Alguns dos Ups & Downs mais malucos de Jungleman
Quero contar sobre alguns dos swings mais insanos da minha vida — swings de milhões de dólares — que definitivamente me deixaram no limite.
Primeiro, vocês provavelmente já sabem sobre a Black Friday, quando muitos jogadores de poker tiveram seus bankrolls bloqueados. Eu estava entre eles. Na verdade, eu tinha o maior bankroll bloqueado de todos que eu conhecia: cerca de $4 milhões no Full Tilt Poker, que foi apreendido pelo governo federal em 2011 porque o Full Tilt vinha violando regulamentações e praticando lavagem de dinheiro. O PokerStars, por outro lado, pagou imediatamente. Para minha surpresa, até mesmo os $100.000 que eu tinha no Ultimate Bet Poker foram pagos.
O Full Tilt, no entanto, foi uma história diferente. Durante anos parecia que receberíamos, mas nunca acontecia. Em 2011, achei que havia resolvido o problema ao vender meu bankroll do Full Tilt para o Tom Dwan por cerca de 80 centavos por dólar. No dia seguinte, saiu a notícia de que o Full Tilt provavelmente seria comprado e os jogadores receberiam rapidamente. Liguei para o Tom para cancelar o negócio, e ele concordou em desfazer o acordo com um pequeno ajuste. Ele até me deu uma garantia: se o Full Tilt quebrasse e eu não recebesse nada, ele cobriria $2 milhões da minha perda. Isso foi generoso da parte dele, embora eu nunca tenha realmente cobrado.
Anos se passaram sem resolução, até que em 2014, do nada, o Full Tilt foi vendido e todos os saldos de jogadores foram pagos. Quando conferi minha conta, estava $4 milhões mais rico. Foi um upswing enorme.
No mesmo ano, outro evento inesperado aconteceu. Eu já suspeitava há tempos de ter sido hackeado por uma quantia significativa, e cheguei a mandar mensagem para Lars-Magnus Rasmussen (conhecido como “Lotten” no PokerStars) sobre isso. Eu não suspeitava dele, mas sim de seu amigo Peter Jepsen, que tinha uma reputação notória de estar envolvido em vários hacks de jogadores que somavam milhões.
Um dia em Las Vegas, recebi uma mensagem de um amigo chamado Jacob. Ele disse que pegou o Peter tentando hackeá-lo. Peter estava ficando na casa dele após uma internação hospitalar, e Jacob descobriu que ele havia instalado um trojan em seu dispositivo. Jacob disse ao Peter que ele poderia confessar ou seria exposto. Peter acabou admitindo para mim — e para outros — que tinha nos hackeado. Ele prometeu devolver o dinheiro e, para minha surpresa, transferiu $250.000 diretamente para minha conta bancária.
Outro upswing inesperado.
Além disso, eu estava runnando bem nas mesas, com mais de $1 milhão de lucro em Las Vegas jogando mixed games de $2K/$4K. Durante essa sequência, um amigo me apresentou uma oportunidade de investimento que prometia gerar $2 milhões em nove meses. Tudo o que eu precisava era fazer um empréstimo hard money de cerca de $4–5 milhões e investir $1 milhão do meu próprio bolso. O negócio envolvia um grande corretor de imóveis, Kurt Rappaport, e seu protegido, desenvolvendo uma propriedade em Hollywood Hills. Supostamente, outro investidor chamado Charles estava tentando recomprar o contrato, o que fazia parecer uma grande oportunidade.
Apesar de várias pessoas me alertarem contra, eu já havia investido cerca de $100.000 e dado um depósito para o empréstimo. Cancelar me custou outros $200.000. Me convenci de que valia o risco porque queria fazer algo além do poker, algo maior.
Esse foi o começo de uma história cara.
Na mesma época, fui procurado para ajudar o grupo de high stakes asiático liderado por Paul Phua. Vários membros haviam sido presos pelo FBI por supostas violações de apostas esportivas. Eles precisavam de pessoas de fora do grupo para pagar fiança. Depois de pesquisar a questão legal e consultar um advogado, concordei em pagar $1 milhão de fiança para um dos réus — não o Paul. Parecia arriscado, mas o aconselhamento jurídico indicava que era seguro.
Eu não tive acesso a esse milhão por um tempo, mas acabei recebendo de volta, junto com uma carta de agradecimento sincera da pessoa que ajudei.
Esse era o ambiente em que eu estava operando quando a situação dos imóveis começou a se desenrolar.
Eles precisavam de pessoas de fora do grupo para pagar a fiança, e vários já estavam ajudando Paul e o resto. Eu fui um dos abordados para pagar $1 milhão de fiança para alguém — não o Paul em si. A ideia era que seria um favor e, de acordo com o que me disseram, o risco era mínimo.
Fiz minha própria pesquisa e consultei um advogado para confirmar que não estaria me colocando em risco legal. Na superfície, parecia arriscado, mas, na realidade, não era. Ainda assim, pagar $1 milhão significava ficar sem esse dinheiro por um bom tempo, sem nenhuma garantia de que o recuperaria.
Algum tempo depois, o negócio dos imóveis desmoronou completamente. Tive que arcar com as perdas do meu investimento inicial e do depósito do empréstimo. Doeu ainda mais porque várias pessoas já tinham me alertado para não me envolver, mas eu me convenci de que era uma oportunidade imperdível. Olhando para trás, foi uma lição dolorosa, mas valiosa, sobre confiar nos instintos e fazer uma devida diligência completa antes de comprometer grandes somas fora da minha área de expertise.
No mesmo período, a situação da fiança com o grupo de Paul Phua acabou se resolvendo sem incidentes. A pessoa para quem paguei o milhão compareceu ao tribunal, o processo legal seguiu, e recebi de volta todo o valor. Junto, veio uma carta sincera de agradecimento e uma promessa de retribuir o favor no futuro, se eu algum dia precisasse. Foi um enorme alívio, mas também um daqueles momentos em que você percebe o quanto de estresse fica pairando sobre sua cabeça quando uma quantia dessas está em jogo.
Todos esses eventos — o pagamento do Full Tilt, a restituição do hacker, a upswing no poker, o fracasso do investimento imobiliário e o pagamento da fiança — aconteceram em um período relativamente curto. Cada um podia mudar meu patrimônio líquido em centenas de milhares ou milhões para qualquer lado. Era como andar em uma montanha-russa financeira em velocidade máxima, com cada curva e queda amplificada pelo tamanho absurdo dos números. Mesmo tendo saído à frente no geral, a volatilidade foi exaustiva e moldou a forma como passei a encarar tanto o poker quanto os investimentos dali em diante.
Aconteceu um atraso, e ninguém sabia bem por quê. Descobrimos depois que era legalmente impossível construir outro andar na casa. O vizinho tinha deixado claro desde o início que não permitiria, e estava decidido a barrar qualquer tentativa. Isso nos deixou com um grande problema — não podíamos expandir a casa, mas eu ainda tinha que pagar $40.000 por mês do empréstimo hard money. O prazo era de um ano e, em 2014, eu havia calculado que, enquanto evitasse uma downswing, conseguiria bancar com tranquilidade. Infelizmente, em 2015, a downswing chegou.
Comecei a jogar Deuce to Seven e outros mixed games e, embora eu possa ter cometido alguns erros, as runouts foram cruéis. As perdas se acumularam rapidamente. Enquanto isso, a casa não vendia, seu valor caía e percebi que teria um prejuízo maior do que pensava possível. Além disso, eu tinha obras de arte que deveriam ter sido liquidadas até então, mas não estavam sendo vendidas. Muitos dos meus investimentos privados simplesmente não estavam dando retorno. O hacker que havia devolvido parte do dinheiro roubado ainda não tinha pago o restante, e tive que aceitar que parte daquela perda era definitiva. Eventualmente, todos entraram com ação judicial contra ele.
Conforme 2015 avançava, as coisas pioraram. Fui ao Commerce Casino, mas nada dava certo: perdia em todos os jogos.
No Poker Chinês, eu estava ganhando $500.000 do Aussie Matt e pensei que não poderia perder. Então, ele recuperou tudo e continuou, me destruindo completamente. Chequei uma oportunidade de poker no Panamá, que também acabou sendo um fracasso. Pelo menos a Cidade do Panamá era linda, e passei um tempo lá e nas ilhas com minha ex-namorada. Ela ficou comigo durante tudo isso, o que foi um dos poucos pontos positivos.
Mais tarde, fui a Mônaco para grandes jogos de PLO com Ben Lamb, Rafi Amit, Aussie Matt e outros. Lá, emprestei £200.000 a Fred Sines, achando que ele era confiável. Rapidamente aprendi o contrário — ele nunca devolveu, não importava como eu pedisse, e várias pessoas boicotaram o jogo por causa disso. Essa perda doeu bastante, e eu já estava queimando dinheiro com a casa todo mês.
A única verdadeira notícia boa foi que eu recuperei o $1 milhão da fiança paga para o grupo asiático. Enquanto a WSOP acontecia, voei para Montenegro para um jogo de no-limit hold’em — meu melhor jogo — com buy-in de 4 milhões de HKD (mais de $400.000). Eu não tinha todo o bankroll, então arranjei um backer. Achei que seria minha chance de virar o jogo. Em vez disso, perdi logo na primeira sessão. Também fiz algumas props, o que irritou tanto os organizadores do jogo quanto meus backers. Continuei perdendo, chegando perder mais de 20 milhões de HKD, e em certo momento batendo 30 milhões em perdas. Então, o “Chairman” apareceu e o jogo dobrou de tamanho.
Comecei a runnar bem e pensei: “Ok, essa é minha saída.” As coisas estavam indo muito bem, mas acabei perdendo uma boa parte no fim da noite e voltei para o buraco. Em algum momento, o jogo mudou para PLO e meu celular estava descarregado. Perdi um pouco mais de dinheiro, e alguns backers cancelaram sua parte porque não confiavam muito no meu jogo de PLO, o que me custou mais $100.000. Nesse ponto, eu estava em sérios apuros e bastante desanimado. O próprio Phil Ivey me mandou uma mensagem para ter certeza de que eu estava bem, porque estava claro que eu estava em sofrimento. Ainda me lembro desse momento.
O lado positivo era que Montenegro tinha áreas belíssimas, como Kotor, onde você podia sair de barco e apreciar a paisagem. Mas, com meus backers perdendo confiança e meu bankroll em espiral, as coisas não pareciam boas. Depois de tudo isso, eu estava em cerca de 40 milhões de dólares de Hong Kong no vermelho. Então joguei uma sessão e ganhei 30 milhões de volta, ficando “apenas” 10 milhões negativo, o que era pequeno considerando os buy-ins de 4 milhões de HKD. Mas logo veio mais uma má notícia: um parceiro no jogo chamado Ye, que já tinha criticado meu jogo antes, disse que havia perdido pesado. Minha parte da perda dele chegou a HKD 800.000. Não era catastrófico, mas ainda assim aumentava o ferro.
Voltei a Las Vegas. A boa notícia é que venci lá, mas a má notícia é que ainda estava preso em uma downswing geral. Online também estava perdendo. Cheguei até a jogar alguns sit and gos de $100.000+ com Leon Tsoukernik, achando que era uma boa chance de recuperação, mas o Leon me venceu algumas vezes. Ele runnou bem e também jogou melhor do que eu esperava, com leituras intuitivas fortes. Isso me afundou ainda mais.
Mais tarde naquele ano, alguém voltou a me bancar, o que foi crucial. Viajei para Mônaco, Manila e outros lugares para jogar o jogo de 4 milhões de HKD de buy-in com o grupo asiático. Eu tinha que lutar para manter meu assento, porque as pessoas estavam perdendo confiança em mim. Muitos jogadores fortes, incluindo Isaac Haxton, Igor Kurganov e Philipp Gruissem, já haviam jogado esse jogo, perdido e desistido. O jogo era mais duro do que o esperado, mas ainda batível.
Uma downswing aconteceu quando joguei de forma passiva com dois pares contra alguém que eu suspeitava ter uma mão melhor. Apenas dei check-call e acabei perdendo para dois pares maiores. De frustração, bati uma ficha na mesa, que voou passando pela orelha do Chairman. Como o Chairman era o grande chefe, isso podia ter acabado mal, mas ele e seu amigo Shanghai Wong acharam engraçado em vez de ofensivo.
Continuei perdendo e tive que lutar para manter minha participação no jogo. Eventualmente, comecei a estudar solvers, e isso mudou completamente minha abordagem. Percebi o quanto da “sabedoria convencional” estava errada, quantas possibilidades eram ignoradas e quantas estratégias de sizing as pessoas estavam executando de forma equivocada. Esse estudo melhorou bastante meu no-limit e meus mixed games.
Embora ainda estivesse em uma downswing, mais tarde naquele ano tive uma enorme upswing, cerca de $1 milhão, em parte graças ao estudo com solvers. Nessa época, enfrentei outro grande problema: o governo colocou um penhor na minha conta por quase $2 milhões em impostos atrasados de 2014. Eu precisava refinanciar minha casa para pagar, mas não tinha dinheiro em mãos.
Consegui vender uma obra de arte na qual tinha investido, mas o negócio só seria concluído na semana seguinte. Erik Seidel me emprestou dinheiro para que eu pudesse quitar a dívida a tempo.
Logo depois, aconteceu um massivo jogo com buy-in de $1 milhão em Manila. O Chairman declarou que ninguém poderia sair até perder $1 milhão (10 milhões de HKD). O jogo durou 72 horas, e eu dormi apenas uma hora. No meio disso, tive que atender uma ligação para finalizar o refinanciamento da minha casa, que baixou minha taxa de juros para 3% e me salvou de um colapso financeiro.
Mesmo tendo perdido nessa sessão, no longo prazo deu certo. Nos dois anos seguintes, me tornei o maior vencedor nesse jogo de Manila. Isso abriu portas para jogos ainda maiores e novas oportunidades. Apesar do meu jogo lento e comportamento reativo no início, os outros jogadores me toleraram até eu ajustar minha postura na mesa. Enquanto isso, vender a propriedade acabou sendo mais complicado do que eu pensava. Cheguei a recusar uma oferta na faixa de $6 milhões de um comprador em potencial.
Ele disse que era a oferta final, mas por algum motivo eu não acreditei ou achei que a casa valorizaria. Gostaria muito de ter aceitado essa oferta, mas não podia voltar atrás. Houve outras ofertas na faixa de $5,8 milhões, mas quando tentei aceitá-las depois, já era tarde demais. Tentei alugar a propriedade, mas descobri que não podia colocá-la à venda e para alugar ao mesmo tempo. Também havia problemas de manutenção, e ninguém me avisou que precisava manter a casa em boas condições para visitas ou locações. O piso foi danificado, e outros problemas se acumularam.
Um momento memorável daquele período foi uma festa em casa no final de 2014 organizada por Justin Smith. Vieram vários convidados conhecidos, incluindo Pamela Anderson, Rick Salomon, Andy Milonakis e outras personalidades de Hollywood. Foi surreal ter celebridades na minha casa e, embora isso não tivesse valor monetário, foi uma experiência única em meio a tudo aquilo.
Apesar do estresse, ainda houve momentos agradáveis — lugares luxuosos, boa comida e momentos de relaxamento. No fim, vendi a casa por um preço muito pior do que as ofertas anteriores que havia recebido. Olhando para trás, deveria ter vendido imediatamente em vez de esperar. Aprendi uma lição importante sobre não ser ganancioso com avaliações e saber largar um mau investimento.
Acabei perdendo pelo menos $1,5 milhão, possivelmente mais de $2 milhões, com a propriedade. A boa notícia é que continuei rico no geral, ainda mantendo uma grande parte do meu patrimônio líquido, e saí com lições valiosas. As maiores foram ser mais cauteloso ao confiar nas pessoas — não apenas nas intenções delas, mas também certificando-se de que suas ações correspondiam às palavras — e garantir que os negócios estivessem devidamente estruturados.
No fim das contas, espero que essas lições possam ser aplicadas em escala maior. Espero atuar em apostas ainda mais altas no futuro e sei que as coisas raramente saem exatamente como esperado, seja para o bem ou para o mal. Sempre há espaço para surpresas positivas e negativas, então a melhor abordagem é jogar seu melhor jogo conforme cada situação se desenvolve.
