Os exemplos mais marcantes dos jogadores que foram do céu ao inferno na história do poker?
– Todos nós conhecemos grinders locais que, em um upswing, jogaram algumas sessões bem-sucedidas no 2/5, se consideraram gênios do poker e depois perderam tudo. O que me interessam são exemplos de nível muito mais alto: jogadores que todos consideravam grandes (e talvez fossem mesmo), mas cuja carreira desmoronou, e eles nunca mais voltaram.
No xadrez, é conhecida a história de Ding Liren: ele venceu o match pelo título mundial e, depois disso, não apresentou mais resultados. Hoje já não figura entre os melhores (e isso em um jogo sem elemento de sorte). Apenas alguns anos se passaram, e ele deixou de participar de torneios de elite e caiu do top-10. Foi justamente a carreira dele que me fez pensar em exemplos parecidos no poker.
Não conheço muito bem a história do poker, então o único que me vem à cabeça é Stefan Burakov (o que ele está fazendo agora, afinal?). Mas com certeza existem outros exemplos.
Howard Lederer e Chris Ferguson

– Dá para incluir também a Annie Duke, embora ela tenha conseguido sucesso depois do poker.
Nota da redação – Annie é irmã de Howard Lederer. No auge da carreira esteve envolvida em vários grandes escândalos. Sabe-se que, como embaixadora do UltimateBet, sabia que algumas pessoas tinham acesso às cartas dos adversários, mas não usava essa falha do software. Em 2011, organizou a série Epic Poker League. No primeiro ano a empresa realizou três torneios e logo anunciou falência. Os 27 melhores jogadores do ranking anual deveriam disputar um freeroll com prêmio de $1 milhão, mas o evento foi cancelado. A companhia deixou mais de $8 milhões em dívidas.
Em 2012 Annie encerrou a carreira no poker. Hoje escreve livros e ministra palestras. Em seu site oficial se apresenta como “Autora. Palestrante. Especialista em tomada de decisões estratégicas”. Segundo o Washington Speaker Bureau, uma palestra de Annie custa mais de $70.000.
– Mas eles não ficaram falidos, só pararam de jogar.
– Verdade, Ferguson continua riquíssimo.
– Logo me vem à mente Brad Booth. Mas talvez a melhor resposta seja Stu Ungar, cujos últimos anos foram terríveis.
– Stu não conta. Foi o único a vencer três Main Events. Só morreu no ano seguinte.
– Stu é o Bobby Fischer do poker. Sumiu, voltou, destruiu, depois sumiu de novo...
– Uns 15 anos atrás joguei contra o Booth no MGM. Ele estava com uma prostituta asiática e empurrava all-ins às cegas no 2/5. Passei uns cinco minutos pensando se deveria pagar com um par de 2. Depois percebi que era a pior mão possível para um flip às cegas. Me senti um idiota. Obrigado pela atenção.
– Stu foi tricampeão mundial já no fim da vida. Ele e Booth tiveram destinos totalmente diferentes. Booth simplesmente não tinha nível. Ainda lembro do blefe ridículo dele contra o Phil Ivey. Funcionou, mas não deixou de ser estúpido. Stu era um dos melhores até o fim; seu problema era pessoal.
– Stu era um viciado profissional que às vezes ganhava dinheiro jogando cartas.
– Para jogar o último Main Event que venceu, precisou pedir dinheiro emprestado. Dominava à mesa, mas não venceu seus demônios. Nos últimos anos virou um sem-teto dependente de drogas. Não vejo como discutir isso.
– Aliás, no High Stakes Poker aquele blefe de Booth foi feito com backing, e o investidor rompeu com ele logo depois. Nem o sucesso do blefe ajudou. Mas, fora do jogo, Booth é um cara legal – até me emprestou uma conta de PlayStation para jogarmos Call of Duty juntos. Os canadenses, em geral, são muito gente boa.
Gus Hansen

– Também pensei nele primeiro. O online acabou com ele. Durante o boom era disparado o mais agressivo no live e destruía no WPT.
– Gosto muito do livro dele, Todas as Mãos Reveladas, em que descreve passo a passo o torneio que venceu (nota: o Aussie Millions Main Event de 2007).

– Também havia um vídeo famoso em que ele ganhava um torneio colocando all-in em todas as mãos. Quando jovem pensei: “É assim que se tem sucesso, com agressividade total”. Só mais tarde percebi que ele estava short e os blinds enormes.
– Na verdade, aquilo era um torneio classificatório em formato especial. Ele precisava ser 1º para avançar. A estratégia fazia sentido, mas parecia ainda mais espetacular.
– Gus é uma ótima resposta. Tentou se segurar no online, mas perdeu cerca de $20 milhões.
Ali Imsirovic
– De prodígio a persona non grata em um instante.
– É aquele idiota que tentou roubar o Paul Phua na live stream?
– Para mim, essa é a história mais triste. Ele era da minha cidade, estudamos na mesma universidade. Torcia muito por ele, mas o que fez não tem perdão. Não há volta.
– Surpreende que ninguém ainda tenha citado durrrr. Entre 2008 e 2010, era o “Menino de Ouro” do poker. Parecia invencível. Talvez ainda seja bom o bastante para encontrar backing nos high stakes, mas os problemas com dívidas e saúde mental destruíram sua reputação.
– Foi a primeira superestrela real do online. Um cara muito interessante. Não sei detalhes dos problemas atuais, mas sempre parece que viveu meses trancado num porão.
– Coloco o Phil Galfond no mesmo patamar. Ambos surgiram com o online. Mas Phil segue no topo e, para muitos, é o GOAT.
– Se falarmos de verdadeiros personas non grata, o nome é Russ Hamilton. No caso dele não há dúvida.
– Concordo. Não culpo tanto o Ferguson – ele só cuidava do software. Howard sabia de tudo. O problema foi quando o DOJ congelou as contas. Até lá eles nadavam em rake.
– Perdi $35k no 25/50 contra um “fish” no UltimateBet. Depois descobri que era trapaceiro. Me devolveram só $1.500. Será que era o Russ? O que será que ele faz hoje?
– Dos exemplos recentes – Action Dan. Teve um upswing incrível antes do Million Dollar Game e depois sumiu.
– No Million Dollar Game foi triturado. Parece que jogava com bankroll próprio, por isso desapareceu.
– Não é o autor dos livros?
– Não. Esse é Dan “Action Dan” Quan, que surfou uma maré absurda no Hustler, jogando estilo hiperagressivo. Em uma semana perdeu tudo e mais um pouco.

Dan Harrington, o verdadeiro “Action Dan”, hoje tem uns 80 anos e joga poucos torneios ao ano.
– Não gosto que jovens se autodenominem “Action Dan”. Já temos um.
– Curioso é que o apelido do Harrington foi dado como piada, porque ele sempre jogou de forma tight.
Erick Lindgren
– Também pensei nele. No WPT foi quase tão bem quanto o Gus. Mas desapareceu.
– Todo mundo sabe: perdeu tudo em apostas, especialmente NFL. As dívidas milionárias eram conhecidas no 2+2.
– Foi o que imaginei. Talvez também não tenha se dado bem online.
– No começo dos anos 2000 li um livro em que vários pros escreveram capítulos. Um deles recomendava sentar em limites máximos com todo o bankroll, ir all-in, pegar os blinds e sair. Tenho 90% de certeza que era o Lindgren.
– Este ano não foi tão ruim para ele. Chegou a aparecer no Hustler Casino Live e ganhou bem.
Nota da redação: Em maio, Lindgren se classificou via satélite para o Million Dollar Game, jogou uma sessão e saiu com lucro de $283.000.
– Das novas estrelas – Rampage. Ele chamou atenção grindando 2/5 e 5/10, com bons resultados, mas ganhava mais no YouTube. Depois foi para os high stakes e foi destroçado. Nas apostas perdeu ainda mais. Hoje joga micro stakes online no WPT Gold, não tem banca para o live e isso destrói o canal dele.
Nota da redação – Na verdade, nos últimos tempos Ethan vem se saindo bem no Hustler.

– Um cara totalmente desconhecido, com quem já tínhamos jogado. Ele sumiu por alguns anos e depois reapareceu de repente, jogando direto 5/10/20. Contou para a mesa inteira que tinha se quebrado e largado o poker. Depois de alguns anos, começou a assistir vlogs e streams e ficou impressionado com o quão mal as pessoas jogavam. Largou o emprego para voltar a se dedicar totalmente ao poker.
Se gabou de que, na noite anterior, tinha destruído a mesa e ganho alguns milhares. Segundo ele mesmo, nem tinha runnado muito bem, só que os adversários jogavam de forma totalmente horrível.
Logo perdeu alguns stacks, aguentou três sessões com a gente e desapareceu de novo.
– Algumas lendas old school:
- Ted Forrest – já jogou high stakes, hoje joga 5/5 em algum canto esquecido.
- Layne Flack – pouco antes de morrer, grindava microlimites no Aria.
- Barry Greenstein – joga microlimites na Califórnia.
Nota da redação: nos anos 2000 Greenstein era chamado de “Robin Hood do poker”. Jogava os maiores limites no Bobby’s Room e disputava torneios apenas por diversão. Houve um período em que doava todos os seus prêmios de torneios para instituições de caridade. No entanto, isso não durou muito tempo.