– Hoje temos um convidado muito especial no programa: uma lenda do poker, membro do Poker Hall of Fame, dono de dez braceletes da World Series of Poker, campeão do World Poker Tour, campeão do EPT, vencedor da triple crown. Basicamente, todos os títulos que existem, ele tem. Um verdadeiro especialista em high rollers. Bem-vindo ao programa, Erik Seidel.
– Essa introdução foi bem generosa!

– E, claro, a maior contribuição do Erik para o poker é que ele me ensinou a jogar. Vamos falar muito sobre poker, riscos e tudo isso, mas por que não começamos voltando ao início — o pequeno Erik crescendo. Como começou seu interesse por jogos e poker? Isso começou cedo ou veio depois?
– Eu comecei jogando gamão no ensino médio, e isso me levou a um lugar chamado Game Room, no Upper West Side. Eventualmente, acabei no Mayfair, que era um clube bem conhecido de gamão e bridge na época. Joguei gamão lá por anos, e foi no Mayfair que um jogo de poker começou a se desenvolver.
Naquela época, eles não permitiam profissionais, o que foi ótimo para mim, porque eu era péssimo. Então, eu jogava com outras pessoas igualmente ruins. Aos poucos, o poker começou a dominar o Mayfair, que acabou virando um clube de poker.
– Erik, você meio que jogava profissionalmente no sentido de que os jogos pagavam suas contas, mas depois fez uma parada em Wall Street, que, de certa forma, é uma aposta ainda maior que o poker. Conta um pouco sobre como sua experiência com jogos te preparou para isso e como fez a transição de volta para o poker em tempo integral.
– Eu acho que foi uma transição natural passar dos jogos para Wall Street. E hoje você vê muitos jogadores de poker indo nessa direção. Mas, enquanto eu trabalhava em Wall Street, também viajava para Vegas para jogar cash games.
Eu não gostava de estar em Wall Street. Não gostava de ter que usar gravata, de ficar parado ali. Havia uma competitividade e uma mesquinharia que eu não curtia. No pregão, as pessoas brigando por centavos — era um ambiente meio feio. Para ter sucesso negociando opções no pregão, você realmente precisava ser um babaca, sabe, e tentar passar a perna nos outros. As pessoas faziam isso comigo, e não era uma sensação boa.
– Para nossos ouvintes, o poker pode parecer cruel, mas existe uma camaradagem entre os jogadores na maior parte do tempo. Você jogou em algumas das maiores e mais famosas partidas da história. Essa camaradagem diminuiu com o crescimento do jogo?
– Não, porque eu conhecia bastante gente. A melhor parte do poker naquela época era que todos os jogos eram abertos. Isso fazia parte da lei — você podia jogar se quisesse. Agora existem mais jogos privados em Vegas, mas, naquela época, tudo era aberto.
Era competitivo, mas nunca hostil. Podia ser cansativo, mas eu realmente gostava do ambiente. Eu gostava de torcer por amigos e coisas assim.
– Pensando sobre a tomada de decisões e os riscos em situações de high stakes, sob holofotes, com todo mundo assistindo — hoje tudo é transmitido, então as pessoas sabem exatamente como você decide. Como lida com isso? Como consegue manter um alto nível de execução após vários dias jogando, quando está cansado e os prêmios são enormes?
– Em torneios, uma das melhores coisas é que, quanto mais você avança, mais está em jogo. Isso ajuda porque você é recompensado por prestar atenção e manter o foco. Às vezes preciso me lembrar de estar presente e acompanhar a ação, mas, à medida que você chega perto de uma mesa final ou de uma vitória, há mais em jogo e tudo fica mais interessante.

– Mas, Erik, como você se mantém afiado? Digamos que você esteja tendo uma WSOP mediana e, finalmente, depois de seis semanas, consiga avançar bem em um torneio grande. Você chega ao quarto dia como chip leader. Qual é sua rotina durante a série para se manter no ritmo, focado e lidando com tudo isso?
– Bem, na World Series, basicamente é jogar, comer e dormir. Não há muita rotina além disso. Você só precisa evitar distrações. É engraçado, porque todo ano você pensa: “Ah, fulano vai estar na cidade, talvez a gente jante juntos.” Mas é sempre um erro pensar assim, porque a WSOP consome tudo. Se você não está jogando, está se recuperando, e é assim todos os dias durante as seis ou sete semanas.
A Maria é esperta, porque tira alguns dias de folga e faz mini-férias. Acho que isso ajuda bastante.
– Eu sempre faço isso antes do Main Event. Isso realmente ajuda a limpar a mente e sair de qualquer má fase. É muito útil.
– E uma das coisas sobre a minha abordagem no poker é que eu sigo uma regra de não sofrer. Se eu acordo cansado, simplesmente não jogo. Não quero estar infeliz na mesa. Especialmente na WSOP, onde há tantos eventos todos os dias, você precisa estar consciente da energia que consegue levar para o jogo.
– Regra de não sofrer. Isso é incrível. Acho que todos deveríamos aplicar isso na vida, certo? Se você acorda e sabe que vai sofrer, apenas diga não. Você está tentando maximizar braceletes? Quer competir com o Phil Hellmuth?
– Não, eu não sou um desses caras. Não jogo tantos torneios quanto os que estão caçando braceletes. Sinto que já tenho braceletes suficientes. Não preciso persegui-los mais. E também é uma daquelas coisas que, se você ganha um, é quase um pequeno milagre. Não gosto de pensar assim. Só quero jogar.
Por exemplo, neste verão haverá alguns torneios bem legais no Wynn, e vou jogá-los mesmo que não sejam eventos de bracelete. É simplesmente bom jogar lá, e eles organizam bons torneios.
– Erik, houve algum momento em que você percebeu que o poker tinha mudado? Talvez durante o boom do Moneymaker, ou quando os europeus começaram a invadir os circuitos? Quais foram os pontos de virada para você?
– Bem, o principal mesmo foi a entrada dos computadores no jogo. Isso mudou tudo nos últimos, sei lá, oito anos. Tornou o jogo muito mais difícil. Tenho um amigo que brinca dizendo que eu reclamo que o jogo está difícil há trinta anos e que já devia parar.
Mas, recentemente, os computadores tornaram tudo um desafio maior. Hoje é mais difícil para mim jogar, mas também é mais interessante. É divertido enfrentar esses caras que usam computadores e ver o quanto o jogo evoluiu. Eu gosto de fazer parte disso e tentar entender as coisas nesse mundo mais moderno e automatizado.
– Sim, e você ainda está tendo sucesso. No EPT Monte Carlo, você ficou em terceiro lugar em um dos high rollers. Você ganhou vários braceletes nos últimos anos. Claramente, ainda está competindo em alto nível. Como você se prepara não apenas para a World Series, mas para séries em geral? Você trabalha com solvers? Como é a sua rotina de estudo e ela mudou significativamente ao longo dos anos?
– Sim, definitivamente mudou muito. Antigamente, você não precisava fazer nada. Bastava aparecer e jogar, o que era muito bom. Ninguém estudava naquela época. Existiam alguns livros, mas eles não eram tão relevantes para a prática.
Era bom quando você podia simplesmente aparecer e jogar. Agora há pessoas totalmente imersas — estudando e jogando o tempo todo — e isso cria um desafio extra para enfrentá-las.
– Eu me lembro de assistir a um arquivo antigo do PokerGO de 1988, quando você terminou em segundo lugar para Johnny Chan. Na mesa final, antes do heads-up, você tinha um par de quatros e simplesmente deu all-in depois de um raise e um call. Ninguém jogava assim naquela época. Hoje sabemos que pode ser um bom blefe, mas, na época, foi revolucionário.
– Eu estava muito focado nas reads. E era bem imprudente. Em 1988, eu realmente não sabia o que estava fazendo, mas me lembro de como aquilo foi emocionante. Eu estava captando reads de jogadores que nunca tinha visto antes — sinais que eu não percebia em Nova York. Foi incrível perceber: “Uau, eu posso jogar com essas pessoas.” Eu não tinha nenhuma experiência fora de Nova York e, de repente, estava descobrindo tudo conforme avançava.
– Quando você se encontra em uma mesa na World Series, imediatamente é cercado por jornalistas. Você é uma lenda, e as pessoas sentadas ao seu lado sabem disso. Isso torna mais difícil para elas jogarem contra você? Como você se ajusta ao enfrentar amadores e profissionais?
– Tento abordar cada oponente individualmente. Porém, não acho que minha reputação me ajude em nada. Não é que as pessoas evitem jogar determinadas mãos contra mim por causa da minha fama. Muito pelo contrário, elas ficam mais dispostas a entrar nos potes só para terem algo para contar depois. E vão me blefar com mais frequência porque acham divertido.
– Naquela época, as reads e tells eram mais óbvias?
– Sim, as pessoas se preocupavam menos com timing e padrões. Todo mundo jogava de forma mais instintiva. Então havia mais oportunidades. E quando você não sabe exatamente o que está fazendo, pode forçar as coisas bem mais longe.
– De certa forma, você se tornou o Johnny Chan no filme Rounders, onde o personagem do Matt Damon só quer blefar contra ele.
– Acho que isso existe, sim. Já vi jogadores tentando fazer jogadas apenas para ter uma boa história para contar. Às vezes, isso aumenta o risco de alguém tentar me blefar, especialmente se for televisionado. Ninguém quer ser visto levando um blefe na TV, mas, se alguém consegue me blefar na TV, ele volta para casa como herói.
– Quanto impacto perder aquele heads-up para Johnny Chan teve em você?
– Ainda é um dos meus torneios favoritos. Foi o começo da minha carreira, e eu não fazia ideia de como me sairia na World Series. Algumas pessoas me encorajaram a ir, mas eu não tinha confiança. Passar por quatro dias, superar jogadores, fazer jogadas criativas e perceber que podia competir — isso foi incrível. Perder não foi um grande problema. Sempre tive ótimas lembranças desse torneio.

– Se você pudesse dar um único conselho para jogadores novos ou em desenvolvimento, qual seria?
– Preste atenção. As pessoas te ensinam como vencê-las se você observar os padrões delas com atenção suficiente. Apenas preste atenção.
– Quando você treinou a Maria, em que momento percebeu que ela tinha potencial?
– A Maria foi empolgante porque veio do nada — ela nem sabia quantas cartas havia em um baralho. Mas trabalhou incrivelmente duro, manteve a mente aberta e se dedicou. Esse é o segredo do sucesso dela. É emocionante ver que ela ainda está jogando e se saindo tão bem.
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