Alex "Pwndidi" Theologis AMA: "A maioria dos regs se superestima, inclusive eu!"

Na semana passada, o GG Poker lançou a série documental Online Poker Millionaires. O primeiro episódio teve como protagonista Alex Theologis (Pwndidi).

Para divulgar o projeto, Alex organizou uma sessão de AMA no Reddit.

— Oi Alex, aqui é o Daniel Negreanu, gostei muito do episódio, estava bem interessante!

Pergunta: notei que você usava randomização online; você acha que a maioria dos jogadores na cena de high stakes live em torneios também randomiza?

Oi Daniel, obrigado pelo comentário, fico feliz que tenha gostado do episódio!

Acho que a importância de randomizar em torneios ao vivo é menor, porque você consegue coletar mais informações e também joga um número bem menor de mãos. Quando você randomiza uma decisão, isso significa que as duas opções têm praticamente o mesmo EV, então qualquer dica extra que apareça (tamanho de aposta, tell ao vivo, tendência do jogador etc.) vai inclinar muito a decisão para uma das duas opções. Mas mesmo sem reads, será muito mais difícil ser explorado se você tender sempre para um lado em ambiente live, porque o número de vezes que você vai jogar esse spot é bem limitado (por exemplo, num board em que o solver usa cbets com tamanhos mistos, se você nunca colocar mãos fortes no size pequeno, isso vai ser mais fácil de notar online, com milhares de mãos e muitos showdowns, do que ao vivo, onde você muitas vezes nem precisa mostrar suas mãos nas vezes em que perde).

Dito isso, ainda acho que randomizar é útil quando você não tem motivo real para se desviar, especialmente em spots bem comuns (por exemplo, 3betar num spot de ICM sem qualquer read no oponente. Se o solver mistura as ações com essa mão e você sempre escolhe 3betar, isso vai ser mais fácil de perceber, já que mesas finais são televisionadas e isso abre espaço para ser muito explorável).

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— Como um jogador sério em tempo parcial, com boa renda fora do poker, deveria pensar de forma diferente sobre gestão de bankroll e shot-taking em comparação com um profissional em tempo integral?

A principal diferença é a capacidade de repor o bankroll com dinheiro de fora do poker. Para um profissional, muitas vezes o bankroll de poker = bankroll de vida, então ser muito cauteloso com gestão é crucial para não quebrar. Se existe uma boa renda fora do poker, acho que faz sentido definir uma porcentagem dessa renda com a qual você se sinta confortável para dedicar ao poker e planejar seus buy-ins e shots em cima disso.

— Se você fosse montar um plano de estudos de 6 meses para alguém que já estuda sério (solver, cursos, vídeos etc.), mas quer subir o nível das decisões para high stakes, em quais áreas focaria mais?

É difícil responder sem saber detalhes, mas focar em melhorar as áreas que aparecem com mais frequência geralmente é um bom caminho. Por exemplo, jogar BTN vs BB em potes single raised é muito mais importante do que saber estratégias de cbet em pots 4bet squeezados. Além disso, eu diria que ICM é extremamente crucial, porque é aí que está a maior parte do dinheiro.

— Você atualmente comanda ou dá coaching para algum stable de MTTs, ou colabora com grupos que desenvolvem jogadores?

Eu não comando um time meu, mas dou coaching para a Pocarr (internacional) e para o Flow (Brasil). Também faço seminários para o BBZ, que tem um time de staking, mas meus seminários são acessíveis para os assinantes deles independentemente de fazerem parte do stable ou não. Pelo que eu sei, os três estão querendo expandir seus elencos!

— Oi, Alex, grande fã! Você acha que é mais fácil ganhar um bracelete ou vencer a aposta de comer 10 panquecas do Wynn?

Eu conheço pessoas que já ganharam braceletes. Não conheço ninguém que conseguiu comer 10 panquecas do Wynn. Tire suas próprias conclusões!

— Sou profissional de cash live procurando formas de melhorar meu jogo. Que hábitos de estudo você adotou e como decide o que estudar?

Olá! Embora cash não seja exatamente a minha área de maior especialidade, acho que priorizar os cenários que acontecem com mais frequência é uma abordagem bem razoável. Depois, fazer um “leak finder” para investigar áreas em que você esteja mais fraco e focar nelas. Mas, para o live, acho também muito importante estudar exploits: fazer node locking em certas decisões de pré e pós-flop com base em como você acha que diferentes tipos de jogadores vão jogar e descobrir quais seriam os melhores ajustes, já que imagino que a maior parte do seu EV venha de jogar contra recreativos mais fracos.

— KOs, PKOs e mystery bounty MTTs estão se tornando mais comuns tanto online quanto ao vivo. Como isso mudou a forma com que você encara MTTs e como você vê o desenvolvimento dos formatos no futuro?

Para mim, pessoalmente, eu sempre gostei muito de PKOs, então não tive mudanças tão drásticas. Mas, no geral, acho importante dedicar mais tempo de estudo às especificidades dos torneios de bounty, porque eles representam uma fatia cada vez maior da grade.

Quanto ao futuro dos formatos, parece que quanto mais “gambley” for o formato, mais ele agrada os recreativos, como acontece com os mystery bounties. Então eu esperaria ver mais formatos similares sendo desenvolvidos.

— Como você faz o ajuste mental entre jogar online e jogar live, sendo que a experiência é tão diferente? Por exemplo, jogar um MTT de $100 online é bem diferente de um live de $1k.

Para muita gente, ajuda jogar primeiro um torneio live “de aquecimento”, para entrar mais no ritmo. Assistir alguns vídeos no YouTube também pode ajudar nessa transição!

— Você já teve algum momento de “aha” ou “clique” estudando, jogando ou debatendo poker? Ou sua evolução foi incremental?

Embora eu diria que meu progresso foi gradual, certamente tive muitos e muitos momentos de “Aha!” na carreira. Talvez o maior deles tenha sido… em 2017, se não me engano, antes de eu entrar no BitB (um time em que fiquei por 18 meses), quando tive uma mão a mão (HH) revisada pelos três donos (pads, european, elmerix). Esses caras estavam tão à minha frente na época, e eu nem fazia ideia! Como naquela época as tabelas e solvers eram menos acessíveis, ouvir que eu poderia defender o big blind com J5s contra um open de HJ foi um choque de realidade, por mais bobo que pareça, haha.

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— Depois desse “momento lâmpada”, você passou a definir metas?

Sim, com certeza. Sempre tive uma abordagem mais orientada a metas de curto prazo, focadas em coisas que eu posso controlar. Então eu definia objetivos do que precisava fazer no dia seguinte, na semana, no mês, mas não estabelecia metas super específicas para anos à frente, já que muita coisa fora do meu controle poderia me impedir de cumpri-las. Além disso, diferente de muitos colegas, eu não gosto muito de definir metas monetárias, porque ganhar ou perder no curto prazo não está realmente sob meu controle.

Por exemplo, no meu período no BitB, muita gente dizia “quero lucrar X este ano”, e eu sempre achei isso contraprodutivo. Definir uma meta que não está sob o seu controle me parece errado — eu preferiria muito mais dizer: “este ano vou estudar X horas e jogar Y MTTs, maximizando assim meu EV”.

— Sempre quis perguntar isso para um reg de high stakes. O edge entre os regs em high stakes é tão grande assim (sem detalhes, um sim ou não já basta hehe)? Vejo alguns jogadores fazendo mass re-entry num field cheio de regs e isso me faz pensar sobre isso.

A mágica é que a resposta não é clara. Tivemos uma discussão num 100k HR em Malta sobre qual era o ROI percebido das pessoas naquele torneio e, com base nas respostas, algumas delas teriam que estar perdendo 40–50% de ROI para que os números fechassem — o que certamente não era o caso. Então, claramente, algumas pessoas superestimam suas habilidades (ei, pode ser eu também!) e isso é parte do que mantém muitos dos fields mais regulares rodando.

Resposta curta: ninguém sabe. Cada profissional tem a sua visão da situação e age de acordo com ela.

— Você subiu para os high stakes de maneira bem suave, aumentando o bankroll aos poucos, ou era reg em certo limite e teve um big score que te empurrou para mais alto?

Resumo da história: eu estava com dificuldades na transição de mid para high stakes, e foi então que entrei no BitB (início de 2018?). Nesses 18 meses consegui tanto construir banca quanto evoluir como jogador, e depois disso já pude jogar high stakes por conta própria. Então acho que a resposta está em algum lugar no meio. Não houve exatamente um “bink” gigante que levou meu bankroll para outro patamar, mas também não foi algo que levou tempo demais.

— Algum hobby? Você tem pets?

Eu adoraria ter um cachorro, penso nisso o tempo todo, mas acho muito difícil com a rotina de viagens de poker, já que passo pelo menos metade do ano fora de casa. Diria que meus hobbies são bem mundanos, haha: viajar, ver séries/filmes, sair para balada, bons restaurantes.

— Quais são os maiores erros que as pessoas cometem nos low/mid stakes, live e online? E que ajustes você recomendaria?

Eu tenho bastante tempo livre por dia para estudar, porque trabalho de casa. Em que partes específicas da árvore de decisões alguém deveria investir mais tempo?

Acho que um dos erros mais comuns é focar demais em detalhes ou tópicos avançados/obscuros enquanto ainda falta base. Saber jogar bem os spots mais básicos será muito mais importante para o seu EV do que estudar e encontrar algum check-raise jam bizarro no river. Então ser muito bom em ranges de pré-flop, estratégias de cbet e barrels no turn, por exemplo, já leva muito longe.

Acho que isso já responde um pouco a segunda parte da pergunta: foque nos spots que acontecem com mais frequência.

— Qual hábito você acha subestimado, mas essencial para o sucesso em longo prazo no poker?

Olá! Se eu tivesse que escolher um, diria: ser mais crítico consigo mesmo do que com os outros. Entender quando você erra ou joga abaixo do que deveria e trabalhar para corrigir isso (por exemplo, ficar bravo consigo mesmo por ter blefado mal, e não com o oponente por ter pago com J-high).

— Na sua opinião, qual é a forma mais eficiente de aprender uma estratégia sólida na qual você possa se apoiar em qualquer spot, mesmo em situações que não tenha estudado especificamente? Estudar nodos de forma sistemática e olhar todos os tipos de board, revisar mãos marcadas aleatoriamente e buscar conceitos, ver vídeos etc.?

É uma pergunta complicada, e talvez eu me repita um pouco, mas eu diria: ter fundamentos muito fortes. Entender como o jogo funciona em nível básico (ranges, pot odds, combinações etc.) e ter um conhecimento bem sólido das estratégias de baseline ajuda muito a navegar spots desconhecidos, porque você pode extrapolar a partir do que já sabe.

Dito isso, eu ainda marco muitas mãos toda vez que jogo para revisar depois — provavelmente mais de 30 mãos por sessão, tanto em chipEV quanto em ICM.

Quanto a um “framework”, sim, ele existe, mas depende do spot. Nos meus primeiros anos, eu criei uma série de passos para seguir em cada decisão difícil, para garantir que eu não estivesse ignorando alguma informação ou deixando passar uma parte do quebra-cabeça. Esse conjunto de perguntas não é o mesmo em todas as situações, então é difícil ser mais específico.

— Você já passou por períodos em que estava num down muito grande ou afundado em dívida/makeup e teve que atravessar isso até subir de novo?

No fim de 2024, tive um mês de +25k e decidi subir para jogar 215–500s. Eu estudava cerca de 14 horas por semana e jogava quinta/domingo. Em seis meses eu torrei todo o meu bankroll e acabei pegando cerca de 20k emprestado em vez de recomeçar ou descer de limite, convencido de que, com o estudo e o tempo investidos, a downswing iria passar e viria um big score. Agora já está num ponto em que fica mentalmente difícil continuar. Tentei descer de novo para 22–55s, mas perco motivação ao ver prize pools tão baixos, sabendo que ganhar um torneio desses não vai fazer tanta diferença no meu makeup.

Sim, com certeza, isso é um tipo de dificuldade que praticamente todo jogador já enfrentou, então você não está sozinho! Embora às vezes pareça muito duro, meu conselho é focar no que você pode controlar: estudar, jogar um volume suficientemente alto, controlar o tilt e fazer o seu melhor.

Na minha opinião, querer “limpar o makeup” e ficar pensando o tempo todo em quanto tem de prêmio no topo é um tipo de leak de mentalidade. Quitar o makeup é algo que vai acontecer eventualmente, mas não é algo que precise estar constantemente na sua cabeça. Se você acha que os buy-ins mais altos talvez estejam duros demais, ou se não se sente tão confortável jogando esses limites, então descer de stakes parece uma ótima ideia até que você esteja pronto.

Mas o objetivo não é “zerar o makeup” — é continuar melhorando e aumentando seu EV o máximo possível! Makeup é só um número que vai diminuindo com o tempo; mas se você forçar demais, pode acontecer o contrário. Isso pode levar a registrar torneios ruins ou tomar decisões subótimas (como “gamblear” demais em spots de EV alto) só na esperança de limpar essa dívida.

Acho que talvez marcar uma sessão com um especialista em mental game possa ser um ótimo investimento, porque essa pessoa vai conseguir te dar conselhos melhores do que eu nessa área.

— Você sente algum tipo de ressentimento pelo fato de que o seu caminho específico no poker passa quase despercebido?

A atenção vai para quem conquista resultados no live ou para criadores de conteúdo. Enquanto alguém que extrai EV de elite online como você quase não é reconhecido. Ou você está apenas feliz em ganhar seu dinheiro e ficar sob o radar?

Ressentimento, definitivamente não. Eu nunca entrei no poker em busca de reconhecimento ou fama. Se isso acabar vindo junto, ótimo. Eu gosto da competição e da recompensa financeira, mas ser reconhecido/famoso não era algo que eu buscava, então não tenho nenhum sentimento negativo em relação a quem buscou esse caminho.

— Você tira folgas regulares? Tipo dias fixos de descanso na semana, às vezes uma semana ou mais sem jogar, e você às vezes simplesmente não está a fim de jogar num dia (mesmo tendo planejado)? Se sim, como lida com isso?

Essa é uma das áreas em que estou tentando melhorar, porque eu sinto que estou trabalhando o tempo todo, o que às vezes acaba resultando em falta de foco ou preguiça etc.

Sobre não estar com vontade de jogar em um determinado dia, a não ser que haja um motivo relevante (por exemplo, estar com febre alta ou jet lag etc.), eu não costumo “me ouvir” muito. Eu vejo poker como meu trabalho, e tirar um dia de folga porque “não estava com vontade de trabalhar” não me parece certo — trabalho não tem que ser sempre super hiper divertido. Sei que estou na minoria ao pensar assim, mas é o que é.

— Se você tivesse que começar do zero de novo, ainda escolheria o poker ou outra coisa? Por quê?

Pergunta bem interessante. Sabendo como as coisas acabaram acontecendo, eu diria que sim, mas provavelmente mudaria algumas coisas, especialmente em relação à saúde/condicionamento físico. Quando comecei a jogar poker profissionalmente, eu nunca teria imaginado até onde iria, então sou muito grato por isso e tomaria a mesma decisão de novo e de novo.

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