No mês passado, 22 de novembro, a morte de uma das maiores lendas do poker completou 24 anos. Sua biografia foi publicada na New York Magazine e nós trouxemos essa história incrível para vocês.

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Em parte, sem dúvida, Romano via um futuro garantido com Stuey. Logo, ele providenciou para que Stuey apertasse a mão de Gus Frasca, o capitão da máfia de Romano. O nome de Stuey estava marcado: ele pertencia a Romano. Para Stuey, essa cerimônia oficial deve ter sido uma honra. Disse um amigo: “Se você fosse um gângster, Stuey o amaria”. Ele memorizou os filmes da máfia. Às vezes, ele era chamado de Meyer, em homenagem a Meyer Lansky, o gângster judeu. “Ele adorava”, diz Price. A afiliação também deve ter parecido prática para Stuey. Afinal, ele às vezes contraía dívidas com agenciadores de apostas, como se seu grande talento ou as feições infantis oferecessem imunidade especial. Romano espalhou a notícia: qualquer pessoa a quem Stuey devesse dinheiro deveria falar com Romano, ou o sobrinho de Romano, Phillie Brush Tartaglia, cuja reputação de lutador de rua brutal estava bem estabelecida. Muitos não vieram.

Um agenciador de apostas de Nova York, um velho judeu rabugento a quem Stuey devia $28.000, explicou: “Stuey me disse: 'Um dia eu pago'. Ele era intocável. Não havia nada que eu pudesse fazer”.

O que valeu para alguns credores, porém, não valeu para todos. Em um fim de semana, Stuey se enrolou com Funzi Tieri, o chefe da família Genovese.

No domingo, Stuey ligou para Price.

“Temos que ir para a Califórnia amanhã”, disse Stuey.

"Temos algo para fazer?", disse Price.

“Não, perdi $60.000 no fim de semana e não tenho dinheiro.” Stuey estava com medo de que eles o matassem. Da Califórnia, ligou para Romano, que interveio. Stuey não se machucaria, desde que fosse para Las Vegas, ganhasse dinheiro e pagasse a dívida — um negócio que adiantou perfeitamente nos planos de Romano.

A notícia da partida de Stuey chegou ao East River Housing Development, Agora, dizia-se que Tartaglia estava levando Stuey para Las Vegas. “Todo mundo achou ótimo”, contou Allan Dell sentado na delicatessen de Katz. “Ele era um cara que poderia ganhar dinheiro fácil.”

Nos anos setenta, Las Vegas era um destino de apostadores, uma cidade deserta onde viviam apenas 150.000 pessoas. Os cassinos eram opulentos. Estavam presentes artistas, estrelas de Hollywood, Frank e Dino, e a máfia também, de terno e gravata, entre eles Tony “the Ant” Spilotro. "Você ouviu falar dele?", Stuey mais tarde perguntaria com entusiasmo. “O cara do filme Casino, que Joe Pesci supostamente interpretou.”

Poucos já tinham visto alguém como ele, aquele nova-iorquino baixinho com um queixo quase sem pelos — como se ele realmente fosse uma criança — e a postura de um gângster italiano. “Ele sempre se sentiu um figurão”, diria sua sogra mais tarde. Ele entrou na sala de poker do Dunes, onde rapidamente encontrou um lar, falando a mil por hora sobre Nova York. Todos riram daquela figura esquisita e empolgada… até o jogo começar.

Danny Robison era o melhor jogador de gin de Las Vegas em 1977, quando conheceu Stuey, de 22 anos. “Ele sabia algo que ninguém mais sabia. Era como um sexto sentido”, disse Robison, que perdeu $100.000 no primeiro encontro. Stuey, raramente humilde, logo disse a um amigo de Las Vegas: “Pense daqui a 50 anos. Haverá um melhor jogador de gin? Não consigo nem conceber isso. Robison, porém, concordou: “Stuey foi simplesmente o maior jogador de gin que já existiu”.

Logo, ele relatou a Madeline, que havia permanecido em Nova York, que mesmo depois de pagar a Tieri, ele tinha $1 milhão em um cofre no Dunes (Stuey perguntou como funcionavam as contas correntes, mas decidiu que elas eram ridículas).

Dunes (hotel and casino) - Wikipedia
O antigo cassino Dunes

Madeline visitou um fim de semana e Stuey a convenceu a se mudar para Las Vegas. Ela ficou noiva de outra pessoa, um advogado, que ofereceu segurança. “Mas era com Stuey que eu realmente me importava”, ela percebeu. Logo eles se casaram e tiveram uma filha. O plano de cidadão-jogador de Romano parecia estar dando certo e, como que para comemorar, em 1980 ele voou para Vegas — Stuey pagou a passagem aérea de primeira classe. Agora com 68 anos e com problemas de saúde, Romano havia sido despejado do Jovialite. Sem Stuey, sem seu clube, ele era uma alma perdida.

Enquanto Romano estava em Las Vegas, Stuey entrou em seu primeiro torneio de poker: $10.000 de buy-in, no-limit hold'em. Era o Main Event da World Series of Poker de 1980. Embora quase nunca tivesse jogado poker sem limites, era seu jogo natural. O elemento estratégico chave é que um jogador pode apostar todas as suas fichas a qualquer momento. “Se você pensar no que o dinheiro pode fazer por você, você se foi”, contou David “Chip” Reese, que parou em Las Vegas a caminho da Stanford Law School e nunca mais saiu. “Foi isso que fez de Stuey um grande jogador de no-limit: ele nunca, nunca, nunca se importou com o dinheiro”.

O prêmio em dinheiro naquele ano foi de $365.000 e um bracelete de ouro de Neiman Marcus, que Stuey, na época o campeão mais jovem da história do torneio, deu a Tartaglia. “Ganhar o torneio foi a melhor sensação do mundo”, disse Stuey na época.

Stu enfrentou Doyle Brunson no heads-up

Romano também deve ter ficado satisfeito, todos disseram que a viagem valeu a pena, embora ele tenha morrido quatro dias depois em Las Vegas. Stuey, profundamente triste, comprou um caixão de bronze e voou para o leste para o funeral. Em Nova York, como se estivesse se despedindo de Romano, visitou as poucas casas de cartas que restavam — a maioria, já dava lugar a Atlantic City. “Fiz bem, não foi?”, é o que ele diria a todos. “Eu realmente mostrei a eles.”

No início dos anos 80, “Stuey era o Sr. Las Vegas”, disse Price, que havia se mudado para a cidade. A rotina de Stuey em Las Vegas era a mesma que em Nova York, apenas mais sofisticada e também, é claro, legítima. Nos cassinos, os turistas corriam tropeçando nos corredores das máquinas caça-níqueis apenas para apertar sua mão. Ele apareceu no The Merv Griffin Show, brigando com Merv por causa de pacotes de dinheiro. Para quem estava de fora, Stuey gostava de explicar sua fama em termos de poder de compra. “Sou rico e posso fazer o que quiser”, disse ele a um repórter. Quando Madeline queria uma casa, ela lembra, “ele me disse para ir comprar uma casa. No segundo que olhei, simplesmente me apaixonei. Era uma Tudor inglesa, por $175.000. Para obter a pagamento entrada de $40.000, o corretor de imóveis se espremeu em uma mesa de poker no Dunes. Stuey assinou seu nome e tirou notas de $100 de seu stack. Madeline construiu uma piscina e revestiu as paredes com camurça cor de pêssego. Stuey recusou-se a visitar a casa até que tudo estivesse pronto. Depois de alguns meses, Madeline disse a ele: “Quer ver o que comprou?”

Ele amou a casa. Tudo o que ele acrescentou foram TVs – seis delas -, entre as quais ele corria de roupão, seguindo os jogos em que apostava.

Stuey também deu um belo tapa no visual. Certa vez, Romano o encorajou a se vestir bem. Agora sua esposa colocou camisas Versace e calças boca de sino alteradas para sua cintura de 70 centímetros (para se ter a ideia de quão fino é isso, a ex-modelo Gisele Bundchen, tem hoje essas mesmas medidas). Passou a cortar o cabelo no estilo pageboy e lavava-o semanalmente no salão de beleza Dunes – e, enquanto estava lá, fazia as unhas.

Stu Ungar Gambling Stories

Normalmente, os entrevistadores se perguntavam se tudo isso deixava Stuey feliz. A pergunta parecia confundi-lo. “Sim, eu fico de bom humor”, disse ele a um, depois riu. “Gosto de gastar dinheiro. Pode-se dizer que sou um jovem filantropo”.

A verdade é que Stuey não compartilhava de forma alguma o senso de dinheiro da classe média: algo suado que poderia desaparecer. Em 1981, quando ele superou as probabilidades – seis para um – e sagrou-se novamente como campeão do Main Event da WSOP, ele foi questionado sobre o que faria com a premiação de $375.000 daquele ano. Reflexivamente, ele murmurou: "Vou perder". Solicitado a repetir isso para as câmeras, ele se endireitou, sorriu e disse: “Vou colocar no banco e dar para a minha filha, o que mais?” Então, ele riu incontrolavelmente.

Para Stuey, o dinheiro era apenas uma taxa de entrada para a ação. Felizmente, ele encontrou um bando de jogadores que sentiam o mesmo. “Perdíamos a noção de quão altas eram as apostas”, diz Mickey Appleman, um nova-iorquino com dois mestrados, cujo verdadeiro amor era o jogo. “A ação era o que importava”. Stuey jogaria pingue-pongue por $50.000. Ele apostaria $1.000 no cara ou coroa. As pessoas de seu grupo apostavam em bilhar jogado com cabos de vassoura ou golfe com martelos. “Tenho muita vergonha de contar algumas das coisas em que apostei”, disse Stuey certa vez, acrescentando rapidamente: “mas não sou tão ruim quanto Doyle”. Chip Reese certa vez apostou $50.000 com Doyle Brunson para saber quem poderia perder mais peso. Doyle era bem mais gordo e a aposta era bem injusta para Reese. Bem, Reese ganhou 8 kg e Doyle ganhou o dinheiro facilmente. Uma vez, Stuey ganhou $10.000 do dono do cassino Bob Stupak no poker e, enquanto esperava para ganhar dinheiro, ele devolveu tudo jogando fichas contra a parede — ganhava quem jogava mais perto — em dez minutos. Stupak lembrou-se da reação de Stuey: “Foda-se”.

E depois houve o golfe. Stuey pode ter vindo do Lower East Side, onde o golfe nunca foi jogado, mas em Las Vegas, 20 ou 30 caras iriam para o campo de golfe todas as tardes. Um punhado jogava enquanto um comboio de carroças seguia, apostando na partida.

Stuey não aguentou ficar de fora, então um amigo o levou ao Las Vegas Country Club particular. "Agora observe — esta é a coisa mais importante sobre o golfe", disse ele, e colocou a bola no buraco. Duas horas depois, Stuey havia perdido $80.000 no green (campo de treino).

No golfe, seu nível de habilidade era ridículo, mas ele ainda queria tanto competir que recebia handicap. Ele poderia colocar o tee sob sua bola em qualquer posição do campo. “Estávamos jogando por $40.000”, lembra Reese. “Era o décimo terceiro buraco, Stuey acertou a bola na água e pensei que ele estava morto. Então ele enfia a mão na bolsa e tira uma camiseta de trinta centímetros. Ele tirou os sapatos e as meias e entrou no riacho”.

Na maior parte do tempo, Stuey parecia estar em um estado de alegria quase constante em Las Vegas. Stuey adorava esses jogadores que, como ele, pretendiam ganhar dinheiro, mas dificilmente pareciam interessados em ganhar a vida. Era como se Las Vegas dos anos 80 fosse, finalmente, o lugar onde o pequeno Stuey deveria estar, onde todos deveriam estar, pessoas que abandonaram outras vidas ou, como Stuey, há muito se preparavam para esta. “Era emocionante”, contou Reese. "Era muito divertido." Stuey nunca em sua vida teve um cartão de crédito, nunca usou um computador. Ele andava por aí com milhares de dólares em seus bolsos minúsculos e voltava para casa para encontrar as luzes apagadas, por ter esquecido de pagar a conta de luz. (Como ele se lembraria? Ele raramente abria a correspondência.) "Ele era como um cara saindo da selva", disse Jack Binion, ex-proprietário do Binion's Horseshoe Casino.

Os jogos duravam dias a fio, e Stuey simplesmente ficava na mesa, às vezes cheirando um pouco de cocaína para ficar alerta, embora uma vez Stuey tenha adormecido, seu queixo delicado abrindo caminho por suas fichas, e teve que ser carregado de sua cadeira para seu quarto de hotel a três quarteirões de distância. Todo o seu grupo devia e apostava uns nos outros. Ninguém registrou as dívidas; todos simplesmente se lembravam delas, o dinheiro rodava, e sempre esses caras, que seriam os maiores nomes da história do jogo, estavam na maior ação possível.

“Certa vez, estávamos apenas brincando”, lembrou Appleman, “e um cara disse: 'O que está acontecendo no resto do mundo?' Alguém disse: 'Quem se importa? O paraíso é bem aqui.'"

Em meados dos anos 80, Stuey ganhou milhões de dólares, talvez uns $10 milhões. “Eu o vi ganhar um milhão de dólares algumas vezes”, contou Mike Sexton certa vez. As pessoas se lembravam das vitórias de Stuey porque, sempre, elas levavam a grandes comemorações. Certa vez, depois de ganhar $800.000 no poker, ele contratou uma garota. Ele deu a ela $30.000, diz Arifoglu, acrescentando: "Foi apenas sexo por uma noite, mas ele estava feliz por ter vencido" (Stuey estava separado na época).

A verdade é que Stuey começou a ganhar e perder dinheiro. “Quando não havia muita ação”, explicou Reese, “Stuey tentava criá-la, porque era isso que ele desejava. E a única maneira de criá-la às vezes era levando uma desvantagem. Então ele perdia seu dinheiro. Ele fazia muito isso.”

Uma forma de conseguir ação era apostar em esportes. “É estúpido apostar em esportes”, Stuey sabia, “porque, no final, vai tudo para banca”. Ainda assim, em um fim de semana de Ação de Graças, ele perdeu $1 milhão em apostas de futebol americano, parte disso para Tony “the Ant” Spilotro. Stuey ficou feliz em chamar Spilotro de amigo; mas dever-lhe dinheiro… “Amigos, amigos. Negócios, à parte”. Spilotro seria preso por matar vinte pessoas e, embora fosse absolvido, sua reputação violenta perduraria, especialmente porque, dizia-se, ele espremeu a cabeça de uma vítima em um torno até que seus olhos saltassem. Tartaglia, o protetor de Stuey, não poderia ajudar aqui. Stuey teve que pagar a dívida.

Tony Spilotro sendo preso

Perder deixava Stuey deprimido. “Se você pudesse medir a alegria de ganhar muito dinheiro, em oposição à depressão de quebrar”, disse ele uma vez a Price, “a quebra é muito pior”. Mais tarde, um médico prescreveria lítio, um antidepressivo, mas os amigos de Stuey achavam que sabiam a verdadeira origem de seu problema. “Estar fora de ação”, disse Reese. Deprimido, Stuey dormiu por dias. Ou então, amigos disseram, ele comeu demais.

Eventualmente, Stuey faria uma cirurgia reconstrutiva para consertar uma narina danificada por drogas. Poucas horas depois de sair do hospital, porém, ele voltou a se entregar, danificando seu novo nariz, de acordo com o irmão de Madeline.

No final dos anos 80, Stuey e Madeline terminaram. “A única coisa que se interpôs entre mim e Stuey foram as drogas”, ela diria mais tarde. Em 1989, Madeline e sua filha se mudaram da cidade.

Stuey ainda estava juntando os cacos, mas em meados dos anos 1990, a casa Tudor, com papel de parede de camurça, seu único bem, se foi. Ele a hipotecou para levantar dinheiro para apostar, e logo um amigo que se tornou seu credor executou a hipoteca. Stuey foi morar com Don McNamee, um amigo de um amigo. McNamee já foi rico. “Eu não desperdicei”, disse ele. “Gastei com uísque e mulheres.” Hoje, o uísque foi banido e McNamee é um caminhoneiro. Stuey alugou um quarto na casa alugada de McNamee e obedeceu às regras da casa: sem álcool, sem drogas.

A salvação pessoal está sempre em oferta em Las Vegas; seus termos, no entanto, são restritos. Stuey era praticamente uma criança. Não sabia fazer nada além de jogar. Uma vez, tentando ser útil, Stuey colocou o sabão errado na máquina de lavar louça e a espuma explodiu da máquina. “Ele não sabia passear no parque”, diz McNamee. “Ele nunca teve um emprego.” Ele nem sabia como passar o tempo com a filha. “Ele a amava muito”, disse um amigo, “mas não era capaz de ser pai”.

No Dia de São Patrício de 1997, McNamee, que cozinhava, insistiu que Stuey preparasse o jantar. McNamee queria a tradicional carne enlatada irlandesa.

“Stuey ficou mais chateado com isso do que se apostasse $50.000 em um jogo”, lembrou McNamee.

"O que eu faço? O que eu faço?", Stuey sempre falava rápido.

“Coloque na água e espere”, disse McNamee calmamente.

“Quando eu olho?”

“A cada vinte minutos.”

“Devo olhar agora?”

“Faz apenas cinco minutos.”

"É melhor eu ir ver", disse Stuey.

Quando eles comeram na mesa da cozinha, onde pequenas rosas de pano ficam em vasos de botões, McNamee diz, “ele estava tão empolgado consigo mesmo que comeu tudo”.

McNamee tinha certeza de que Stuey estava no caminho da mudança, como se as poucas “autossuficiências” aprendidas nesse ambiente modesto fossem exatamente o que ele precisava. “Ele estava fazendo por onde e se divertindo”, disse McNamee. “Ele estava saindo da autodestruição, chegando onde a vida faria sentido para ele.”

Em maio de 1997, outra World Series of Poker foi aberta. A foto de Stuey estava na parede do cassino: um jovem com uma jaqueta de cetim dourada e um sorriso brilhante e travesso. Poucos de seus amigos, porém, tinham visto Stuey em alguns anos. Ele não ganhava um torneio há anos. Na verdade, ele teve problemas para pagar a taxa de inscrição de $10.000. “Você acredita nessa quantidade de donkeys jogando”, ele disse a Billy Baxter, que hoje mora em uma enorme casa a poucos passos da de Wayne Newton.

“O segundo e o terceiro melhores jogadores do mundo, todos pareciam ruins para ele”, disse Baxter, que apostou em Stuey. “Que diabos, eu já tinha feito coisas piores com dinheiro.”

Em 1997, Stuey foi o último jogador inscrito no field de 312 pessoas, então o maior da história do torneio. Ele parecia magro com seu cinto apertado. Seus dentes, que estavam tampados, pareciam muito grandes. Sua franja era irregular e salpicada de cinza. Ele usava óculos redondos azuis, que ele acreditava esconderem seu nariz, amassados de um lado, crescendo do outro.

Na mesa, porém, Stuey era o mesmo, desafiando os jogadores a enfrentar suas grandes apostas. “Todo mundo acha que eu tenho o nuts”, disse ele rindo e puxando fichas.

Apenas alguns meses atrás, Stuey pouco podia fazer além de imaginar um grande prêmio. Seu amigo Sexton o provocava. “Você jogaria roleta russa por um milhão de dólares?”, “Com cinco balas”, foi a resposta gritada de Stuey. Agora, sem arriscar a vida, o prêmio de um milhão de dólares estava empilhado à sua frente como um forte de criança.

Stu com o prêmio de 1.000.000 em 1997

Stuey saiu da casa de McNamee e alugou seu próprio apartamento. Ele se dirigiu ao Departamento de Veículos Motorizados para renovar sua licença — ele não dirigia há anos. Disseram que precisava da identidade, ele gritou: “Você não viu os jornais? Sou Stuey Ungar”. Era possível acreditar, como Baxter acreditou (por cavalar Stuey, ele recebeu $500.000, seu maior prêmio de todos os tempos).

O prêmio de um milhão de dólares de Stuey veio vinte anos depois que ele chegou a Las Vegas, e a cidade havia mudado. Antigamente, Vegas parecia um local deserto projetado para isolar – e também celebrar – o vício. Agora é um destino familiar. Las Vegas Boulevard, a Strip, é um parque temático. Uma esfinge, quase em tamanho real, fica perto da estrada como se estivesse pronta para saltar, e no quarteirão espreita um horizonte recriado de Nova York. Você pode ver o Edifício Chrysler de qualquer lugar em Las Vegas.

The Dunes, o primeiro ponto de encontro de Stuey, se foi, implodido. Em seu lugar está o Bellagio, na época, o hotel mais caro já construído. Ele, como todos os novos cassinos, era negociado na bolsa de valores; Las Vegas, como parte de uma solene imagem corporativa, abandonou assiduamente seu passado de gângster, aquele que Stuey adorava. A circunstância ajudou. Tony, “the ant”, foi assassinado. Lansky, é claro, está morto. Hoje em dia, o Bellagio oferece uma espetacular coleção de arte original.

Todos os jogadores vão à ruína, eles gostam de dizer em Las Vegas; e eles sussurram sobre o homem que chegou sem nada e ganhou $25 milhões e então perdeu tudo. É uma história fantástica e pode ser uma advertência, exceto que existem poucas histórias de advertência em Las Vegas atualmente, apenas estratégicas. “Mais pessoas estão trabalhando nisso como um negócio agora”, disse Reese com tristeza.

Na maioria das tardes, a velha turma de Stuey podia ser encontrada no Bellagio. Alguns têm dinheiro – subversivamente, muitos aspiravam a estilos de vida mais grandiosos. Ainda assim, apenas para passar o tempo, eles jogam. Doyle Brunson manca em uma muleta, mancando por peso. Danny Robison, ex-viciado que se tornou professor da Bíblia, agora joga poker como profissão. “Tive uma revelação sobre isso”, explica ele. “Desde que eu faça isso de maneira justa e honesta, é uma habilidade, como vender seguros.” Reese estava semi-aposentado, em parte parece porque a grande ação já havia acabado, e com ela, a emoção, que sempre dependia da possibilidade de perda. “Se eu jogasse em um jogo em que você pode perder ou ganhar $30.000 por dia, eu poderia ganhar muito dinheiro no final do ano”, contou Reese, que treinava o time da liga infantil de sua filha. “Mas não há nenhum risco real envolvido. Eu não gosto muito disso.”

Depois de seu dia de um milhão de dólares, Stuey era Stuey novamente, apostando dinheiro nos esportes. Em uma semana, ele ganhou $194.000 no beisebol; no próximo, como ele sabia que faria, ele perdeu isso e muito mais. Traficantes de drogas apareceram – eles também tinham visto os jornais. Um amigo se lembra de expulsar uma multidão deles do apartamento de Stuey. Quatro meses depois, Stuey vasculhou seu estoque e estava novamente dormindo em um quarto emprestado na casa de McNamee.

Stuey vagou pelo Bellagio algumas vezes depois disso, uma vez com $25.000, que Baxter lhe emprestou. Ele tentou ganhar um pouco de dinheiro, mas seu coração não parecia estar nisso. As drogas, sem dúvida, tinham algo a ver com isso. “O que essa merda tem sobre mim?”, ele perguntava a McNamee. Mas agora, ele admitia, o poker o entediava. Sua era havia acabado. Stuey ficou um pouco paranóico. Ele parecia esfarrapado. “Não olhe para mim”, dizia a um amigo. "Estou envergonhado."

Na sexta-feira, 20 de novembro de 1998, Stuey se hospedou no Oasis Motel, na extremidade miserável da Strip. O Oasis oferecia filmes adultos e quartos por hora ou por $48 a noite, pagos na entrada. Stuey mudou-se para o quarto número 6, um pequeno que parecia um pouco maior porque espelhos baratos cobriam duas paredes. No dia seguinte, sábado, Stuey estava na cama, aparentemente descansando, quando o gerente apareceu. Stuey pagou mais $48. “Antes de eu sair do quarto dele, ele perguntou se eu fechava a janela, porque estava com frio”, relembrou o gerente. “Mas a janela não estava aberta.”

No dia seguinte, quando um funcionário apareceu novamente, Stuey não respondeu. Stuey, uma celebridade perseguida em cassinos, morreu na cama, totalmente vestido, sozinho. Ele tinha $800 no bolso e nenhuma droga. A TV estava desligada. E ele deixou para trás uma filha.

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Mais de cem jogadores compareceram ao seu funeral no fim de semana de Ação de Graças, uma época que ele costumava passar com Romano. O rabino contratado por outros jogadores argumentou que Stuey tinha uma doença. Ele estava se referindo às drogas, e certamente elas desempenharam um papel em sua morte aos 45 anos. Mas os relatórios toxicológicos mostraram que as drogas não estavam em níveis de overdose. Stuey às vezes sofria de asma; ele disse que tinha um sopro no coração. Mas outros sugeriram que ele era simplesmente inadequado para uma vida longa e talvez, no final, estava simplesmente desinteressado. E, no entanto, descobriram depois que Stuey talvez ainda tinha motivos para viver.

Apenas dois dias antes, Stuey havia assinado um contrato com seu velho amigo Bob Stupak. No mesmo dia em que Stuey se hospedou no Oasis Motel, Stupak disse que planejava colocá-lo em um torneio de poker em dezembro, no Taj Mahal em Atlantic City, $370.000 garantidos.

“Como vamos para Atlantic City?”, Stuey perguntou alegremente.

"Como você gostaria de ir?", Stupak atirou de volta.

“Primeira classe”, gritou Stuey.

Seria uma viagem incrível, e Stuey sabia disso, então talvez ele tenha morrido imaginando sua vida exatamente como gostava: em ação.