Alguns meses atrás, Jamesin Seidel, filha mais nova do lendário jogador de poker Erik Seidel, tornou-se sócia geral do fundo de venture capital Chapter One. Ao assumir o cargo, ela publicou um texto em seu blog detalhando sua trajetória: jogava poker online com 12 anos, trabalhou com Haralabos Voulgaris, atuou como analista de dados no Twitter, se envolveu com criptomoedas ao lado do pai e agora lidera um fundo criado pelo homem por trás do Tinder. Sua habilidade em lidar com dados abriu caminhos... e criou milionários.

Sou profundamente grata a Jeff Morris Jr. e à equipe do Chapter One por me darem suporte e pela oportunidade de fazer parte da construção de um fundo lendário de venture capital.

Este é um momento marcante da minha carreira e um convite para refletir sobre toda minha jornada.

Pensei muito sobre como cheguei até aqui. O lema do Chapter One é “em busca dos protagonistas”, mas, para ser honesta, nunca me vi como uma.

Prefiro trabalhar nos bastidores, diante de um computador. Nunca gostei de estar no centro das atenções. Sou a filha do meio. Minha vida não teve grandes altos e baixos como muitas outras. Se tenho alguma superforça, talvez seja meu batimento cardíaco naturalmente baixo, como o de um atleta olímpico, e a capacidade de manter a calma em quase qualquer situação.

Mas talvez este novo cargo signifique que estou fazendo algo certo. Meus pontos fortes são: concentração, dedicação, foco na execução e total entrega. Essas qualidades moldaram meu caminho. E são as mesmas que busco na liderança — e que espero que enxerguem em mim como parceira.

O Chapter One sempre teve uma forte cultura de escrita e, para honrar isso, quero assumir por um momento o papel de protagonista e contar minha história.

Capítulo 1 – O Começo

Nasci em Las Vegas e tive a sorte de crescer em uma família em que meu pai é um dos maiores jogadores de poker do mundo.

Aos seis anos, jogávamos gamão todo fim de semana durante o café da manhã. Aos doze, eu já jogava poker online em múltiplas mesas (olhando agora, talvez não tenha sido a melhor decisão dos meus pais).

A genética e o poker moldaram minha forma de pensar. Sempre achei que podia fazer algo melhor. Mesmo vencendo, sentia que deixei algo passar. Essa obsessão por melhorar me acompanha desde então.

Depois da faculdade, tive a chance de trabalhar na equipe de apostas esportivas de Haralabos Voulgaris. Bob é, sem dúvida, o maior apostador de basquete de todos os tempos. Morei em Londres um tempo, mas nem sabia onde ficava a Trafalgar Square — vivia imersa no trabalho.

Fazer parte de algo tão seleto me fez sentir uma responsabilidade enorme. Ver Bob trabalhar 14 horas por dia, 7 dias por semana, com foco total, me mostrou o que é excelência — e o que é preciso para chegar perto disso.

Um ex-executivo da NBA e mestre das apostas quer enfrentar o Real Madrid e o Barcelona. Será que sua mais recente aposta vai impulsionar um time de futebol espanhol azarão? - ESPN
Haralabos Voulgaris

Mais que moldar minha ética de trabalho, essa fase me ensinou que quem tem dados pode ganhar dinheiro — e vencer qualquer um que não os tenha.

A tecnologia dá uma vantagem inegável, e com efeito acumulativo. Por isso, decidi que meu próximo passo seria trabalhar em uma grande empresa de tecnologia em San Francisco.

Capítulo 2 – Twitter

Entrei no Twitter em 2016 como analista de dados. Nosso time lidava com um dos maiores desafios da plataforma: detectar e remover contas falsas e evitar manipulações em larga escala.

O que mais me fascinava era a adrenalina: lançávamos algo, e os adversários se adaptavam em horas. Era uma corrida constante. Apesar das más intenções, havia algo belo na flexibilidade e engenhosidade deles. Eles também sabiam que a tecnologia dava vantagem.

Com o tempo, fui promovida a líder da equipe. Criávamos algoritmos que processavam bilhões de eventos em tempo real e atendiam centenas de milhões de usuários.

Como ter sucesso em TI e chegar ao Vale do Silício
Vale do Sílicio

Mesmo com a escala do Twitter, sempre faltavam recursos. Aprendi a pensar de forma mais ampla, a entender a arquitetura do sistema. Aprendi a pensar no produto e na experiência do usuário.

Essa foi minha primeira imersão real no espírito do Vale do Silício — uma cultura de iniciativa, onde pessoas constroem empresas do zero para resolver problemas reais com tecnologia.

Sou grata a Jeff Ma por me dar a chance no Twitter e a Julian Templesman por seu apoio constante.

Capítulo 3 – Cripto

Passei cinco anos no Twitter. Tudo ia bem, mas queria novos desafios. Como muitos na época, mergulhei no mundo das criptomoedas.

Era o auge do bull market. Retornos de 100% a 1.000%, lançamentos diários de tokens, grupos cheios de DAOs e NFTs. Um dos nossos chats se chamava “Nos importamos só 20%”.

Foi um período de transição. Fiquei sem trabalho e me mudei de volta para a casa dos meus pais, enquanto me preparava para casar. Meu noivo estava em Londres. Eu passava os dias no computador e criamos uma rotina com meu pai: caminhadas pela manhã e estudos sobre cripto à tarde. Conversávamos com os amigos do poker dele, discutíamos o mercado, fazíamos negociações. Passei dias e noites criando sistemas de automação.

Esses meses mudaram minha visão sobre o potencial do blockchain. Mesmo com seus ciclos, a possibilidade de transações instantâneas com moedas digitais transformou meu entendimento da economia global.

O blockchain continua sendo uma das estratégias centrais de investimento do Chapter One — um terço do capital é dedicado a isso, e continuará sendo.

Capítulo 4 – Chapter One

Foi então que conheci Jeff Morris Jr. (JMJ).

Nosso primeiro encontro foi quase surreal — parecia que nos conhecíamos há anos. Eu o seguia no Twitter há muito tempo — ele sempre esteve no centro das discussões tecnológicas. Um cara com opiniões firmes e experiência real criando um produto que explodiu: o Tinder.

O criado do Tinder, Jeff Morris, com sua esposa

Levei poucos minutos para saber que queria trabalhar com ele. Já conversava com outros fundos e startups, mas buscava algo especial — uma equipe com ambição, visão clara e diferencial competitivo.

Jeff tinha tudo isso: um fundo jovem, enérgico, obcecado por produtos, criado por gente que já tinha vencido em outras áreas. Seu desempenho e retorno podiam superar os fundos tradicionais da Sand Hill Road.

Minha primeira missão foi construir uma infraestrutura de dados — sistemas de busca que dessem vantagem competitiva sem precisar contratar dezenas de pessoas. Criei pipelines simples que rastreavam sinais iniciais online: fundadores mudando de emprego, lançando side projects ou novos produtos.

Logo Jeff começou a me envolver nas decisões de investimento — afinal, toda startup depende de infraestrutura e arquitetura técnica.

Nossos talentos se complementaram perfeitamente. Jeff sabe montar equipes de elite, entende estratégias realistas de mercado e se conecta com fundadores que sabem lançar produtos. Eu trouxe experiência técnica, criando sistemas escaláveis e dinâmicos que suportam grandes cargas.

Capítulo 5 – O que vem a seguir

Fui promovida a sócia geral justo quando lançamos nosso novo fundo. Quero moldá-lo com os aprendizados de cada capítulo da minha vida.

Os dados serão chave na nossa forma de encontrar oportunidades. Escrever bem e ter conexões são importantes — mas isso não quer dizer que vou parar de programar. Estou determinada a trabalhar com Jeff na expansão dos nossos sistemas de engenharia. Esse é meu diferencial — e me surpreende como tantos fundos grandes ainda não têm boas ferramentas nesse sentido.

Jamesin Seidel

A geografia também importa. O local e as pessoas fazem diferença em startups e investimentos. Construir relacionamentos duradouros é a base do setor. Continuarei organizando noites de poker e hackathons para reunir mentes brilhantes e criar coisas incríveis.

Mas o mais empolgante é trabalhar com quem combina tecnologia com problemas reais. Enfrentamos muitos desafios urgentes e complexos — mas também temos as ferramentas para solucioná-los. Nunca houve época melhor para transformar sonhos em realidade.

A inteligência artificial mudou tudo. Equipes pequenas e talentosas agora têm poder. O diferencial está na criatividade, clareza de pensamento e execução técnica. Estamos vendo o software se reestruturar em torno da inteligência — indústrias sendo reinventadas do zero.

Tudo parece possível. E é agora que nasce a próxima geração de empresas que vai definir o nosso futuro.