Em maio, Xuan Liu fez o hit-and-run mais encantador da história dos torneios high rollers: ela foi pela primeira vez ao Triton, venceu imediatamente um torneio de $25.000 — e logo depois, feliz, voltou para casa, em Toronto.

Xuan Liu, que viajou pela primeira vez para disputar uma etapa da série Triton, venceu logo de cara um torneio com buy-in de $25.000. No heads-up, ela superou Daniel Dvoress, apesar de ter começado com uma desvantagem de quase quatro vezes menos fichas. Contamos como ela conseguiu isso.

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No verão americano, Xuan participou do podcast de Jungleman — e a conversa foi simpática e bem aberta.

— Olá a todos! Hoje recebo a primeira mulher campeã de um torneio Triton na história, regular de cash games $100/$200 e acima: Xuan Liu! Lembro de você me aplicando 4-bet na stream do Poker Night in America... Sem medo! Me diz, mulheres já tinham vencido torneios high rollers antes?

— Oi! Nesse ponto, com certeza não sou a primeira. Lembro bem que recentemente Cherish Andrews venceu na Flórida, também em um torneio de $25k.

Pela vitória, Andrews recebeu $408k

— Ah, verdade. Mas Triton é outra coisa, né? Só tem top-reg atrás de top-reg, jogar esses torneios chega a ser quase irracional, na minha opinião. E você foi lá e venceu — acho isso um feito único.

— Também não concordo. Kristen Foxen sempre se destaca, inclusive no PGT — e lá também os fields são muito difíceis.

— É verdade, a Kristen manda bem.

— Existem mais mulheres fortes do que você imagina, Dan!

— Ok, e em que posição você colocaria a si mesma no ranking feminino?

— No top das jogadoras de torneios? Nem perto, joguei uns 10 torneios esse ano. Eu gosto de torneios, mas eles não são prioridade para mim.

— Mulheres fortes no cash eu, além de você, quase não conheço. Então no meu top pessoal você está lá em cima.

— Você ficaria surpreso se soubesse quantas mulheres talentosas existem hoje. Elas só não são muito conhecidas e estão espalhadas pelo mundo. Eu conheço algumas muito fortes da China — como a Saya Ono, por exemplo. Recentemente estive no podcast dela.

Sanya Ono

Muitas também não falam inglês, não produzem conteúdo para o YouTube — mas isso não significa que não sejam excelentes.

— Ok, ok, você me convenceu! Mas vencer um torneio do Triton ainda assim é incrível.

— Não nego! Algumas mesas foram bem difíceis. Mas contei com a sorte, ganhei all-ins no momento certo. É assim que funcionam os torneios: esperar o momento certo e estar preparada para aproveitá-lo. Não superestimo minhas habilidades em torneios, não estudei tanto. Tenho certeza que muitas mulheres regulares de mid stakes teriam ROI muito maior que o meu nesses torneios Triton. Se pudessem se dar ao luxo de jogá-los…

— Você é modesta, isso é fofo! Mas o que impede essas jogadoras de subirem de limite e irem para o Triton? E por que, em geral, vemos tão poucas mulheres bem-sucedidas no poker?

— Boa pergunta, Dan. Existem, sim, barreiras. Olhe para a arena dos high stakes — esse clube masculino, onde todos são amigos e trocam percentuais. No feminino não existe nada parecido. Para uma mulher ir jogar no Triton, é preciso um backer muito rico que acredite nela.

E qual é o ROI real nesses Tritons? Muito pequeno, na prática. Qual bankroll seria necessário? Uns 100 milhões? Mulheres com esse tipo de recurso existem em número muito menor que homens. E além disso, para as jogadoras é difícil conseguir backing sem que isso venha acompanhado de... algum tipo de “bônus”.

— Isso eu já ouvi bastante também — essa conotação sexual. Mas voltando ao “clube masculino”: se parte deles joga Triton no negativo, eles não acabam quebrando no longo prazo?..

— Sua chance de jogar torneios high rollers depende diretamente da sua capacidade de agradar às pessoas, de se vender bem para os backers. Sem isso, não dá para ser regular no Triton.

— Mas existe outro caminho — pelo online, certo? Você mostra resultados, apresenta um gráfico bonito e atrai investidores.

— Sim, foi exatamente assim que cheguei ao live. Postei gráficos do FTP e do Stars no 2+2 e consegui backing para jogar o EPT. Mas hoje em dia é diferente, está muito mais difícil. O nível de jogo necessário para entrar nos high rollers é altíssimo. Aliás, uma das primeiras pessoas a comprar uma parte minha para o EPT foi Melanie Weisner, que naquela época era embaixadora do FTP. Sou muito grata a ela, nunca vou esquecer.

Melanie Weisner

Eu também sempre tento não recusar mulheres que oferecem cotas para vender. Claro, desde que o mark-up seja justo. Aliás, o PokerStake (site do Josh Arieh) costuma dar destaque extra para propostas de mulheres, e isso também é ótimo.

— Quão caro você joga hoje em dia? Cash $100/$200? Quero te perguntar quanto você ganha, você se importa?

— Eu ganho bem... :)

— Haha, o que isso significa?

— Bom, se eu mostrasse um gráfico dos meus limites atuais, você diria algo como: “Ok, é a média dos regulares”. Você não reagiria com um “uau, impressionante!”, nada extraordinário. Outro problema é que meu jogo não roda com tanta frequência e, mesmo quando roda, nem sempre consigo um assento.

— Uau.

— Sim, às vezes passo semanas sem nem tocar nas fichas. Dá para me considerar uma profissional de poker nessa situação? No geral, acho que sim: eu jogo bem e vivo disso. Mas certamente haveria quem dissesse que não: porque eu não tenho uma rotina de grind e também trabalho muito menos no meu jogo do que poderia.

— Você não é embaixadora do WPT?

— Já não sou mais, o contrato acabou. Eles não trabalham mais com profissionais, preferem contratar vloggers para atrair o público jovem.

— Mas você também não cria conteúdo?

— Não é meu ponto mais forte. Faço o que consigo!

— E como mais alguém pode subir para os high stakes hoje, se não pelo online?

— Hm, de nenhuma forma? É muito difícil imaginar outro caminho. Onde mais você ganharia experiência se não no online? Quantos anos seriam necessários no live para acumular bagagem e se tornar forte o suficiente para jogar limites altos? Não consigo imaginar como seria possível sem ter o online no currículo.

— Mas existe outro caminho? Produzir mídia, criar conteúdo e aí acabar conseguindo um contrato. Para isso não é necessário ser um top-reg. Especialmente para as mulheres. Não há uma fila de empresas querendo assinar com uma jogadora embaixadora?

— Não quero te desanimar, Dan, mas não é tão simples assim. Primeiro, hoje em dia os contratos de embaixador não pagam tanto. Segundo, a concorrência ainda é grande. Existem os top-vloggers: Rampage, Brad Owen, Wolfgang — esses sim têm fila atrás deles. O resto vive com pouco, o mundo do poker é pequeno demais. Para conseguir um bom contrato, você precisa oferecer algo único, algo que faça os patrocinadores acreditarem que o investimento em você vai valer a pena.

— Na minha opinião, uma jogadora de poker já é, por si só, algo único.

— Em parte. Eu não tenho do que reclamar, mas no geral é tudo bem mais complicado do que você imagina.

— Provavelmente. Mas também existe a opção das streams, não? Dá para ganhar visibilidade e ainda os fields são mais fáceis.

— Sim, concordo. Aliás, eu tenho certeza de que mulheres na mesa são uma espécie de pílula mágica para qualquer stream que queira aumentar a audiência.

— Sério?

— Absolutamente. Se na capa aparecer uma mulher bonita, os cliques estão garantidos. É simples assim. Se for um homem, por melhor que ele seja, os espectadores só vão clicar se souberem quem ele é. Já com uma mulher, vão clicar de qualquer jeito.

— Me fale sobre o seu desafio canadense.

— Sim, eu queria fazer algo especial no Canadá — o país que deu tanto para mim e para meus pais. Tudo o que conquistei na vida devo ao Canadá.

— Então você considera o país sua pátria?

— Sim, mas claro que também sou chinesa. Tenho as duas culturas dentro de mim.

Em determinado momento, percebi que já tinha viajado metade do mundo e ainda não conhecia muitos lugares interessantes no Canadá. Muita gente não faz ideia de como o país é enorme. Então decidi mostrar quantos lugares incríveis temos. O desafio era assim: eu tinha um bankroll de $1.000 para o online e $1.000 para o live, e todas as despesas (voos, hospedagem) também tinham que sair desse dinheiro.

— Nossa.

— Pois é! Se eu gastava $500 em uma passagem aérea, pronto — um quarto do bankroll já ia embora.

— Isso não era um desafio fadado ao fracasso?

— Foi muito difícil! Mas ao mesmo tempo é a realidade de muitos regs. Sem bankroll e sem backers, você simplesmente joga, paga as contas e tenta sobreviver.

— E como foi seu desempenho?

— Consegui me manter. Quando já tinha visitado todas as 10 províncias e cheguei ao território de Yukon, eu tinha $300 no bolso. Fui a um cassino local jogar Omaha com bomb pots $1/$2 — e terminei com $4.000 de lucro.

— Haha! Mas, justiça seja feita, as pessoas realmente jogam muito mal bomb pots.

— Sim, cometem erros caríssimos, daqueles que você já não vê mais no hold’em.

— Em uma entrevista sua ouvi algo surpreendente: você contou que chegou a dormir no chão de um cassino em Atlantic City. Como foi isso?

— Ah, sim, mas isso faz muito tempo, quando eu estava só começando minha carreira no poker.

— Nossa… e como alguém sai de um começo tão baixo para chegar aos high rollers?

— Ganhando duas vezes, em um ano, $500.000.

Nota da redação — Nos festivais do PokerStars no início dos anos 2010, Xuan teve bons resultados.

— Eu pensei que você tivesse começado no cash.

— Também joguei cash. Mas os torneios, claro, permitem subir muito rápido.

— Se bater.

— Aham. Mas eu não tinha muitas opções. Eu e minha mãe combinamos que eu viajaria pelo mundo jogando poker durante um ano — e se não desse certo, eu sossegaria e arrumaria um trabalho “normal”. Então o tempo era curto! Felizmente, aquele ano foi excelente.

— E sua mãe aceitou sua carreira no poker?

— Sim, em certo momento eu a levei para Sanya (Nota da Redação: cidade turística no sul da China), onde acontecia uma etapa do WPT. Entramos no salão e ela viu um enorme banner com meu rosto.

— Fantástico. “Olha, mãe, sou uma estrela!”

— E eu nem sabia que aquele banner estaria lá.

— O que é melhor: quando as pessoas te reconhecem ou quando não têm ideia de quem você é?

— Aqui não tem dúvida: minha carreira se sustenta muito no fato de eu ser reconhecida. Minha vantagem não está em ter decorado algo no solver e arrancar 1 BB extra em spots difíceis contra regs. Não! Eu ganho porque pessoas que me viram no YouTube, de vez em quando, simplesmente me entregam stacks de 1.000 BB do nada.

— O que você diria para jogadores que sonham em ter uma carreira de poker no live hoje? E uma pergunta relacionada: como evitar que os gastos com viagens acabem com o bankroll?

— Ah, os custos paralelos são um pesadelo. Mesmo quando já jogava torneios EPT de $5k e $10k, muitas vezes eu dividia apartamento com alguém ou dormia no sofá de amigos (e, como já sabemos, uma vez até no chão). Isso, aliás, é outro problema para mulheres no poker: nem todas aceitariam esse tipo de situação.

Quanto a conselhos para iniciantes, não acho que eu tenha moral para recomendar nada. Minha carreira é muito um caso de “sobrevivente”. Bastava um ou dois torneios terem corrido de forma diferente — e eu não estaria aqui conversando com você, mas sim trabalhando em algum banco.

Mas tive muita sorte, inclusive de fazer amizade com jogadores muito fortes. Aliás, nisso talvez as mulheres tenham uma vantagem: não é tão difícil criar conexões úteis.

— Concordo totalmente. Não posso dizer que me interesso muito em conversar com homens jogadores de poker. Com mulheres é outra coisa!

— E o que você faz hoje? Em que está focada além do poker?

— Na verdade, o poker ainda é minha prioridade. Eu sigo muito curiosa sobre até onde posso chegar. Produzo conteúdo aos poucos, trabalho no meu branding, tento atrair as pessoas para o jogo.

— O que te inspira a continuar evoluindo?

— Gosto de sentir que fico cada vez mais confiante à mesa. O dinheiro também motiva, a liberdade financeira sempre foi importante para mim. Quando nos mudamos para o Canadá, éramos muito pobres, lembro bem disso. Mas meus pais deram conta, e eu também consegui. Faço conteúdo em parte para mostrar que o caminho nem sempre é fácil, mas se você acreditar em si mesmo e se esforçar, pode dar certo.

— Você já tem ideias para novos conteúdos? Sua viagem pelo Canadá foi muito legal; pensa em outro projeto parecido?

— Sim, penso. Afinal, conhecer o mundo sempre foi uma das minhas maiores motivações. Mas, para ser honesta, ultimamente já não tenho tanta vontade de viajar. Idade, talvez?.. Estou curtindo muito ficar em casa: é maravilhoso dormir na própria cama, passear com o cachorro, jogar videogame, ir ao cassino algumas vezes na semana. Ficar em casa é bom.

— Mas você não está noiva?

— Não, não tenho namorado agora. Mas já fui casada.

— E não procura um novo relacionamento? Deixou de lado a vida amorosa?

— Não diria que deixei de lado. Seria ótimo encontrar um cara bacana. Mas, sim, não faço muito para que isso aconteça. Gostaria que ele simplesmente aparecesse de repente na minha vida! Meus relacionamentos anteriores surgiram naturalmente, eu nunca procurei ativamente. Você conhece alguém, começa a conversar, vira amigo — e aos poucos se apaixonam. Esse é um bom roteiro, eu gosto assim.

— Mas se você convive só com jogadores de poker, pode esperar bastante. Somos um povo tímido.

— Eu também sou tímida. E, na verdade, gosto de homens discretos. Mas, sendo sincera, estou muito confortável sozinha agora. No meu casamento houve bons momentos, mas também passei por muito estresse. Hoje sou feliz. Tenho uma boa vida.

Além disso, quando estou sozinha consigo me concentrar melhor nos meus próprios objetivos. Aqui existe uma grande diferença entre homens e mulheres. De homens casados ainda se espera realizações, crescimento. Já as mulheres, pela própria natureza, acabam gastando muito tempo cuidando do parceiro e do lar. E isso é, claro, mais um motivo pelo qual as mulheres alcançam menos em áreas que exigem máximo foco e obsessão.

— Faz sentido. Você acha que as mulheres sempre serão minoria no poker?

— Serão minoria, mas tenho certeza de que é possível mudar bastante essa proporção. É preciso mostrar às mulheres que o poker pode ser uma fonte de renda (mesmo que você não seja uma jogadora top), além de desenvolver habilidades importantes — pensamento crítico, lidar com riscos… E, acima de tudo, é um jogo maravilhoso. Muita gente que gosta de golfe não sabe jogar nada, mas isso não impede de ir ao campo no fim de semana, certo? O poker é igual: pode ser só uma forma de se divertir, às vezes ganhar um dinheiro extra e conhecer pessoas interessantes.

— Muito bem colocado. Vamos encerrar por aqui então! Xuan Liu, senhoras e senhores — uma das mulheres mais fortes do mundo do poker.

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