Durante o Main Event da World Series of Poker deste ano, eu planejava não apenas publicar o valor dos stacks dos jogadores com base no ICM, mas também tentar lucrar com isso. Separei uma quantia considerável de um milhão de dólares e fui para Las Vegas com o objetivo de me encontrar com jogadores e fechar alguns negócios.

O fundo que compra ações com base no ICM
O objetivo do fundo era adquirir ações dos jogadores com base no ICM ou próximo disso nas fases finais dos torneios. Nessa situação, ambos os lados saem ganhando — tanto o jogador quanto o investidor. O jogador consegue realizar o valor da parte do stack que está disposto a vender, e o investidor pode torcer por ele e ainda ter a chance de lucrar. O EV positivo do fundo vem da compra de ações de jogadores fortes pelo valor nominal do stack no ICM e de jogadores mais fracos com desconto.
Os investidores
Consegui reunir o milhão em apenas uma semana. Foi mais fácil do que imaginei. Coloquei $100 mil do meu próprio bolso e esperava arrecadar entre meio milhão e um milhão no total. Bastou publicar alguns tuítes, recorrer ao grupo de traders e mandar algumas mensagens privadas. Recebi mais propostas do que esperava, e precisei até recusar algumas. Cerca de 75% dos participantes do fundo eram backers e 25% eram jogadores profissionais. Não havia investidores de fora do mundo do poker.
O modelo de compra de ações com base no ICM ao longo do torneio me parece muito promissor. Reunimos uma equipe forte de investidores dos EUA, Reino Unido e Europa, muitos dos quais contribuíram não apenas com dinheiro, mas também com conhecimento valioso na avaliação de habilidades, escolha de clientes potenciais e contato com jogadores mais avançados no torneio. A ajuda deles foi fundamental na hora de escolher posições-chave para os nossos investimentos.
Os coeficientes
Parte importante do meu trabalho era determinar diariamente os coeficientes apropriados. Comecei a fazer isso no Dia 7, quando restavam 57 jogadores. Não tenho um algoritmo para estimar a vantagem de cada jogador — tudo era feito no olho. Meu principal recurso era o banco de dados do The Hendon Mob, com os resultados dos jogadores em torneios ao vivo. Quando eu não conhecia o jogador, entrava em contato com conhecidos do mesmo país ou estado para obter o máximo de informações, inclusive sobre resultados online.
Por respeito aos participantes, não vou divulgar minhas avaliações sobre o nível de jogo deles. Mas, todos os dias, a partir das 8 da manhã, eu utilizava todas as informações disponíveis para calcular o ROI estimado de cada um. A partir disso, criava uma lista dos candidatos mais promissores e um preço base para iniciar as negociações.
Vale lembrar que o ICM é apenas um ponto de partida para avaliar o valor justo de uma ação. Outros fatores — como o nível de habilidade, força do field, posição na mesa e distribuição dos stacks — também devem ser considerados.
O total de premiações no Hendon Mob também não conta a história toda. É preciso considerar o contexto — em quais torneios e em que período foram conquistados. Abaixo está uma classificação que montei antes do Dia 7. Os jogadores não estão ordenados por habilidade, mas sim por experiência — o que me ajudava a identificar quais precisavam de uma análise mais profunda para estimar o ROI real.


Contato com os jogadores
Depois de identificar os alvos prioritários, tentávamos contato direto ou através de amigos em comum. No Twitter, publiquei os valores dos stacks com base no ICM e informei que estava interessado em comprar ações. Cerca de metade dos contatos com possíveis vendedores veio desses tuítes.
Mas o processo era complicado. No Dia 6, havia 202 jogadores — um número muito grande para analisar e iniciar conversas individuais. Só no Dia 7 conseguimos negociar diretamente.
O Main Event é um verdadeiro maratona, e o tempo livre dos jogadores é um recurso escasso — eles precisam descansar, se alimentar e lidar com outras demandas básicas. Eu não queria atrapalhar a rotina deles, então o equilíbrio era essencial.
Os resultados
Como foi a experiência? Conseguimos comprar ações de três jogadores, totalizando US$ 75.000. Dois venderam no Dia 6, e um no Dia 7. No Dia 8 e antes da mesa final, não conseguimos encontrar vendedores.
Vou contar em detalhes como compramos a ação de Brandon Eisen no Dia 6, pois ele gentilmente autorizou que eu compartilhasse a história.
Após recomendação de um dos investidores, Brandon me procurou por DM no Twitter na noite do Dia 4. Ele avançou para o Dia 5 com 2,24 milhões de fichas, o que valia $227 mil em ICM, ocupando a 46ª posição entre 522. Respondemos pela manhã e começamos a conversar por mensagem.
Como a maioria dos profissionais, Brandon já tinha vendido ou trocado boa parte da sua ação antes do torneio. Ele ofereceu 10% para venda e rapidamente percebi que era uma boa oportunidade. Ele tinha um bom histórico e mostrou resultados que não constavam no Hendon Mob. Um dos investidores também o recomendava. Além disso, ele era chip leader da sua mesa. Ofereci $22.750 pelos 10% — exatamente o valor em ICM. Mas ele recusou. Gostava de sua posição e preferia continuar jogando. Disse que poderia reconsiderar caso avançasse para o Dia 6.
Ele conseguiu. Chegou ao Dia 6 com 3,25 milhões de fichas, valendo $315 mil em ICM. Fiz a mesma proposta — $31.500 pelos 10%.
Ele aceitou. Fechamos o acordo às 11h, uma hora antes do reinício do jogo. Escrevi o contrato rapidamente e fui até o Horseshoe. Dez minutos antes da retomada, assinamos tudo.
Cinco horas depois, Brandon caiu na 113ª posição, recebendo US$ 70 mil. O fundo, com 10% de ação, recebeu $7 mil, sofrendo uma perda de $24.500. Brandon, por sua vez, lucrou exatamente esse valor pela venda no timing certo.
Antes da venda, ele tinha 50% de si mesmo. Depois, ficou com 40%. Ou seja, levou $70 mil x 40% = $28 mil. Menos os $4 mil de buy-in, lucro líquido de $24 mil. Somando os $24,5 mil da venda, ele mais do que dobrou esse valor!
Esse retorno assimétrico em resultado mediano é o principal motivo pelo qual a venda por ICM deve interessar aos jogadores. Troquei mensagens com Brandon após a queda. Ele ficou chateado por perder um grande pote, mas feliz por ter fechado o acordo. Eu também. Apesar do prejuízo de -78% de ROI nessa compra, sigo convencido de que, no longo prazo, é lucrativa.
Os outros dois investimentos também terminaram no prejuízo, mas pelo menos tivemos por quem torcer até perto da mesa final. Um dos jogadores comprados no Dia 7 chegou ao Dia 8, mas perdeu importantes all-ins.
Conclusão
Minha semana em Las Vegas deixa sentimentos mistos. É frustrante ter conseguido investir apenas $75 mil dos $1 milhão arrecadado. Esperava mais ação no Dia 8 — houve algumas possibilidades na faixa de $300k a $500k, mas nenhuma se concretizou.
Ainda avalio se devo continuar atuando nesse mercado. Acredito que esse tipo de negociação é vantajosa tanto para o jogador quanto para o investidor. Muitos jogadores online e amigos compartilham dessa visão. Porém, o primeiro teste revelou um mercado pequeno e com muitos obstáculos.
Eis alguns problemas que enfrentei:
- Muitos jogadores não conheciam o fundo ou não queriam distrações durante o torneio;
- No início, muitos vendem ou trocam ações. Quando avançam, acham que têm pouco de si e não querem abrir mais mão;
- O lado emocional pesa muito. Depois de tantos dias de sucesso, os jogadores querem continuar apostando em si mesmos e temem "vender barato".
Mesmo assim, fico satisfeito por ter fechado três acordos. Apesar das perdas, tenho certeza de que, no longo prazo, o fundo sairá vencedor. E os jogadores ficaram satisfeitos. O apoio deles me motivou a mergulhar nesse novo mercado, que pode trazer benefícios reais para a comunidade do poker. Além disso, foi ótimo rever velhos amigos em Las Vegas.