Backer de dois finalistas do Main Event da WSOP: "Comprar ações é lucrativo para qualquer jogador"

Original no YouTube

– Nesta semana temos um convidado incomum. Poucos de vocês devem conhecer Derek Walters, mas ele foi uma figura bem visível no mundo do backing por muitos anos. Acho que hoje ele vai nos ensinar como comprar ações corretamente! Bem-vindo, Derek!
– Olá, obrigado pelo convite.

– Normalmente começamos a conversa pelo momento em que o convidado se interessou por poker.
– Quando eu tinha 13 ou 14 anos, jogava bastante Magic: The Gathering com amigos. Nessa mesma época, começamos a fazer home games por $5. Rapidamente ficou claro que havia muito mais dinheiro no poker. Comecei a jogar sério quando entrei na universidade. Estudei teoria, joguei bastante online... Agora tenho 36 anos, então isso foi no começo e meio dos anos 2000.

Minha primeira sala foi o Party Poker. Fiz meu primeiro depósito com o cartão da minha mãe quando tinha 16 anos. No primeiro ano, joguei limit hold’em, sem entender nada, só clicando em botões. Na faculdade, passei para o no-limit hold’em. Como decidi me tornar um jogador de cash game, jogava em várias salas – além do PokerStars e Full Tilt, também jogava em muitos sites pequenos, onde os fields eram mais fracos. Não queria jogar torneios porque, primeiro, estava com muitas matérias na faculdade, e segundo, usava os fins de semana para sair com os amigos – o que inviabilizava sessões longas.

No terceiro ano, conheci outros jogadores online do campus, um ano mais novos que eu. Alugamos uma casa juntos e começamos a jogar torneios aos sábados. Um dia, entrei num 6-max mini-FTOPS de $200 e fui para o segundo dia. Tive que continuar jogando no domingo, mas logo no início a internet caiu em casa. Corremos para o carro e voltamos para o campus, e joguei as próximas seis ou sete horas da biblioteca. Acabei vencendo o torneio e ganhei algo como $120.000. Foi a primeira vez que meu bankroll passou dos 10k.

4.6

Consolidado como o mais famoso site de poker do mundo, o Pokerstars reúne jogadores do Brasil e de outras nacionalidades para disputar jogos a dinheiro real de Texas Hold’em, Omaha, Stud, H.O.R.S.E., entre as mais variadas modalidades de poker possível.

Visão geral do PokerStars Cadastro

– Hahaha! Isso me lembrou a história do Ryan DePaulo, que ganhou um bracelete da WSOP online jogando do carro num estacionamento.
– Sim, eu vi o vídeo, foi muito legal!

– Respeito o fato de você ter mantido a disciplina e não ter largado a faculdade. Lembro que, quando ganhei meus primeiros 3k no segundo ano, decidi virar profissional.
– Bom, considerando quão fracos eram os fields naquela época, teria sido a decisão certa. Para ser honesto, hoje nem entendo por que continuei correndo atrás do diploma. Eu odiava estudar até o fim.

Depois daquela forra, larguei o cash game e fiquei viciado em torneios. Primeiro, os oponentes eram mais fracos, e segundo, é muito mais divertido correr atrás de um grande prêmio do que pegar stacks no cash. Nunca subi muito de limite – continuei jogando torneios de $100–$200.

– Pelo que entendi, você tinha uns 20 anos então. Imagino que estivesse ansioso para fazer 21 e jogar ao vivo?
– Sim, queria muito começar no ao vivo. Joguei meu primeiro torneio no Arizona em 2010 – o Arizona State Championship com buy-in de $1.000. Fiquei em 8º lugar, mas a estrutura de premiação era totalmente absurda. O primeiro lugar levava $330.000, e eu ganhei só $10.000. O ao vivo não me recebeu com muito carinho.

No ano seguinte fui para as Bahamas jogar o PCA, onde conheci outros profissionais pela primeira vez. Não entrei ITM nenhuma vez, mas comprei uma parte online do futuro campeão. Não era muita coisa – 2,5% ou 5% – e isso me rendeu algo como $50.000. Depois disso, comecei a comprar ações com frequência.

Meu amigo Jake Balsiger ficou em terceiro lugar no Main Event da WSOP e assinou um contrato de patrocínio com o 888. Como parte do contrato, ele foi convidado para jogar o Aussie Millions, e eu fui junto. Excelente serviço, cidade linda, bons torneios – eu adorava essa série, é uma pena que tenha acabado. Comecei a ir para lá todo ano com amigos, e em 2015 fiquei em 2º lugar num torneio, ganhei $120.000 – minha primeira grande forra ao vivo.

– Espera, vamos voltar à forra do Jake! Você chegou a participar financeiramente?
– Ótima história. Foi minha segunda WSOP completa. Eu e meus amigos alugamos uma casa e jogamos a série inteira, e o Jake ainda estava na faculdade, mas passava uma ou duas semanas com a gente. Ele jogava cash $3/$5 num cassino local e não tinha nenhuma experiência com torneios, mas era absurdamente bom. Convencemos ele a jogar o Main e bancamos a maior parte do buy-in.

No primeiro dia ele caiu na mesa do Phil Ivey e o deixou completamente maluco. O torneio dele foi espetacular. Chegou à mesa final, teve três meses de preparação e sua dose de fama, ficou em terceiro, ganhou $3,5 milhões... Para mim, foi o maior sucesso como backer. Eu tinha 17% dele.

No sexto ou sétimo dia, quando restavam umas 30 pessoas, perdi a noção da realidade. Até ali, ele já tinha garantido 50k, depois 80k, legal, bacana, mas nada demais. Mas quando começou a surgir a perspectiva de mesa final... A gente ficava sentado no Rio, eu e os outros investidores, atualizando o live report o tempo todo. Naquele ano, duas mulheres estavam na mesa semifinal, acho que saíram em 11º e 10º, todo mundo ao redor ficou triste, mas a gente comemorou.

Depois veio muita preparação séria. Montamos nossa própria mesa final na véspera – levamos uma mesa de poker para o quarto do hotel, colocamos os stacks certos, dividimos os papéis...

A decisão final foi no teatro Penn & Teller, no Rio. Todos os amigos do Jake – umas 20 ou 30 pessoas – sentaram nas primeiras fileiras. Estava todo mundo nervoso, eu estava completamente bêbado. Qualquer jogador vai te dizer que é muito mais fácil manter a calma quando você está jogando do que quando está torcendo por um amigo. Felizmente, alguns de nós conseguiram manter a cabeça no lugar e até discutiram estratégia com o Jake nos intervalos, mas eu não estava entre eles.

Jake jogou um grande pote contra Jesse Sylvia, foi all-in no turn com 70% de equidade ou mais. Lembro de calcular na cabeça: “Se ganharmos, é mais meio milhão – ótimo, tá ótimo.” Mas ele perdeu.

– No seu Hendon Mob vejo um terceiro lugar num WPT...
– Sim, entre 2017 e 2018 tive algumas boas forras, a maior delas no LAPC no Commerce Casino. Buy-in de 10k, sem reentradas – só uma chance para cada jogador. O campeão levava um milhão, eu ganhei 430k.

A mesa final foi bem peculiar. Toby Lewis ficou em segundo. E o cara que venceu, Dennis, era um verdadeiro maníaco (VPIP de 70%, muitos 3-bets), jogar contra ele foi extremamente interessante.

Phil Hellmuth ficou em 11º, eu passei bastante tempo na mesa com os dois e foi muito divertido.

Eu tive chance de vencer, mas primeiro o Toby ganhou um all-in importante contra mim no 3-handed, depois joguei algumas mãos ruins contra o Dennis. Com o estilo dele – era um sonho de oponente. Mas com tanto dinheiro em jogo e câmeras te filmando, é difícil manter a calma. De qualquer forma, fiquei muito feliz com o terceiro lugar, foi meu maior resultado como jogador. Nunca joguei torneios com buy-in acima de 10k, e pouco depois do LAPC quase parei de jogar. Mas continuei comprando ações e com bastante sucesso.

– Fala um pouco sobre a diferença entre ter uma parceria constante com um jogador e comprar ações pontuais de torneios. E em qual das duas você é melhor. Vamos deixar o Main Event da WSOP de fora dessa, claro!
– Comecei comprando ações de amigos. Todos viemos do online, numa época em que ainda não existiam os high rollers e os buy-ins ao vivo de $1.000 ou $2.000 pareciam assustadores. Então todos vendíamos 20%–30%. Desde o início, dei muita sorte. Por outro lado, eu conhecia pessoalmente muitos dos melhores jogadores online, então conseguia pegar ações que nem chegavam ao mercado. No meu primeiro ano de WSOP, comprei ação de outro finalista do Main Event, mas ele terminou em 8º ou 9º e eu tinha só 5%.

Depois entrei no fórum 2+2, e a seção de backing virou minha página inicial. Eu acessava cinco vezes por dia e até combinei com um amigo que morava na Inglaterra para checarmos o fórum em horários diferentes. A meta era não perder nenhuma boa oportunidade.

Também tentava fazer contato direto com jogadores que me interessavam. Outros backers faziam o mesmo. Acho que por isso a seção de backing no 2+2 acabou morrendo — agora todo mundo vende ações por mensagem privada. Mas por alguns anos, aquele fórum foi o centro de tudo. Consegui umas dez forras de $50k a $100k ali.

Acho que mergulhar no backing pode beneficiar qualquer jogador de poker. É uma forma super eficiente de monetizar suas conexões dentro da comunidade. E além disso, você ajuda amigos a reduzir a variância — é uma relação em que os dois lados ganham. É um ótimo negócio, mas muito difícil de escalar. É difícil investir mais do que algumas centenas de milhares por ano, então dificilmente vira uma profissão em tempo integral. Mas um jogador profissional que também trabalha com backing pode esperar entre $20k e $50k a mais por ano.

– Como você definia um bom markup? Usava planilhas para estimar ROI? Ou seguia a intuição divina?
– Me guiava pelos preços do mercado. Nunca tive um modelo para calcular nem tentei descobrir o ROI real de um jogador específico num torneio de $1.000 da WSOP. Eu estudava as ofertas disponíveis. Digamos que, antes da WSOP, apareciam 20 posts no fórum com cronogramas e breve biografia dos jogadores. Eu pensava: se eu escolher os cinco melhores, com certeza estarei lucrando.

Naquela época, o markup das ações costumava ser entre 1.1 e 1.25, não mais do que isso. Mas, na verdade, a diferença de nível entre os top regs e o resto era bem maior. Eu comprava as boas ações a 1.1–1.15 e mandava mensagens privadas para quem não conseguia vender porque estava cobrando caro demais, oferecendo negociar o preço. Sempre com muito respeito — isso é essencial. Você não quer ofender alguém cujo amigo vendeu por 1.2 oferecendo apenas 1.15. É preciso explicar que não está desvalorizando a pessoa. Na verdade, o fato de eu querer comprar já demonstra que valorizo bastante o jogador. Mas, acima de tudo, eu sou um investidor e quero retorno.

Pra mim, era muito importante que o jogador batesse o online — naquela época, o online era bem mais duro que o ao vivo. Regulares de cash game de cassino local sonhando em brilhar em Vegas estavam bem abaixo na minha lista de prioridades.

Em 2012, quando comecei a comprar ações ativamente, os markups estavam muito baixos, mas a cada novo sucesso os preços aumentavam. Hoje em dia, acho que comprar ação no Main Event da WSOP já não compensa. Esse torneio é uma loteria gigante, em que todo mundo quer participar. A demanda é enorme, a oferta é limitada, os preços são inflados. Acho que o ROI dos compradores atualmente está por volta de -40%. Então hoje evito o Main — ou compro só por diversão, consciente de que no melhor dos casos estou jogando para ficar no zero a zero.

Ao longo da minha carreira, fui especialmente bom em identificar torneios com EV positivo. Muitos eram subestimados. Por exemplo, quase nunca deixei passar ações de regs online que ganharam vaga no Aussie Millions.

– Você mantém alguma estatística do seu ROI com compra de ações?
– Boa pergunta! ROI mesmo? Deixa eu pensar... É muito alto, claro, entre 50% e 80%, mas isso se deve a grandes sucessos no início e a compras exclusivas. Por exemplo, meu maior retorno depois do Balsiger veio quando um velho amigo meu, que eu financiava e treinava havia anos, teve uma grande forra. Não existem negócios como esse no mercado aberto. No total, investi cerca de 2,5 milhões e tive lucro entre 1 e 1,5 milhão.

– Vamos falar sobre makeup. Você escreveu coisas interessantes sobre isso no blog, mas já faz tempo que não atualiza.
– Sim, escrevi muito sobre isso — e deixei de escrever ainda mais. Tenho umas 20 matérias inacabadas sobre makeup. Resumindo: backing completo é algo totalmente diferente da compra de ações pontuais. É muito mais arriscado e exige atenção constante. Levei dois anos para entender todos os detalhes, e nesse tempo meus jogadores (eu financiava de 8 a 10 pessoas) perderam muito dinheiro. O maior prejuízo chegou a cerca de $400.000.

Claro, quando escolhia jogadores, analisava bem o nível deles, mas depois só entregava o dinheiro e não acompanhava o dia a dia. Isso não funcionava. Quando percebi que eles não se importavam com os resultados, treinavam pouco e faziam seleção ruim de torneios, rompi com dois ou três, e com os demais passei a cuidar de todos os aspectos do jogo de forma muito mais próxima. Toda semana falávamos ao telefone por pelo menos uma hora.

Eu encontrava treinadores para eles e estabelecia regras rígidas para jogar. Discutíamos diferentes cenários. Muitos jogadores não fazem ideia do que fazer quando ganham muito! Ou quando perdem muito e ficam presos no makeup. Eu os ensinava sobre variância, controle bankroll, explicava previamente em quais situações exigiria que descessem de limites. Também dizia como iria ajudar se estivessem no vermelho — pagando o cartão de crédito em dia para evitar multas, ou até ajudando com alguns milhares por mês para as despesas básicas. Explicava que makeup não é sentença, que eu continuo acreditando neles, que é só variância e por aí vai. Se eu fosse começar esse negócio de novo, com certeza começaria por essas conversas.

O maior problema é o modelo clássico de makeup. Quando o jogador vence, o lucro é dividido 50/50 com o backer. Quando perde, o prejuízo é todo do backer. Digamos que o jogador perdeu $30 mil. Em teoria, o backer só recupera o investimento depois que ele ganhar os $30 mil de volta. Na prática, estamos falando de alguém que não tem grana própria, mas tem contas a pagar, aluguel, carro, etc. Então os interesses do jogador e do backer começam a se desalinhar. O jogador fica tentado a correr mais riscos. Entra em torneios caros ou vai para o cash, onde pode até não ter edge, mas com sorte pode ganhar muito. Para ele, é win-win – ou ele se recupera, ou perde tanto que o backer desiste do contrato.

Não tem jeito — você nunca vai fazer outra pessoa cuidar do seu dinheiro como você mesmo cuidaria. É por isso que a maioria dos acordos com makeup acabam mal.

– Você ainda faz backing completo?
– Tenho apenas um jogador. Trabalhamos juntos há 10 anos. Há algumas semanas ele teve a maior forra da carreira, um valor de seis dígitos bem agradável. Em breve ele vai poder jogar só com dinheiro próprio — esse sempre foi meu objetivo. Depois que mudei meu jeito de encarar o backing completo, não demiti ninguém, mas também não contratei mais ninguém. Os que ficaram foram saindo aos poucos, em média um por ano.

– E com o que você trabalha hoje?
– Gerencio uma equipe que aposta em esportes. Nós não criamos as apostas, mas ajudamos outros jogadores a fazerem as próprias.

Alguns amigos ainda jogam poker, e de vez em quando eu compro ações deles. Mas agora é só por hobby, volumes bem pequenos mesmo.

Gosto de comparar backing no poker com venture capital. Eles têm muito em comum. Mas no poker não dá para comprar ações da Google em 2001 e virar milionário com isso. Se você banca alguém que sobe rápido até os high rollers, não consegue manter acesso exclusivo à ação dele. No poker, não existem contratos de cinco anos.

– Que conselhos você daria para quem quer comprar ações na WSOP 2025?
– Eu olharia para ações no Colossus ou no Reunion de $500, que têm field de 20 mil pessoas. Nesses torneios dá para imprimir dinheiro sem risco nenhum. Já em torneios aleatórios de $1.000 que começam numa quarta-feira, é muito difícil extrair algum EV. A mesa final vai ter jogadores muito fortes, e você precisa pensar em quanto tempo o jogador cuja ação você comprou conseguirá manter vantagem sobre o field. Ter edge no nível 1 do Dia 1 não quer dizer nada. Acredito que ações de regs mid-stakes com markup de 1.2 nunca se pagam nesses torneios. Eu tentaria negociar para 1.1, no máximo 1.15. Mas se conseguir pegar ação de um top player, esteja pronto para pagar mais.

– E para quem está vendendo?
– Não usem sites como o Poker Stake. É um ótimo produto para amadores que querem se divertir, mas um profissional não pode pagar 5% de comissão para o site. A longo prazo, isso sai caro demais. Crie sua própria rede de possíveis investidores e venda ações diretamente.

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