Korntuh e Foxen falam sobre Martin Kabrhel: "Um personagem interessante!"

Korntuh: Como vão, pessoal? Hoje, eu e o Alex Foxen vamos conversar um pouco sobre Martin Kabrhel. As opiniões sobre esse personagem são bem polarizadas — há muito ódio, muita admiração e poucos indiferentes. Vamos falar sobre o comportamento dele nas mesas e sobre como enfrentá-lo, algo importante caso você tenha a chance de cruzar com ele em jogo.

Foxen: Neste verão, ele ganhou uma publicidade absurda. Onde quer que eu fosse, todos me perguntavam o que eu achava do Martin, como eu conseguia manter a calma, como não perdi o controle e por aí vai. Ele é realmente um personagem interessante. Uma pessoa única.

Korntuh: Ah, sim. Em muitos aspectos, ele parece de outro mundo, mas é divertido. Essa é minha opinião hoje. Dois anos atrás, quando joguei contra ele na mesa final do torneio de $250K, eu pensava diferente — naquela época ele era suspeito de cheating. Hoje, não acho que ele seja trapaceiro, porque entendo melhor as motivações por trás do comportamento dele.

Foxen: Claro, quando você suspeita que alguém está trapaceando, sua visão muda completamente. Se você acha que o cara está marcando cartas ou algo assim, é natural querer expulsá-lo ou exigir uma desclassificação. Mas quando essa suspeita se dissipa — e eu acredito que ele não está mais sob investigação...

Korntuh: Muita gente ainda acha que ele trapaceia em Rozvadov!

Foxen: Ok, tudo bem, não estou tentando defendê-lo nem posso garantir que ele não trapacearia se tivesse oportunidade. Mas na World Series o time de segurança é competente. Não acho que ele marque cartas, especialmente agora que todos estão atentos.

Voltando ao ponto: para mim, está claro que o objetivo dele é deixar os adversários inseguros. Quando surgiram as acusações de cheating, ele embarcou nelas com prazer. A ideia de que ele marcava cartas parece tê-lo deixado feliz, porque isso tirava os outros do eixo. Para agir assim, é preciso ter um certo grau de sociopatia. Ele tem uma característica raríssima: sente-se confortável sendo odiado por todos. A capacidade dele de ignorar o que os outros pensam é maior do que a de qualquer pessoa que eu conheça.

Ele também nunca sai do personagem. É tão consistente que eu adoraria vê-lo em casa com a família. Será que ele zomba dos filhos durante o jantar? Fico muito curioso.

Korntuh: Ele tem filhos?

Foxen: Sim, cinco ou seis.

Korntuh: Sério?

Foxen: Sim.

Korntuh: Eu adoraria instalar uma câmera escondida na casa dele.

Foxen: Honestamente, acho que veríamos um caso clássico de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Provavelmente ele é o homem mais gentil do mundo com os filhos. Mas ele é da Europa Oriental, onde as pessoas não costumam ser muito afetuosas e têm expectativas elevadas, então demonstram amor de um jeito mais frio. Mas não acho que ele seja uma pessoa má.

Ele brinca com as suspeitas porque sabe que isso desequilibra os outros. E é importante lembrar que ele joga poker por diversão. Ele é empresário e sei que o poker não é sua principal fonte de renda. Esse comportamento nas mesas é uma tentativa de ganhar alguma vantagem. E temos que admitir: manter esse personagem o dia todo não é fácil. E parece funcionar!

Korntuh: Funciona muito bem. Era sobre isso que eu queria falar. Quando você está na mesa com ele, o comportamento realmente irrita. Ele pode ficar três minutos decidindo se vai ou não dar um raise no pré-flop. Um absurdo! É por isso que os oponentes dele chamam tanto o floor para pedir tempo. Acho que essa é a melhor maneira de lidar com ele. O floor dá um minuto, depois reduz o tempo, e o Martin é obrigado a jogar mais rápido.

Se ninguém controlar o tempo, imagina: você está à esquerda dele, ele pensa por dois ou três minutos, você se entedia e olha suas cartas — e ele ganha uma leitura de graça! É um detalhe, claro. Mas quando você está blefando, é difícil manter a expressão neutra por tanto tempo. Então é importante coibir essas demoras desde o início.

Foxen: Felizmente, a maioria dos torneios high stakes usa shot clock. Mas quando joguei sem relógio, percebi que alguns regs pensam demais. Não entendo a motivação. Racionalmente, o ganho é mínimo, e em certo ponto o jogador perde EV por desacelerar o jogo — se ele for ganhador, claro. Entendo quando é o Martin, mas e quando é um cara que joga 12 mesas no online e no ao vivo leva 3 minutos por decisão? Também acho normal pedir relógio nesses casos. Não é pessoal, é profissional — quero jogar mais mãos, principalmente em mesas fracas.

Tive situações assim na série. O cara aposta 80 mil, recebe all-in com 90 mil a mais, o pote é enorme... e eu já podia pedir para cronometrar em 30 segundos. “Desculpa, amigo, mas três minutos pra essa decisão não dá. Você sabe o que tem que fazer.” Nada pessoal, só quero jogar poker.

E com o Martin é igual. Se ele quer usar isso a favor dele, a gente também pode responder na mesma moeda.

Korntuh: Vamos ver uma mão que, acho, o Foxen ainda não tinha visto. E ouvir o que o Martin diz.

– Azarado, hein? Mas não desanima, logo isso acaba.

Bryn apenas paga.

– Ah, não! Vai dar check no escuro? Só pra economizar tempo? Por favor? Você nunca dá lead contra mim, 0%. Vamos lá, check no escuro, ok?”

Korntuh: E aí temos a situação: ele fala sobre “0% leads”, e o flop vem dá uma trinca para Bryn. Como você jogaria no lugar dele, levando em conta essa conversa?

Foxen: Para a maioria dos jogadores, eu diria para ignorar completamente o que o Kabrhel fala. Mas o Bryn é experiente e confiante. Pode ter pensado: “Se o Martin não quer ver um lead, então é exatamente o que eu vou fazer.” Ou simplesmente achou divertido sair apostando com uma mão forte.

Acho que o Martin lida muito com o reflexo natural das pessoas de fazer o oposto do que ele diz. “Nunca saia de lead contra mim? Pois agora vou fazer isso!” Ele pode contar com isso — e por isso o lead com trinca é inteligente.

Bryn aposta 200K.

– Esse cara é demais! Lead só pra me provocar. Se eu foldar, não vou conseguir me olhar no espelho.

– Não, acho que você quer mesmo cair na bolha. Call. Só não faz besteira, não quero te eliminar — tenho outros alvos nesta mesa.

Foxen: Essa frase “outros alvos na mesa” é nova, só apareceu este ano. Nunca tinha ouvido antes. Ele sempre me escolhe como alvo, não sei por quê. Em todo torneio ele chega à minha mesa, pede desculpas e diz a alguém: “Pode eliminar o Alex, por favor?” (risos)

Bryn dá check no turn.

– Horrível! Terrível. Agora não tenho ideia do que fazer.

Foxen: Ele está dizendo a verdade! Está confuso mesmo!

– Aposto meio milhão! Ah, você sorriu. Vai, paga — senão não vai ter motivo pra sorrir.

Foxen: Eu teria feito um check-raise pequeno aqui.

Korntuh: Concordo. O range do Martin é amplo. Ele tem um stack maior e estamos a duas posições do dinheiro. Não bloqueamos paus... seria um bom raise.

Bryn paga e dá check no river.

Martin também dá check.

– Estou sonhando? A vida é linda.

Foxen: Ele parece achar que tem a melhor mão. E, na verdade, costuma ser bem honesto nessas situações.

Teve uma mão comigo em que ele acertou runner-runner flush e, antes do turn e do river, pediu por uma carta de paus. Interpretei isso como showdown value forte, mas ele só tinha a num flop A-high. No river, paguei a value bet dele. Ele me pegou!

Korntuh: Tenho uma história engraçada da bolha do torneio de $50K Omaha na última WSOP. Faltavam 43 minutos pro fim do nível. O Shaun Deeb fez uma aposta com outro jogador: deu $700 pra ele, mas ganharia $100 a cada vez que o Kabrhel dissesse “Not Like that!” (Assim não) até o fim do nível.

Foxen: 43 minutos? Que aposta terrível! O Shaun é um gênio por achar clientes assim. Quanto ele ganhou?

Korntuh: Eu caí 8 ou 10 minutos antes do fim do nível, e o Deeb já estava ganhando $1.100. Recuperou o investimento em 15 minutos.

Foxen: Qualquer um que já jogou com o Martin sabe que essa foi uma aposta +EV pro Deeb.

Korntuh: Quer deixar uma última mensagem?

Foxen: Muita gente me pergunta como eu consigo não dar um soco nele. Sinceramente, nunca foi difícil pra mim. Eu gosto quando ele está na minha mesa. O motivo principal é que o comportamento dele faz todos os outros jogarem pior. Não só contra ele, mas também contra mim. Como ele não me afeta, acabo me beneficiando. E, claro, acho divertido observá-lo. Gosto das conversas nas mesas, mesmo que ele nunca responda — o papo com ele é sempre mão única.

Na minha opinião, ele é um cara extremamente divertido e inteligente. Não tenho nenhum ressentimento contra ele.

Korntuh: Concordo totalmente.

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