Um dos posts mais populares no fórum russo do GipsyTeam este mês foi a história de Nikolay Kanunikov sobre os dois melhores meses de sua carreira: entre fevereiro e março, ele conseguiu entrar nos jogos fechados de high stakes do GGPoker e faturou $1.300.000. Em entrevista ao GipsyTeam, o regular contou como conseguiu evitar a blacklist por tanto tempo, por que acha justo que não haja rakeback nos high stakes e quais são seus planos daqui para frente.
Oi! Conte um pouco sobre você para quem não acompanha seu blog.
Meu nome é Nikolay Kanunikov, jogo poker profissionalmente desde 2017. Nos últimos 5 anos, tenho jogado Omaha. Comecei com PLO5 e fiz bastante volume. Subi gradualmente os limites com apoio de backing. Há cerca de um ano, jogo high stakes por conta própria — até PL2000 — em salas e aplicativos. Estou sempre em busca das melhores condições para jogar, 7 dias por semana, sem folga.

Você compartilha seus resultados mais recentes em um canal do Telegram, onde quase sempre aparecem mesas da GG. Essa é sua sala principal?
Sim. Nikita Yakovlev e eu temos sido bastante ativos na mídia ultimamente. Eu jogo principalmente na GG porque é onde tem mais ação: é mais fácil encontrar mesas para stream e alcançar um público maior. Depois dos jogos fechados, só jogo na GG.
Acho que fui convidado para as mesas VIP porque estava perdendo muito no PL5000 antes de elas virarem privadas. Agora estou focado em vencer no PL2000, que é o maior limite publicamente disponível.

Lá o rake é bem alto.
Sim, todo mundo sabe que o rake na GG é pesado e que não é fácil vencer o jogo. Antes eu não tinha coragem. Mas agora tenho uma boa reserva de dinheiro, estou pronto para ir até o fim, para entrar nos heads-ups. É uma questão esportiva e profissional.
E as outras salas?
Quando você começa a jogar acima de PL1000, fica difícil encontrar jogo em qualquer sala. E na GG, o tráfego alto faz toda a diferença.
Vamos falar dos jogos fechados. Quanto você precisa perder no PL5000 para receber um convite?
Boa pergunta, não sei a resposta. Acho que os administradores que selecionam os jogadores para os Exclusive Games usam algum tipo de algoritmo. Provavelmente filtram os jogadores que perderam acima de certo valor.
Não sei exatamente quanto perdi, o histórico de depósitos dessa época não aparece mais. Acho que foi algo entre $130.000 e $140.000.
Mas perdi isso nas mesas VIP, que já não existem. Talvez, se eu perdesse $150.000 hoje no PL2000, ninguém me chamaria. Ou talvez eles ainda estejam observando os jogadores antigos e depois olhem para os que estão nos limites mais altos agora.
Como os Exclusive Games selecionam os amadores? Eles não aparecem com tanta constância quanto os regulares.
Acho que eles são conhecidos em algum círculo fechado, participam de eventos privados e séries. Há bastante gente que perdeu nas mesas VIP abertas.
Além disso, a GG organiza muitos torneios de high stakes.
Sim. Se alguém joga consistentemente torneios de Omaha de $1.000+, por que não convidar? Com certeza essas estatísticas são fáceis de levantar.
No seu diário, você escreveu que em dois meses nas Exclusive Tables pagou $300.000 em rake e considerou isso “um ganho justo para a GG”. Você diria o mesmo se tivesse terminado no zero ou no negativo?
Duvido (risos). Claro que é fácil dizer isso quando você conseguiu superar o rake com lucro no longo prazo.
Ao dizer “justo”, quero dizer que eles conseguiram criar um jogo fechado que nenhuma outra sala tem. É o melhor jogo, seja para recreativos ou regulares, melhor do que qualquer outro. Potes gigantescos, muitos recreativos, muita ação com o squid game, que realmente aumenta seu VPIP. É tudo muito bom.
E ainda não tem bots.
Sim, fair play. Acho que a supervisão da segurança é mais rigorosa nesses limites. Por isso, chamei esse rake de “renda justa”.
O Yura Joke703 escreveu no fórum que o surgimento dos jogos fechados de high stakes o deixou deprimido. E para você?
Para mim foi o contrário: quando entrei nesse jogo, ganhei motivação para jogar mais, melhorar e me tornar mais público. Conversei com amigos que também perderam o acesso aos high stakes e agora todos querem encontrar seu público, virar streamers, chamar atenção da sala e voltar para as mesas.
Todo mundo entende que é preciso ser recreativo ou figura pública para ser convidado. Agora os profissionais vão sair das sombras, tentar popularizar o poker, chamar atenção.
Tem até uma certa empolgação em não saber se você vai ser aceito ou não. Mas você pode tentar, se esforçar, manter um blog, falar sobre seus resultados.
Acho que, aos poucos, os jogos caros vão se tornar fechados, seja na GG ou em outra sala. Eles vão convidar pessoas confiáveis com quem vale a pena jogar. Então, para mim, isso é motivação extra, não um destruidor de sonhos.
Quantos jogadores fracos existem nesse field? Considerando fraco alguém que você consegue bater com facilidade.
É difícil dizer. Até os regulares são difíceis de avaliar, porque como você pode ver no gráfico, eu tive uma reviravolta absurda. Quando as coisas estão indo tão bem, é difícil avaliar honestamente o nível dos oponentes.

Esse winrate foi pura sorte, seria menor em uma amostra maior. 30 evbb/100 depois do rake! Isso é muito.
Isso é o EV, mas a taxa de vitória real foi ainda maior?
Sim. Quem consegue competir com tanta sorte na mesa? Ninguém. Eu até gostaria de mostrar algumas mãos, mas a seleção toda só mostra o quanto as coisas estavam dando certo para mim. Nos potes grandes, eu acertava o board perfeitamente, os outros jogadores não podiam fazer nada. Então o principal segredo é entrar nesse tipo de jogo quando tudo está funcionando.


Nos dois meses, você ganhou $1.300.000. Quanto isso está acima da sua expectativa média nos limites normais?
Se formos considerar o último ano, então 30 a 35 mil mãos é o volume que costumo jogar em 1 a 1,5 mês. Em termos de dinheiro, isso dá cerca de $30.000 a $40.000. Então, eu ganhei o equivalente a vários anos de grind.
Como você avaliaria a proporção entre amadores e regulares?
Tem muito amador. Eu diria que pelo menos 50%.
Eu ia perguntar sobre quão agradável é o field para um regular sem rakeback, mas parece que essa pergunta já está ultrapassada. E em termos de habilidade? Em quais limites um regular forte se sairia bem nesse field? Se alguém joga PL200 com 10bb/100, ele conseguiria se virar?
Eu já mencionei o Nikita Yakovlev, que é meu treinador e mentor psicológico. Analisamos o jogo juntos o tempo todo, e formamos a opinião de que no Omaha cinco cartas não é tão fácil bater um amador com muita experiência. E tem muitos desses amadores.
Se você pegar um bom jogador de PL200, der bankroll e colocá-lo nesses jogos fechados, há 80% de chance de ele não vencer os amadores. Porque aqui, a experiência em potes selvagens, com somas enormes no meio da mesa, vale mais.
Um cara que joga PL200 vai simplesmente travar depois de tomar umas duas bad beats em potes de $50.000 ou $100.000. Ele não vai conseguir jogar o próprio jogo. Já um amador experiente vai se sentir como um peixe na água. Esse é o território dele, ele vai devorar esse regular.
A habilidade de “jogar como um solver” perde muito valor aqui. O que importa é ter experiência com stacks profundos, straddles, all-ins multiway. Em todas essas situações não padronizadas, você precisa se sentir confiante e não ter medo de perder dinheiro. Duvido muito que um regular de PL200 consiga se manter estável nessas condições ou se adaptar rapidamente.
Isso também pode acontecer com jogadores regulares de PL2000?
Claro, mas a probabilidade é menor, a pressão financeira não é tão intensa.
Você pode citar os adversários mais fortes que enfrentou nesse período?
É difícil montar esse ranking por causa do upswing. Mas mesmo que eu pudesse, não nomearia ninguém. Ia parecer que estou reclamando publicamente da presença deles. Não quero comprometer ninguém.
No blog, você mencionou que queria permanecer no jogo fechado o máximo possível, e por isso teve que jogar de forma não convencional: straddles, all-ins sem olhar, fazer jogadas negativas. Essa foi a estratégia desde o início?
Não tive nenhuma decisão clara ou calculada. Eu só queria jogar livremente, manter a ação rolando, para que os recreativos se divertissem jogando.
Fiz muitas jogadas perdedoras sabendo que eram perdedoras. All-ins sem olhar não têm como serem lucrativos. Além disso, teve straddles, 3bets no mínimo, calls contra all-ins sem olhar com qualquer carta… tudo isso foi feito para mostrar o quão maluco eu podia jogar. Os amadores gostam dessas jogadas.
Funcionou? Você sentia que as pessoas vinham jogar por causa disso?
Acho que foi por isso que consegui ficar dois meses. Percebi logo de cara que não deveria adotar a abordagem de um regular padrão, que senta e faz um jogo seco baseado em GTO. Eu tinha 100% de certeza de que os recreativos não gostariam disso.
Um mês depois, apareceu um jogador na mesa que só entrava com o mínimo de VPIP. Era exigido 35% — e era exatamente isso que ele jogava. Quase imediatamente, ele foi bombardeado por negatividade de todos os outros participantes… Tenho certeza que isso chega rápido ao host, que tira conclusões e o expulsa.
Aliás, minhas primeiras sessões foram negativas. E nelas eu não fazia nada disso, não acelerava os potes e só ocasionalmente dava 3bets mínimas com mãos aleatórias. E foi quando comecei a lucrar que comecei a me soltar. Tem mãos em que fica claro que nada me parava: não importava qual era a mão nem o quão ruim fosse, eu só queria manter a ação e deixar o jogo dinâmico.


Quanto mais eu ganhava, mais imprudente eu jogava. Em certo momento, os recreativos até começaram a desconfiar de que eu fosse um jogador desonesto.
Fui banido do chat por 30 dias. Um dos amadores escreveu algo como “Você é um bot? Quero saber se você é uma pessoa de verdade, vamos conversar no Skype ou Telegram.”
Eu tento me comunicar bem com todo mundo na mesa, especialmente com os recreativos. Eles que bancam a festa, então dá para ser gentil. Respondi que não passava meus contatos, mas que poderia escrever eu mesmo e conversar.
Entramos em contato, e ele começou a contar umas histórias nada a ver. Disse que os amigos dele são jogadores profissionais, super pros, que ele anda perdendo ultimamente. E me propôs jogar heads-up em outra plataforma, no ClubGG. Recusei educadamente, porque achei injusto sair do GG, já foi lá que nos conhecemos. E quanto à acusação de ser bot — existe um setor de segurança, eles que cuidam disso, então as acusações deveriam ser descartadas. Até disse meu nome real para ele (embora ache que isso foi um grande erro).
De que país ele era?
Da China. Conversamos em inglês. Por precaução, compartilhei a conversa com meu host e perguntei o que fazer nessas situações. O host respondeu que a política do GG proíbe compartilhar contatos no chat. E que o setor de segurança baniu nós dois do chat por um mês.
Fiquei mal, porque não fui eu quem iniciou a conversa. Mas se existem regras, temos que seguir. Ainda não posso escrever no chat, só uso emoticons.
Voltando às jogadas malucas: você tem uma mão em que deu all-in sem olhar de 1.800bb, que aconteceu no dia 25 de março. Isso foi logo antes do banimento?

Sim, quanto mais eu ganhava, mais relaxado me sentia. Acho que foi naquele dia que as linhas no meu gráfico começaram a se separar seriamente — eu estava pronto para tudo.
Foi uma loucura: eu estava com mais de 2.000 big blinds. Um jogador novo sentou na mesa, sem ideia da dinâmica das últimas horas. Eu podia simplesmente dar um all-in com qualquer cinco cartas para recepcioná-lo. E ele não entendeu nada! A dinâmica estava tão maluca que outros jogadores estavam indo all-in sem pensar, com mãos questionáveis. Teve muito all-in. Dá pra dizer que foi o Dia da Loteria nas mesas exclusivas da GG.
Beleza, já entendemos os all-ins no escuro. E quanto aos straddles de 10, 20, 50 blinds? Você abordava isso de forma estratégica ou também jogava livremente?
Se você é um jogador profissional, tenta minimizar os erros de qualquer maneira, você se ajusta. Então, sim, houve ajustes. Principalmente porque o jogo é jogado com SPR muito baixo.
Mas ainda assim é difícil saber exatamente o que fazer. As decisões são tomadas mais com base na experiência. Sempre fiz straddles e tentei minimizar perdas por tentativa e erro.
Por intuição?
Não exatamente. Quando você já tem tempo de jogo, toma decisões com base na experiência. Um solver não ajuda muito — não existem solvers para calcular essas situações hoje. E mesmo que existam, não vejo sentido em me preocupar, comprar, rodar e buscar soluções ótimas quando você, como jogador profissional, mais ou menos entende onde está e distingue ações negativas das lucrativas.
Pessoalmente, tenho trabalhado muito pouco com solver nos últimos anos. Ele me deu uma base para jogar no longo prazo. E isso me ajuda a passar por downswings: quando tudo desmorona, grandes prejuízos, você tilta menos. Aí você pode consultar o solver e ajustar seu pensamento.
Se olhar minhas mãos, vai ver que meu jogo está bem longe do GTO. Tem muita linha torta. Mas eu sei que aquele spot é mais lucrativo se jogado daquele jeito. Não preciso consultar o solver. Existem linhas exploráveis contra certos oponentes, em que suas decisões serão 100% mais lucrativas do que as soluções do solver.
Durante esse período, meu VPIP foi de 55. Nenhum solver vai recomendar isso. Mas isso está conectado: você abre mais mãos — e precisa jogar melhor no pós-flop, onde precisa tirar essas mãos do vermelho. Você começa a procurar leaks nos oponentes, ver como extrair valor máximo.
Você conseguiu aprender algo novo?
Com certeza. Sim, a amostragem foi pequena — apenas 30.000 mãos —, mas houve muitas situações incomuns. Uma experiência valiosa que vai ajudar muito no futuro. Principalmente para identificar spots lucrativos em mesas com amadores.
Já disse tanto no blog quanto aqui na entrevista: muita coisa depende da sua habilidade em bater jogadores recreativos. Você precisa se adaptar, aprender a entender o jogo deles e vencê-los em qualquer board com qualquer mão.
Então aprendemos com um cara que ganhou um milhão que amadores são difíceis de bater e que estratégias baseadas em solver não funcionam.
Exato. No meu blog, contei que tentei montar um fundo de backing, e ouvi várias reclamações de profissionais — tipo: “Entrou um recreativo runnando, limpou a mesa e saiu”. É preciso saber jogar contra esse tipo de oponente. E essa habilidade só vem com o tempo, depois de muitos anos jogando cash games não padronizados. É assim que você aprende o que diferencia os amadores e como vencê-los.
Heads-ups contra amadores são difíceis. Já joguei partidas caríssimas de 1v1 em que perdi 20 buy-ins numa sessão. Isso te fortalece, te obriga a pensar por conta própria em situações onde o pensamento GTO simplesmente não se aplica.
Parece interessante... e assustador.
Na verdade, não é assustador. Você só precisa jogar. Não existem caminhos fáceis para ganhar muito dinheiro com Omaha. Todo mundo vai sofrer de alguma forma.
Durante os jogos fechados, você viu alguém ruir sob a pressão do dinheiro e da ação? Conseguiu se aproveitar disso?
Na verdade, não. Todo mundo joga com ousadia. Mesmo aquele cara que mantinha o VPIP mínimo: parecia tight, talvez por causa da pressão do dinheiro. Mas depois de uns dois dias, ele estava mais solto, o VPIP subiu. Talvez tenha sido ajuste natural, ou talvez o host tenha explicado que ele precisava ser mais ativo para não perder o acesso.
Mas não me lembro de ter explorado diretamente alguém, tipo fazendo overfolds intencionalmente.
Há muita rotatividade de jogadores nesses limites? Novas caras aparecem com frequência?
Entre os regulares, não. Em dois meses, só vi uma pessoa desaparecer. E nem dá pra dizer que foi expulso — talvez tenha tirado férias. Lembro que uma vez ele escreveu no chat que ia pegar um avião ou trem, que estava fazendo check-in no hotel, etc.
Mas entre os amadores, sim — novos jogadores aparecem o tempo todo, o tráfego é ativo. Parece que o algoritmo de seleção de novos jogadores melhorou bastante.
Você chegou a receber convite de outro host enquanto ainda estava jogando?
Sim! Quando já estava jogando, recebi um convite de outro host. Provavelmente ele não sabia que eu já fazia parte do jogo. E depois da suspensão, entrei em contato com ele, mas claro, ouvi que se você foi expulso, não pode voltar.
Eles dão alguma dica de como “limpar a reputação” para retornar?
Não. Perguntei o que eu precisava fazer para voltar para os jogos, mas não recebi resposta clara nem recomendações. E, no geral, faz sentido: o jogo deve continuar sem pessoas que irritem os oponentes. Os recreativos precisam estar felizes, e os regulares devem divulgar o jogo de forma positiva.
Se você não é alguém que perde alto ou um regular que fala bem desses jogos exclusivos, você está fora de lugar.
Não gosta do termo “limpar reputação”?
Não. Não sinto que minha reputação tenha sido manchada de nenhuma forma. Sou um jogador honesto, e o setor de segurança não tem nenhuma pendência comigo.
Algumas pessoas me escreveram: “Você agora está na blacklist, ninguém vai te deixar entrar de novo por causa dos seus ganhos”. Não concordo com isso. Primeiro, potes grandes são uma propaganda em si. Segundo, contei minha trajetória no fórum, compartilhei minha história — isso é uma super divulgação dos jogos exclusivos. Para os regulares, é uma motivação enorme tentar entrar nesse jogo. O field é tão fraco que provavelmente até os amadores lucrativos conseguem ganhar bastante dinheiro.
Os organizadores podem remover um recreativo, mesmo que ele seja ativo e entusiasmado?
Acho que sim. Se você for tóxico, se sua presença afastar outras pessoas, se você minar a autoridade da GG, então ninguém vai querer jogar com você. Para a sala, não é lucrativo te manter no jogo. A experiência deve ser como um home game, onde os recreativos não reclamam. Eles vêm para relaxar, participar de algo interessante.
Minar a autoridade da GG?
Falar mal, jogar lama neles, reclamar da injustiça ou parcialidade dos jogos. A propósito, sobre meu post no fórum: não acho que fui expulso só porque ganhei. Acho que meus oponentes viram que eu estava ganhando uma quantia absurda e reclamaram... Me tiraram por causa das reclamações.
Se eu fosse um jogador regular que movimenta o jogo e não irrita as pessoas com as vitórias, talvez tivesse ficado. Não acho que o gerente olhou minha conta e disse: "Ele ganhou demais, vamos expulsar." Não. Acho que o mais importante para eles não é o dinheiro, mas como o jogador influencia o clima da mesa.
Talvez se eu jogasse com 10 evbb/100, ficasse lá por anos. Desde que os oponentes não começassem a fugir.
Você poderia escrever para o host, reclamar de alguém e assim influenciar o acesso de outra pessoa?
Não, isso não faria diferença. Uma coisa é quando os recreativos reclamam, outra é quando sou eu.
Então seu host não te considerava um recreativo? Eles têm alguma distinção sobre quem escutam ou não?
Acho que depois de dois ou três cashouts eu já estava "registrado". Depois do primeiro aviso, ainda joguei por cerca de um mês, o que é bastante tempo. Estava claro que muitos recreativos queriam jogar comigo, gostavam, sentavam nos heads-ups com vontade.
Então foi a minoria incomodada que acabou vencendo?
Pode-se dizer que sim. Ou talvez todos com quem eu joguei tenham deixado de gostar porque perderam feio.
As opiniões dos embaixadores da GG influenciam quem é convidado ou não?
Acho que não. Me parece que a GG escuta principalmente os recreativos. Talvez um embaixador consiga rapidamente identificar quem é recreativo e quem é regular, e passe essa informação para o host.
Pergunta direta: um embaixador pode simplesmente pedir que o acesso a um jogo fechado seja revogado para um jogador específico? Mesmo que os recreativos não reclamem muito?
Improvável. Pelo que entendo, é necessário um volume coletivo de reclamações. Uma pessoa só não decide nada.
Já discutimos seu grande sucesso em detalhes, mas queria tocar no outro lado da sua carreira. No seu blog, você falou sobre dois makeups profundos: de $80.000 e $300.000. O que te ajudou a superar esses momentos difíceis?
Esses dois casos foram bem diferentes. O makeup de 80 mil foi o maior da época e muito difícil. Eu não tinha ideia de que dava para ficar no vermelho por tanto tempo — foi cerca de um ano e meio. Eu tinha uma reserva, que daria para mais um ano. Mas eu não sabia se conseguiria sair do buraco. Superei a crise graças aos treinos com o Nikita e a trabalho psicológico. Além disso, o backer escolhia os melhores fields. E fui saindo aos poucos.
A segunda vez, com $300.000, foi mais fácil. Eu já me via como profissional, jogava até PL5000 e sabia que podia perder quantias grandes. Tinha uma reserva muito forte, então não precisei me preocupar com dinheiro.


Continuei seguindo minha estratégia, analisava as mãos, trabalhava com treinador. Entendi que esse era o caminho para sair da má fase e segui trabalhando.
O mais difícil nessa situação são as emoções pesadas, o desespero. Quando você não sabe se consegue bater o field e continuar sendo jogador profissional. Dá a sensação de que aquele é o fundo do poço — que você vai afundar e nunca mais sair. Essas são as emoções mais difíceis de lidar.
Como lidar com isso?
Primeiro de tudo, analisar seu jogo e entender que você pode ser responsável pelas suas decisões. Se você abre a mão de ontem, olha e diz: "pô, joguei mal aqui, não devia ter feito isso", então você está afundando. Mas se abre e diz: "ok, fiz certo aqui, mas nessa mão preciso corrigir algo", e tenta descobrir como não repetir o erro — então você está subindo.
Você não pode se perdoar por nenhum erro. Isso afeta muito sua winrate. Quando está no negativo, precisa maximizar a winrate para sair do buraco o mais rápido possível.
Você disse que um regular pode receber convite se tiver exposição na mídia. Conhece exemplos assim, sem contar embaixadores?
Na verdade, não. Claro, conheço o Minton, o Inner — acompanho as streams deles desde o início da minha carreira. O Denis Chufarin também jogava Omaha ativamente.
Às vezes é difícil saber quem é jogador de mídia, porque nos jogos exclusivos você pode trocar de apelido. E, se fizer isso, os nicks anteriores não aparecem como nas mesas normais...
Mas pessoas de mídia geralmente não escondem a identidade.
Só lembro de uma pessoa famosa que não escondia o nome real — Nikolay Voskoboinikov. Jogava bem alto, chegou a PL40000. Vi ele perder $300.000 numa noite e, mesmo assim, sempre foi muito educado. Depois de uma sessão assim, ele ainda escrevia “boa noite, pessoal, bom jogo, até mais”.
Você acha que todos os participantes dos jogos exclusivos jogam com dinheiro real?
Não tenho essa informação, claro, mas nunca duvidei de que o Misha Inner ou o Minton joguem com dinheiro real. Eles são profissionais há muito tempo. Acho que têm bankroll ou backing para estarem nesses jogos.
Não acho que “jogar por diversão” seja interessante para a sala. Isso prejudicaria a imagem e daria a impressão de que a GG quer apenas arrancar dinheiro dos recreativos. Depois disso, a reputação não se recupera. Hoje em dia, a GG já lucra tanto com o rake que não vale correr esse risco.
E se, de repente, amanhã, um embaixador não quiser ou não puder mais jogar pela equipe dele?
Acho que não faltaria substituto. Deve ter fila de gente querendo entrar nessas mesas.
Em dois meses, você ganhou uma quantia que poderia sustentar uma pessoa para o resto da vida. Esse sucesso mudou seus planos para o futuro?
A vitória aumentou muito minha motivação. Surgiu o desejo de aparecer mais, mostrar minhas atividades, fazer stream. O Nikita e eu estamos organizando vários eventos no canal do Telegram “Omaha Club”, desenvolvendo a comunidade. Agora lançamos uma distribuição de NFTs legais para quem assiste nossas streams. Temos grandes planos de crescimento. Queremos reunir um público online realmente grande.
Ganhei um novo vetor para minha carreira. Tenho um interesse esportivo em bater o PL2000. Antes, não tinha esse desejo de “conquistar feitos”. Agora, quero superar minhas próprias dúvidas.
Vamos te ver em breve no poker ao vivo?
Com certeza. Nos próximos meses, planejamos ir para Macau e depois para algumas séries famosas. Tenho pouca experiência ao vivo — é difícil jogar. Tenho dificuldade de me situar na mesa, não enxergo bem as cartas de duas cores, não sei contar fichas. Para mim, isso é um peso, porque não tenho o mesmo tipo de inteligência visual que muitos jogadores profissionais. Nessas situações, meu cérebro ferve.
Vai jogar cash em Macau?
Sim. Ouvimos dizer que tem Omaha caro por lá. Quero experimentar, ver como é o field. E criar conteúdo para o blog, mostrar para a galera.
Sua vida pessoal ou qualidade de vida mudou com tudo isso?
Nada mudou. Não estou naquela situação de “não tinha nada e ganhei na loteria”. Já ganhei bastante na minha carreira, e essa quantia não teve grande impacto na minha vida.
Obrigado pela conversa franca! Espero que o upswing continue.
Obrigado. Boa sorte a todos!