez, o melhor jogador de cash games, não só da Espanha, mas do mundo inteiro.
DavyJones: Como vai, Miguel?
— A última vez que conversamos foi há quatro anos, e desde então você se tornou uma figura muito mais pública.
DavyJones: Lembro daquela entrevista! Na época, eu tinha acabado de me mudar para o México. Sim, é verdade que hoje sou mais ativo nas redes sociais e apareço mais nas notícias. Mas não foi algo que eu tenha buscado ativamente, só que comecei a jogar mais torneios — e isso naturalmente torna sua vida mais pública: cravadas, deep runs, esse tipo de coisa. Mas, para ser sincero, nos últimos anos minha relação com o poker ficou menos obsessiva do que na juventude. Antes, eu era completamente vidrado, agora levo a carreira com mais leveza e passei a dar mais atenção a outras áreas da vida: relacionamentos, esportes, descanso, alimentação. Até fui morar junto com minha namorada!

— Ah, antes da nossa ligação, você me escreveu: "Vou dar uma caminhada e já volto". Aliás, você está com uma ótima aparência!
DavyJones: Obrigado! No México, é muito prático dar uma caminhada, não precisa nem se vestir direito. Você sai do jeito que está em casa. Além disso, é sempre ensolarado, dá vontade de viver e se movimentar. Na Inglaterra, por exemplo, eu acordava às 10h30, nunca antes disso. Aqui, pulo da cama às 9h.
— Então você gosta do México, entendi! Sente como se estivesse em férias permanentes? Ou depois de um tempo você se acostuma com as palmeiras e o sol?
DavyJones: Acostuma, se você morar aqui por muito tempo. Mas eu estou sempre viajando. Quando fico na Europa por um tempo, começo a sentir saudades da minha nova casa. Mas, na verdade, faço coisas diferentes em cada país. No México, é só grind e descanso. Já quando vou para a Inglaterra, resolvo assuntos pendentes: gravo conteúdos de treinamento, dou aulas, estudo bastante poker. E, claro, encontro minha família. Não são só amigos que tenho lá, meu irmão também está na Inglaterra.
— Dizem que os melhores jogadores vêm de países frios!
DavyJones: Concordo. As pessoas que vivem em climas quentes tendem a levar a vida com mais tranquilidade. Não há uma cultura de trabalho e acúmulo de riquezas tão forte, nem grandes preocupações com o futuro. Poucos se preocupam com o que será deles aos 60 anos, as pessoas vivem o presente.
— E isso é bom, né? Sabe, eu penso muito que, em algum universo paralelo, existe um Miguel que trabalha em um escritório. E agora ele está mexendo em papéis, em vez de estar aqui conversando com você. Ele não tem uma vida dos sonhos como eu, apenas trabalha todo dia porque "tem que ser assim" — meu pai, por exemplo, ainda vive desse jeito, mesmo aos 65 anos.
DavyJones: Nossa geração tem uma visão muito diferente, muito mais possibilidades. Nossos pais simplesmente trabalhavam, porque não havia muitas alternativas. Mas, para nós, a internet e as redes sociais mostraram um mundo de oportunidades. Se eu não fosse jogador de poker, com certeza encontraria outra coisa para fazer. Não ficaria entediado.
— Pessoal, calma, já vamos falar de poker. Mas, antes, quero conversar um pouco sobre sua vida pessoal. Quero que as pessoas vejam você como um ser humano, não só como uma superestrela do poker. Porque você não é apenas um excelente jogador, mas também uma celebridade, uma lenda no nível do Barão. E, ao mesmo tempo, um cara comum, parecido com qualquer um de nós.
DavyJones: Obrigado pelas palavras gentis. Acho que vale dizer que o caminho até o topo é uma escalada, não um salto. Ninguém vai do NL50 direto para o NL20K. E não acho que tenha mudado como pessoa nesse percurso. Quando jogava NL200, eu já era o mesmo cara que sou agora. Meus valores, ideias e princípios continuam os mesmos. Só que esse caminho foi algo que ninguém acompanhou. As pessoas só passaram a me conhecer quando cheguei aos high stakes.
— Mas você entende que é um ídolo para outros jogadores?
DavyJones: Ah, para com isso! Isso é exagero. O poker é um mundo pequeno (ainda mais os cash games). Não gosto muito dessas conversas sobre estrelato, me sinto desconfortável. Às vezes, alguém me reconhece no cassino e pede para tirar foto, e eu não sei nem como reagir. Eu sei que as pessoas me veem como um dos melhores, mas o que me dá orgulho não é a fama, e sim o trabalho duro que coloquei nisso. E, principalmente, o fato de ter feito tudo isso aproveitando a jornada, sem perder minha essência ou sacrificar tudo pelo poker.
- Aumento do bônus de primeiro depósito
- Aumento de rakeback e em bônus
- Ajuda com depósitos e saques
- Acesso a freerolls exclusivos
- Suporte 24 horas por dia, 7 dias por semana
— Ok, então vamos falar de poker. Já sinto que tem gente ficando impaciente porque ainda não demos nenhuma dica sobre como bater NL25. Como é um dia típico de trabalho seu quando está em Londres?
DavyJones: Acordo, dou uma caminhada, tomo muito café (adoro café) e então começo a trabalhar. Primeiro, analiso minhas mãos, depois me preparo para as sessões de treinamento. Dou muitas aulas, tenho um grupo de estudo com pessoas próximas. Sempre tento ajudar meus amigos. Se posso melhorar um pouco a vida deles ou até só alegrar o dia de alguém, faço isso.
DavyJones: Uma boa parte do dia é dedicada à preparação e às aulas. Mas não é só altruísmo, ensinar também me ajuda a crescer como jogador. Depois das aulas, eu jogo. Não sou fã de sessões longas, normalmente fico de uma hora e meia a duas horas e meia jogando.
— Mesmo se a mesa estiver muito boa?
DavyJones: Sim. Se a mesa estiver excepcional, posso fechar as outras e me concentrar só nela, fazendo algo paralelo, como responder mensagens ou comentar alguma mão no Discord. Mas, no geral, prefiro sessões curtas e voltar a jogar depois de um descanso. O resto do tempo de trabalho é para revisar mãos jogadas. Antes eu morava com outros jogadores, então sempre discutíamos mãos de maneira informal. Agora, como moro com minha namorada, faço mais análises por conta própria.
Meu dia de trabalho costuma terminar por volta das 18h. Depois disso, descanso. Ultimamente, minha paixão tem sido o padel. Adoro esse jogo, não tanto pelo esporte em si, mas porque gosto muito do processo. Então, à noite, estou sempre na quadra. E, mais tarde, faço algo mais tranquilo para relaxar.

— Você não joga à noite?
DavyJones: Nunca. Depois do jantar, nada de poker.
— Uau! Mas à noite os fields são melhores!
DavyJones: Por isso eu jogo principalmente no México, onde a noite na Europa já é o fim da tarde para mim. Quando estou na Inglaterra, simplesmente abro mão dessas "horas mágicas". Para ser sincero, jogar à noite não funciona para mim. No poker, preciso de total concentração. Meu jogo é puramente focado na qualidade, baseado em detalhes e nuances sutis. Isso faz com que meu A-game seja muito forte, mas meu B-game nem tanto. Por isso, nem longas sessões, nem horários desconfortáveis funcionam para mim. Qual o sentido de me forçar a jogar até tarde se amanhã o poker ainda estará lá? Prefiro descansar e voltar depois.
— Quantas mesas você joga ao mesmo tempo?
DavyJones: Depende do número de jogadores em cada mesa. Se for 3-max, não abro mais de três, senão perco a concentração. Em 4-max e 5-max, posso jogar até cinco mesas. Mas seis, definitivamente não.

— E você também aconselha seus alunos a não jogarem muitas mesas ao mesmo tempo?
DavyJones: Sempre digo a mesma coisa sobre isso. Jogar um volume grande sem EV positivo não faz sentido. Primeiro, você precisa aprender a ganhar de forma consistente. O mesmo vale para uma downswings: se alguém está passando por uma fase ruim, meu primeiro conselho é reduzir o número de mesas. Quando você está estressado (e uma downswing inevitavelmente causa estresse), seu cérebro tem mais dificuldade para encontrar as melhores jogadas, ele funciona de maneira mais lenta.
No geral, sempre recomendo paciência. Essa é uma das principais características do meu jogo: tentar enxergar e levar em conta cada pequeno detalhe. Por isso, uso muito o time bank, ele é essencial para mim. Se você assistir a qualquer uma das minhas sessões, verá que estou sempre usando o tempo até o limite, tomando decisões nos últimos segundos. Mas esse é o meu método. Se seu B-game não for tão inferior ao seu A-game quanto a minha, pode fazer sentido jogar um volume maior. Mas para mim, não funciona.
— Conheço jogadores que jogam diferentes modalidades ao mesmo tempo. Aqui ele tem uma mesa de PLO, ali uma de Hold’em, e do lado está rodando um Spin & Go…
DavyJones: Depende dos objetivos. Se o foco for volume e você quiser ganhar uma determinada quantia em um certo período, tudo bem. Ative o modo grind, sacrifique o winrate e jogue o máximo possível. Mas se seu objetivo for subir de limites, eu recomendaria focar no estudo e na aplicação do conhecimento nas mesas. A cada nível que você sobe, os oponentes ficam mais fortes, então você precisa de uma margem de winrate para suportar essa transição. Se você chega com 5bb/100 no limite anterior e no novo bate 1,5bb/100, tudo bem. Agora, se já chega só com 1,5bb/100…
— Exato, é uma questão de foco. Se você joga NL10, claramente não deve grindar fast tables, porque não vai ganhar nada ali. Melhor jogar menos volume, aprender nos jogos normais e subir logo para NL25.
DavyJones: Exatamente. O principal objetivo de qualquer jogador de limites baixos deve ser sair deles o mais rápido possível (até por conta do rake). E o caminho para isso é focar no aprendizado, não no volume. Mas, claro, estou falando de jogadores que já passaram da fase inicial. Se você ainda está começando, jogar muito também ajuda a aprender. Você vai ver com que mãos as pessoas chegam ao showdown, onde deixam de blefar, e assim por diante. Mas nos limites mais altos, isso já não é suficiente.
— Como você lida com o estresse? Tanto nas mesas quanto por jogar sob os holofotes, como uma estrela?
DavyJones: Para começar, eu sou naturalmente calmo, sempre fui assim. Não é fácil me tirar do sério. Mesmo jogando nos high stakes, sinto muito mais prazer do que estresse ou negatividade. Claro que os números na tela às vezes são enormes, mas mesmo quando o jogo está muito caro e variância alta, eu simplesmente vendo uma parte maior da ação e pronto. Mesmo que a mesa esteja ótima, prefiro estar tranquilo. E o fator mais importante para esse conforto é um bankroll sólido, do qual nunca arrisco uma parte significativa.
Quanto à atenção do público, isso não me incomoda nem um pouco. Já tenho muito conhecimento acumulado e sempre sei exatamente o que estou fazendo nas mesas e por quê. Não preciso provar nada para ninguém. Ao mesmo tempo, também sei que erro todos os dias. Em qualquer sessão, sempre vai ter uma mão onde eu cometi um erro. E aceito isso de forma tranquila. O importante é nunca parar de aprender. Se percebo que estou repetindo o mesmo erro várias vezes, faço questão de corrigi-lo. Digo a mim mesmo: "Roberto, contra esses jogadores, esse erro não pode acontecer."
Falando nos jogadores... Nos últimos anos, o WPN tem tido batalhas absurdas nos NL20K entre os top regs. Acho que nunca houve algo parecido na história do poker online: dez dos melhores jogadores do mundo se enfrentando diariamente em reg wars puros. Você abre a mesa de manhã e lá estão as mesmas caras conhecidas: Linus, Nacho, os russos... e a batalha começa! E o mais louco é que nem dava para assistir às mesas pelo lobby, então a gente jogava mais relaxado.

— Sim, praticamente nada dessas batalhas foi parar no lendário canal do YouTube bCp poker replays.
DavyJones: Pois é, e olha que o conteúdo seria incrível. Só imagine: os top regs jogando uns contra os outros por anos, todo dia. Isso é diversão pura.
— Parece que você encara isso como um videogame.
DavyJones: Com certeza. Eu adoro a competição e amo o poker em si. O dinheiro vem depois, o que realmente me motiva são as reg wars. O mais prazeroso é procurar pequenas brechas, forçar o máximo da minha capacidade a cada segundo, criar contramedidas, notar como o jogo dos oponentes evolui. E ele realmente muda: há poucos meses, um cara era bem explorável, você o destruía, e de repente ele aparece com um novo conhecimento e se torna um dos adversários mais perigosos.
— Com que frequência você joga?
DavyJones: Normalmente seis dias por semana, de segunda a sábado. Domingo é meu dia de folga. Às vezes, também tiro o sábado, se tiver outros planos.
— Entendido! Agora vamos falar sobre os jogos que todo o mundo acompanhou — o campeonato no CoinPoker. Para os jogadores recreativos, foram dezenas de horas de conteúdo incrível. O que você pode dizer sobre o CoinPoker?
DavyJones: Para ser sincero, não posso dizer muita coisa. Antes do campeonato, eu nem tinha conta lá. Tudo começou quando o GGPoker fechou as mesas de high stakes e as tornou privadas. O tráfego, claro, despencou, e os high rollers começaram a discutir no Discord o que fazer e onde jogar.
— Eu realmente não entendo por que o GG tomou essa decisão. Acredito que os responsáveis sabiam o que estavam fazendo, mas não consigo ver o sentido. Cerca de 70% de toda a ação nos limites altos estava nas mãos deles.
DavyJones: Também não sei como isso aconteceu. O GG praticamente tinha um monopólio, e de repente tomou essa atitude drástica. Talvez esperassem um efeito positivo, mas, até agora, não aconteceu. No fim, o que conseguiram foi empurrar todos os jogadores para outras salas. E o CoinPoker soube aproveitar a oportunidade rapidamente. Eles logo entraram em contato com os jogadores, perguntaram quem estava disposto a participar e como organizar tudo da melhor maneira. Muita gente topou de imediato. Entre as primeiras conversas e o início do campeonato, passou apenas um mês.
E que campeonato foi esse! Um verdadeiro sonho. Para mim, foi mais empolgante do que qualquer WSOP ou Triton. De 5 a 6 mesas de NL10K sem rake, rodando 24 horas por dia, 7 dias por semana — simplesmente incrível. Se você ama poker e competição, não há nada mais épico. Foi um marco para o poker em geral e para o cash game em particular. Os organizadores merecem elogios. Eles estavam sempre em contato conosco, perguntando nossas opiniões e ouvindo sugestões. A única coisa que faltou um pouco foi mais atenção da mídia, uma repercussão maior nas redes sociais. Infelizmente, os torneios ainda geram muito mais interesse do que o cash game.
Eu mesmo, na verdade, não consegui jogar tanto quanto gostaria no campeonato. Ele foi organizado muito rápido, e eu já tinha outros planos para aquele período. Fui com minha namorada para a Argentina conhecer a família dela. Então, participei dentro do possível, apenas para fazer parte desse evento histórico. Mas, se pudesse, teria jogado quatro vezes mais mãos. Espero que o CoinPoker realize outro evento como esse — e, dessa vez, vou me dedicar ao máximo.

— Então você escolheu sua namorada em vez de uma grande sessão de poker. Bom para você!
DavyJones: Haverá outras grandes sessões. O poker continua batendo recordes, sempre tem algo interessante acontecendo. Se não for o WSOP, é o WPT ou o Triton. Ou uma enorme série online. Ou, de repente, aparece ação no NL40K. Sempre há novidades. O poker segue crescendo e atraindo pessoas. E, desde que os reguladores não dificultem demais, novas oportunidades vão continuar surgindo. O CoinPoker conseguiu organizar algo incrível, o que significa que no futuro podemos esperar algo ainda maior.
— Recentemente, conversei com um regular sobre o circuito Triton e sobre Paul Phua. Algumas pessoas acham que ele só faz isso pelo dinheiro, mas isso é um absurdo. Você tem ideia de quanto dinheiro o Paul Phua tem? Ele investe na série porque ama poker e quer criar algo grandioso. São pessoas como ele que impulsionam a indústria.
DavyJones: Concordo completamente. Hoje em dia, em qualquer setor, é raro ver pessoas realmente comprometidas em oferecer um serviço de alto nível. Algo que realmente valha o dinheiro que está sendo cobrado. No mundo ideal, quem faz uma compra deveria ficar tão satisfeito quanto quem realiza a venda. Mas as salas de poker parecem estar indo na direção errada. A única preocupação dos administradores é maximizar os lucros imediatamente, em vez de criar um ambiente saudável tanto para profissionais quanto para recreativos.
— Acho que muito disso tem a ver com o nível de envolvimento do CEO. O que acontece hoje é que uma empresa cresce, abre capital e contrata um gestor focado apenas no crescimento do negócio. E isso faz sentido, porque os acionistas querem resultados financeiros. Mas, inevitavelmente, algo importante se perde nesse processo. Você não pode mais implementar uma ideia que não seja super lucrativa, mas que faria os clientes mais felizes. O Galfond tentou criar uma sala de poker com essa mentalidade no passado. Quem sabe agora o CoinPoker tenha essa chance. Se eles continuarem acertando, podem pressionar o mercado a evoluir — inclusive o GG.
DavyJones: Exatamente. Seria ótimo ver mais concorrência forçando mudanças positivas. Sucesso para o CoinPoker!
— E sobre a mídia no poker, você mesmo poderia ajudar nisso! Já pensou em começar a streamar?
DavyJones: Ah, não, não! Isso não é para mim. [risos]

— Mudando de assunto... O que você acha do Stefan? Ele, assim como você, é uma verdadeira lenda. Ele me lembra um vilão de Batman, mas no bom sentido. Lembro quando ele fez o Tutti trocar o avatar no PokerStars, como se fossem personagens de John Wick ou algo assim. Enfim, ele é um cara interessante! O que você tem a dizer sobre ele?
DavyJones: Você ouviu falar que ele foi roubado? Li sobre isso no GipsyTeam. A história toda parece uma novela.
— Parece que ele acusou a ex-namorada, não foi?
DavyJones: Sim, mas, no final, parece que ela não tinha culpa. De qualquer forma, ele perdeu 3 milhões de dólares.
— Meu Deus...
DavyJones: Por isso acho que não faz muito sentido falar sobre a carreira dele neste momento. Imagine se algo assim acontecesse comigo ou com você. Quanto tempo levaríamos para nos recuperar?
— E antes disso?
DavyJones: Antes, eu lembrava dele como um jogador com uma capacidade incrível de adaptação. Não vi sua ascensão aos high stakes, porque, quando cheguei, ele já dominava por lá. Seu estilo de jogo tirava os oponentes da zona de conforto, fazia com que pensassem demais e tornava cada mão única. O Stefan mostrou ao mundo do poker que sempre há espaço para manobra e para encontrar soluções inesperadas.
Mas o problema é que o estilo dele foi moldado para aquele período específico. Cinco anos atrás, o nível técnico médio dos jogadores era muito mais baixo. Hoje, os regs estão muito mais bem preparados. Na época, os solvers já estavam sendo usados, mas não no nível atual. O jogo era bem mais solto, e ele se destacava nesse ambiente.
Hoje, esse estilo já não funciona tão bem. Os regs de NL500 e NL1K já têm um conhecimento teórico muito mais sólido. Eles simplesmente têm mais ferramentas para enfrentar um jogador como o Stefan. O "freestyle" lendário dele deixou de ser uma arma imbatível.
— Mas ele com certeza tem carisma.
DavyJones: Sem dúvida. Jogadores de cash games costumam ser mais discretos, reservados. E então aparece um cara que te provoca no chat, sempre no limite da provocação. Isso é divertido e interessante. Ele quebrou a imagem tradicional do top reg.
— E sobre as novas estrelas? O jogo mudou muito nos últimos anos. Há quatro anos, achávamos que já entendíamos a estratégia profundamente, mas, se olhar para trás, nem sabíamos liderar direito no flop. Nem quando fazer uma c-bet sem usar o sizing de um terço do pote. Agora, a nova geração entende muito melhor a teoria, mas parece que falta algo que os jogadores da velha escola tinham. Habilidades que um solver não ensina: resiliência mental, criatividade, capacidade de adaptação. Eles são ótimos no GTO, mas carecem de flexibilidade e instinto. Você sente isso também?
DavyJones: Excelente pergunta. No meu tempo, ter uma base teórica sólida no NL500 e NL1K gerava um EV muito maior do que hoje. Os jogadores cometiam erros graves, e só isso já fazia com que você lucrasse. Agora, vejo muito menos leaks. Então, jogar de forma explorativa nunca foi tão importante.
Ok, todos têm uma base teórica, mas cada um joga de forma diferente. Alguns deixam de blefar em certos spots, mas exageram em outros. Alguns defendem bem sua equidade em uma street, mas falham em outra.
Então, por um lado, conhecer a teoria é essencial. Por outro, há muito espaço para explorar as fraquezas específicas dos adversários. Muitas vezes falamos de exploração em termos genéricos, como "esse jogador dá muito check-raise" ou "esse cara dá pouco check-raise". Mas isso é muito subjetivo. Você realmente sabe qual deveria ser a frequência ideal de check-raise naquela situação?
Os erros do field hoje custam menos do que antes, mas, ao mesmo tempo, sabemos muito mais. Ainda há espaço para vencer os jogadores menos preparados.
— Que conselho você daria para alguém que quer chegar aos high stakes hoje?
DavyJones: Primeiro, uma base teórica muito sólida. Sem isso, nem adianta tentar. Segundo, autoconhecimento. Um dos meus maiores pontos fortes é que sei exatamente em que situações me sinto confortável e em quais não. Por exemplo, sei qual porcentagem do meu bankroll estou disposto a arriscar em determinado momento. Você precisa construir sua carreira de forma que cada passo para frente não represente um risco de dar dois passos para trás.
Sobre reg wars, acho que elas devem fazer parte da rotina de qualquer jogador sério. Mas só jogue quando estiver no seu melhor estado mental, focado e preparado. Jogue apenas os limites onde se sente confortável, onde pode se concentrar na ação sem se preocupar excessivamente com o dinheiro.
Quando falo isso, algumas pessoas me zoam. "Ah, beleza, Roberto, então amanhã vou abrir seis mesas contra os melhores do meu limite". Não, claro que não. Você também precisa escolher bem as reg wars. Mas seu objetivo deve ser se sentir confortável nelas. Saber gerar EV e entender exatamente de onde ele vem. Afinal, sempre há um lugar na mesa para um recreativo, certo?
— Desde o início, você sabia que queria chegar aos high stakes? Era um objetivo claro?
DavyJones: Sempre pensei no longo prazo. Nunca tentei "ganhar o máximo em um ano", porque isso exigiria uma abordagem totalmente diferente. Meu foco sempre foi entender como alcançar o próximo nível. Não importa o que acontece em seis meses — o importante é onde você estará em três anos. A carreira no poker é um projeto de longo prazo.
— Você mencionou o Linus. Pode citar os cinco ou dez melhores jogadores de cash games do mundo hoje?
DavyJones: Linus sempre será o número um. Uma lenda, um gigante, máximo respeito. Ja.sam.gale certamente está no top 10. Kevin Paque é muito forte, apesar da variância tê-lo castigado no NL20K. Taisto Ylitalo. Markkos Ladev. FourSixFour (Darrell Goh), Tobias Duthweiler. O italiano EnfantProdige do PokerStars — parece que ele treina com o Linus. Dos americanos, SeaLlama. Owen Messere, que ganhou o campeonato, também merece estar na lista. E, nos últimos anos, meu nome tem aparecido nessas listas com frequência.
— Com certeza. O que te motiva a continuar jogando?
DavyJones: Quero continuar competitivo no nível mais alto. Além disso, sempre há algo para melhorar. Quanto mais você aprende, mais percebe a profundidade do jogo. Assisti às transmissões do campeonato no CoinPoker e fiz várias anotações. Bastava assistir um pouco e já tinha pelo menos dez observações importantes.
Às vezes, ainda surgem jogos super caros com recreativos, o que também motiva. No ano passado, joguei bastante NL40K. Além disso, os torneios reacenderam minha paixão pelo poker. E ensinar também me mantém alerta. Então, definitivamente, não pretendo parar tão cedo. O poker continua desafiador e prazeroso. Amo esse jogo.

— O filósofo espanhol Ernesto Castro diz que o prazer no processo é a maior motivação que alguém pode ter. Quando você gosta do que faz, fica mais focado e não quer se distrair. Como resultado, melhora suas habilidades e sente ainda mais satisfação.
DavyJones: Com certeza! Quando você faz algo que ama, até os desafios se tornam prazerosos. Às vezes perco um buy-in e dou risada porque a mão foi engraçada. Acho que esse é o segredo para uma carreira de sucesso no poker: aproveitar o jogo sem se prender ao dinheiro.
— Ótimas palavras. Agora, algo prático para encerrar: alguém está preso no NL50 ou NL100, mas quer jogar NL500. Qual o melhor conselho?
DavyJones: As pessoas subestimam o valor de investir em aprendizado. Digamos que você joga NL100 e tem um bankroll de $10.000. Você pensa: "Como vou gastar 20 buy-ins do meu limite em um treinador?" O mais difícil nessa fase é superar esse medo e entender que esse investimento trará um retorno muito maior no futuro.
Analise seu jogo minuciosamente. Nunca entre no piloto automático. O problema de muitos jogadores é que jogam mãos sem EV positivo. Se você aumentar seu winrate e ganhar confiança, esse pode ser o momento decisivo que definirá sua carreira.
— Melhor impossível. Obrigado, DavyJones! Feliz Ano Novo!
DavyJones: Para você também! Espero que algo do que falei seja útil para os ouvintes. Amem o poker e aproveitem a vida. No fim das contas, o mais importante é curtir a jornada.