Confissões de uma viciada em caça-níqueis: 15 anos de "inferno"

Sou viciada em jogos de azar. Perguntem o que quiserem.

Essa sou eu, uma viciada degenerada e muitas vezes me odeio por ter tão pouco autocontrole. Sou mulher, de meia-idade, e meu jogo preferido são os caça-níqueis. Sim, eu sonho em ganhar muito, mas se isso acontecesse, provavelmente eu seria uma daquelas pessoas que você lê ou ouve falar que eventualmente perdem tudo.

É a descarga de dopamina, a adrenalina do que pode aparecer quando aperto o botão. Quando ganho, só quero mais — e quase todos os meus ganhos acabam sendo jogados de volta, muitas vezes na mesma sessão. Aprendi a levar só o dinheiro que vou usar para jogar e o que preciso para chegar lá (gasolina, comida), porque sei que é altamente improvável que eu saia com algo. Já fui embora com menos de dois dólares em moedas no bolso e com fome (não morrendo, mas com fome) a caminho de casa. Já deixei de comprar comida ou comprei menos durante a semana pra levar mais dinheiro ao cassino. Mal paguei ou paguei com atraso contas essenciais e agora estou com parcelas do carro atrasadas por causa do vício. Piorou muito nos últimos dois meses, desde que comecei a frequentar um cassino próximo. Depois de ganhar (e perder tudo de novo) alguns milhares, fui fisgada. Fiquei recebendo boas ofertas de "jogo grátis" em média três vezes por semana, por alguns meses, o que facilitava continuar indo — levando dinheiro que eu claramente não deveria gastar. (Essas ofertas agora secaram, com exceção de uma última oferta pequena amanhã). Digo pra mim mesma que não vou amanhã, mas é tentador, e minto dizendo "só mais uma vez", achando que talvez eu ganhe o suficiente pra sair desse buraco… mas sei que, mesmo que der sorte, vou jogar tudo de volta e sair me odiando, me sentindo sem esperança.

Sou viciada em jogos há 15 anos, com recaídas a cada poucos meses. É um inferno!

A publicação atraiu cerca de 400 comentários, alguns dos quais ela respondeu.

— Você tem alguma preferência por determinados caça-níqueis ou escolhe aleatoriamente? Qual foi seu maior jackpot?

— Tenho alguns caça-níqueis preferidos, jogo principalmente neles. Meus maiores prêmios foram de $40 mil e $25 mil online, alguns anos atrás. Mas nunca cheguei a ver esse dinheiro, perdi tudo rapidamente. Já não jogo mais online. É muito fácil depositar dinheiro, mas geralmente surgem problemas na hora de sacar. Isso ajudou, de certa forma, a reduzir meu vício. Para pessoas como eu, o online é muito mais perigoso. No físico, o maior prêmio em um giro foi de $4 mil, e cheguei a levar $3 mil para casa uma vez. Mas a noite começou com a perda de dois depósitos de $2 mil cada. Sim, eu sou uma completa idiota.

— Quando isso começou? O que você aconselha às pessoas que estão em situação semelhante, mas se iludem dizendo que é só uma diversão e que podem parar a qualquer momento?

— Quanto mais cedo a pessoa reconhecer o problema, maiores as chances de minimizar as consequências para sua situação financeira e emocional.

Não me justifico, entendo perfeitamente que isso também se aplica a mim. Acho que em grande parte está relacionado a traumas de infância, meu pai era um alcoólatra abusivo. Já adulta, passei metade da vida cuidando da minha filha com deficiência, que faleceu há alguns anos.

Cuidar de doentes envolve um estresse enorme, difícil de descrever em palavras. Só quem passou por isso entende. Me divorciei do pai da criança logo após o nascimento dela. Ele nunca nos ajudou.

Durante toda a minha vida, a depressão vai e volta. O vício em jogos só piora esse estado.

Eu me considerava muito forte e resiliente ao estresse, mas há 15 anos tudo desmoronou de uma vez. Só posso me culpar. Cometi muitos erros na vida.

— Você procurou ajuda profissional?

— Sim, várias vezes, mas não consegui obter um efeito duradouro.

— O cassino é seu único lazer? Talvez encontrar um novo hobby?

— Sim, tenho um hobby que não tem relação com o jogo. Mas nos últimos meses não tive vontade de praticá-lo. Antes, o hobby me ajudava a distrair em períodos difíceis, mas o interesse vai e volta. Inclusive, já me disseram que tenho talento.

— Como tudo começou?

— Quando criança, gostava de jogos de tabuleiro, às vezes jogávamos poker em casa, mas sem dinheiro. Talvez eu visse nos jogos uma forma de escapar dos problemas da vida. Fui ao cassino pela primeira vez no fim dos anos 90 e logo percebi que poderia acabar mal. Mas naquela época ainda não era um problema, passei alguns anos sem pensar em jogos. Mas um dia comecei a jogar online, e o desastre foi inevitável. Comecei com poker, depois mudei para os caça-níqueis. Isso foi há 15 anos...

— Alguma vez você perdeu absolutamente tudo?

— Quase toda ida ao cassino termina com eu perdendo tudo. Felizmente, não preciso pagar aluguel, mas, como todo mundo, tenho despesas cotidianas. Por exemplo, devido ao último episódio de vício, já atrasei várias parcelas do financiamento do carro.

— Você é rica o suficiente para sustentar esse hobby?

— Não, o máximo que posso gastar com jogos é $500 por ano.

— Já pensou em jogar com apostas mínimas?

— Às vezes faço isso, simplesmente porque não tenho dinheiro. No físico é difícil encontrar máquinas com apostas menores que 75 centavos por giro. Parece pouco? Só para quem nunca foi a um cassino. Na prática, mesmo assim dá para perder algumas centenas em poucos minutos. Para jogar algumas horas no limite mais baixo ainda é necessário um bom bankroll. Ou muita sorte.

— O vício em jogos afetou sua vida pessoal? O que você aconselha às famílias que enfrentam problemas semelhantes?

— É muito importante que o viciado não tenha acesso às finanças e que todos os seus gastos sejam rigorosamente controlados. Eu me divorciei antes de tudo começar. Depois tive alguns relacionamentos curtos, mas não acho que minha dependência os tenha afetado. Eu escondia meu vício, mas certamente ele influenciava meu humor. Por causa do vício, evito relações sérias de propósito.

— Já viu crianças perto do cassino, deixadas por pais viciados que foram jogar?

— Felizmente, eu nunca desci a esse nível de degradação. Já fiz muita besteira na vida, mas sempre fui eu quem sofreu as consequências.

— Eu sou um alcoólatra de 44 anos. Trocaría de dependência com você com prazer.

— É difícil comparar, mas me parece que o vício em jogos é muito mais perigoso, porque é muito mais fácil escondê-lo dos outros. A pessoa pode se afundar a tal ponto que quase não há volta. Por outro lado, o álcool é muito mais acessível, basta ir a qualquer loja.

— Sua vida seria diferente se você estivesse no lucro?

— Isso é impossível, porque eu sou dependente.

— Por que você não consegue se controlar?

— Me faço essa pergunta o tempo todo. O principal problema é a autoilusão. Sempre prometo a mim mesma que vou parar se ganhar determinada quantia. Gostaria de ter uma boa resposta para essa pergunta, mas se tivesse, provavelmente não estaria nessa situação.

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Se você sofre com vício em jogos de azar, existem recursos que podem ajudar você a dar os primeiros passos para a recuperação:

Brasil – Ajuda para jogadores compulsivos
📞 Ligue 188 (CVV – apoio emocional gratuito, 24h)
📍 Jogatina Anônimos – Grupos de apoio presenciais e online (semelhante a AA)
🌐 Site: https://www.jogatinaanônimos.org.br

Outros recursos internacionais:

• National Problem Gambling Helpline (EUA)
Atendimento 24/7 gratuito: 1-800-GAMBLER
Site: https://www.ncpgambling.org

• Gambling Therapy (Global)
Chat ao vivo, fóruns e ferramentas de autoajuda em diversos idiomas
Site: https://www.gamblingtherapy.org

• GambleAware (Reino Unido)
Conselhos gratuitos e confidenciais, telefone 0808 8020 133
Site: https://www.begambleaware.org