— O poker tem um propósito final? Ele oferece algum benefício real? Existem razões para seu crescimento contínuo, e como ele deve se desenvolver no futuro?
Quando comecei a jogar, eu tinha um único objetivo: liberdade. Como muitos jogadores, eu era movido pelo medo de trabalhos comuns, pelo amor ao jogo e pelo desejo de fazer o que quisesse. Talvez eu fosse ingênuo e até egoísta, mas sempre fui honesto comigo mesmo. No entanto, à medida que ganhava mais, percebia que havia algo maior por trás do sucesso no poker. Esse sentimento também ocorre com jogadores de outros jogos. Você começa ganhando, sobe gradualmente de nível, e as apostas aumentam constantemente. Achei que isso fosse continuar indefinidamente, com novos desafios sempre surgindo. Mas quando cheguei ao high stakes, algo mudou. Perguntei a mim mesmo: "E agora? No que posso impactar agora?"
A utilidade do poker, dos esportes, dos videogames e até mesmo das apostas pode ser questionada. Para muitos, isso tudo parece apenas entretenimento e perda de tempo. No entanto, essas atividades podem ser a base de algo que nos impulsiona. Todas essas formas de jogo existem desde que a humanidade surgiu e continuam relevantes até hoje.
Com o tempo, minhas ambições mudaram. Eu realmente queria tornar o mundo um lugar melhor, mas não sabia por onde começar. Poderia me concentrar em alimentar os necessitados, e eu e meus amigos fizemos isso em Londres. Porém, logo ficou claro que ajuda pontual não era suficiente. No dia seguinte, as pessoas ainda estavam famintas. O verdadeiro desafio é ensinar as pessoas a se sustentarem, para que se desenvolvam, aprendam e eventualmente se tornem membros úteis da sociedade. Em algum momento, a educação parecia a solução óbvia.
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Mas quem exatamente ajudar? Crianças pareciam a melhor opção – não corrompidas, com grande potencial e com custos relativamente baixos para oferecer assistência. Mas então me lembrei de mim mesmo. Vocês também provavelmente não esqueceram como foi estudar na escola. Quantos dos conhecimentos adquiridos realmente se aplicaram à sua vida? Aposto que não muitos. A questão da educação é complexa. Não basta apenas fornecer conhecimento; é necessário despertar um interesse genuíno pela aprendizagem e, posteriormente, garantir que as pessoas saibam como aplicar o que aprenderam.
Isso nos leva ao esporte. Praticar esportes não apenas melhora a saúde física, mas também ensina habilidades valiosas para a vida. Enfrentar desafios, desenvolver disciplina, pensamento estratégico, capacidade de adaptação e trabalho em equipe são competências importantes e úteis. Diferentemente de muitas ideias abstratas que absorvemos de livros, essas habilidades têm aplicação prática.
O poker, por sua vez, é uma espécie de esporte intelectual. Ele nos ensina a pensar criticamente, gerenciar riscos, superar derrotas e a crescer internamente, caso desejemos alcançar o sucesso. Um dos maiores aprendizados que o poker proporciona é a humildade. Acredite, ninguém chega ao topo sem aprender essa lição. Além disso, o poker exige que examinemos problemas de diferentes perspectivas, pratiquemos disciplina e nos adaptemos constantemente. Quando analisamos mais profundamente, o jogo incentiva a honestidade, determinação e até mesmo a bondade, se considerarmos seus aspectos sociais e políticos.
A beleza do poker está nos seus detalhes mais sutis. A mesa de poker é um dos poucos lugares onde pessoas de todas as camadas sociais coexistem — ricos e pobres, celebridades e desconhecidos. Um jovem ambicioso pode estar sentado ao lado de um empresário rico e bem-sucedido. Isso cria oportunidades únicas de mobilidade social, raramente vistas em outros campos. Jogadores de famílias humildes têm a chance de se destacar globalmente e, ao vencer, mesmo que em pequena escala, contribuem para uma redistribuição de riqueza. Pode-se dizer que o poker desempenha um papel, ainda que pequeno, no equilíbrio econômico global.
Embora o ritmo lento do jogo irrite alguns, na verdade ele nivela as chances dos participantes. Isso motiva os jogadores a se desenvolverem, se tornarem mais fortes e jogarem com mais estratégia. Barreiras, como as encontradas em jogos fechados, nos forçam a crescer e a nos adaptar. Introvertidos, por exemplo, são incentivados a sair de suas zonas de conforto e a se comportarem de maneiras que não fariam em outras circunstâncias.
Na melhor das hipóteses, o poker oferece liberdade financeira. Se você tiver sucesso, poderá viver segundo suas próprias regras. Muitos jogadores de sucesso – Phil Galfond, Doug Polk, Liv Boeree – usaram suas carreiras no poker para se realizar em negócios e na filantropia. As lições aprendidas na mesa de poker os ajudaram a causar um impacto positivo no mundo.
Eu também encontrei uma nova inspiração no poker. Ele não é apenas um jogo – é uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal e social. Jogadores que direcionam suas habilidades e vantagens na direção certa podem realmente fazer uma grande diferença. Hoje, vejo meu papel como ajudar outros a encontrar maneiras de usar seu sucesso para beneficiar a sociedade.
Espero que o poker também ajude meus leitores a encontrar liberdade, assim como aconteceu comigo. Quando isso acontecer, tente retribuir — ao jogo, à comunidade, ao mundo. O poker é um reflexo da vida, onde constantemente tomamos decisões, assumimos riscos e buscamos resultados positivos. Na mesa, queremos maximizar o EV; esses mesmos princípios podem ser aplicados na vida, para que nossas decisões promovam o bem e beneficiem os outros.
Se a comunidade de poker — e idealmente o mundo inteiro — passar a ver o poker dessa forma, um dia todos nós sentiremos como se tivéssemos ganhado o Main Event várias vezes.
Recentemente, Cates compartilhou no Twitter três problemas cruciais do poker:
- Atrair e reter recreativos: Não basta que eles se divirtam; ao final, eles precisam sentir mais emoções positivas do que no início. Ou seja, devem QUERER gastar seu dinheiro.
- Rake alto: Isso é um problema para quase todos os lados. Recreativos perdem mais rápido, e, consequentemente, menos pessoas ganham no longo prazo. Isso destrói o sonho do poker e só beneficia os organizadores.
- Falta de responsabilidade e aumento de trapaças: Existem inúmeras formas de trapaça, e os jogadores não têm motivação para serem honestos.
Cates finaliza afirmando: "Estou trabalhando em um projeto que pode mudar isso! Se der certo, trapaceiros não poderão mais se esconder".
