Sam Greenwood analisa mão cheia de erros entre high rollers

Em 2025, qualquer mão pode ser analisada no solver… bem, de certa forma. A solução real muda toda vez que um dos jogadores se afasta do equilíbrio sugerido pelo solver. Suponha que o UTG+1 jogue solto demais — percebendo isso, o UTG vai abrir mais tight, e chegamos a um novo equilíbrio. Alguém abre mini-raise em vez de 2.2bb — surge um novo equilíbrio. O jogador no BB não consegue reproduzir as frequências corretas de 3-bets de blefe do solver — novo equilíbrio. Mas essas adaptações raramente são radicais. Se a estratégia é ótima contra um range de 20%, contra 19% ela não será perfeita, mas ainda muito adequada.

Por isso, normalmente você tenta jogar seguindo modelos conhecidos de poker e usa sua intuição para criar pequenas adaptações às características do oponente. Se você tenta explorar demais, fugindo muito dos ranges equilibrados do solver, jogadores atentos responderão com suas próprias adaptações que vão anular sua estratégia. O equilíbrio entre jogar um poker fundamentalmente correto e fazer ajustes sutis e imperceptíveis para os outros — essa é a qualidade que diferencia os grandes jogadores.

Geralmente, desviamos em ramos padrão. O oponente 3-beta pouco no pré-flop — eu posso abrir mais mãos. O solver sempre folda top pair no river, mas meu oponente nunca vai largá-lo, então eu dou check. Mas, às vezes, seguem-se linhas tão raras e incomuns que os envolvidos já não podem se apoiar nos cálculos do solver. Os referenciais se perdem e começa o poker de rua.

Hoje, vamos analisar uma mão jogada no fim do Evento #10 do PGT Poker Masters 2025. A princípio, eu queria estudá-la com solver para assinantes pagos, mas desisti da ideia. Qualquer equilíbrio de solver para essa mão desmoronaria já na segunda — ou, com sorte, na terceira — ação dos envolvidos. Então vamos entrar nessa mata fechada e ver aonde chegamos.

PGT Poker Masters 2025, buy-in $25k, NLH

3-handed (25k/50k/50k). Premiação: 3) $220.5k, 2) $315k, 1) $504k**

David Coleman (2.855M) abre para 115k do botão com ,
Doug Lee (1.64M) paga do small blind com ,
Brandon Wilson (4.905M) paga do big blind com .

Flop (395k) – : todos check.

Turn (395k) – : todos check.

River (395k) – : Doug check, Brandon aposta 100k, David aumenta para 275k, Brandon vai all-in, colocando David para decidir por seus últimos 2.74M. David folda.

O que David estava pensando

Demorei para decidir de qual ponto de vista analisar a mão, e no fim escolhi o de David, porque havia um fator extra relacionado à disputa pela série. Se ficasse em primeiro ou segundo, David garantiria a Purple Jacket — uma premiação de prestígio dada ao campeão geral do Poker Masters — e um bônus adicional de $25k. É uma quantia relevante, que pode influenciar decisões no jogo.

Para a análise, vou assumir que David jogava 100% por conta própria. Se ele tivesse vendido 50% da ação, mas o bônus não estivesse incluído nessa venda, então as premiações efetivas dele seriam mais planas: $110.250 pelo terceiro, $182.500 pelo segundo e $252.000 pelo primeiro. Esse salto igual entre segundo e primeiro força um estilo mais passivo.

Não sei qual era sua situação real, mas pelo jogo dele não dá para dizer que estava tentando ser excessivamente passivo, então vou considerar que, levando em conta o ranking geral, suas premiações reais eram $220.5k, $340k e $505k. Um salto pequeno entre segundo e primeiro, mas nada crítico. Com isso resolvido, vamos à mão.

David abre AQo do botão para 2.3bb. Doug Lee paga do SB, e seu range, acredito, é bastante claro. Brandon defende o BB com um range largo, com muitas mãos diferentes.

Acho que David vê sua estratégia com top pair nesse flop como um mix entre checks e c-bets. Ou ele randomizou para uma linha passiva com , ou decidiu que essa mão específica deveria ser jogada a partir do check. Não acredito que o c-bet range-wide seja bom para ele aqui. Eu mesmo ficaria feliz em checar alguns , equilibrando com ar total, mãos medianas como e mãos como , que serão relevantes nas streets seguintes.

No turn, David provavelmente julgou que raramente conseguiria duas streets de valor e deu chance para Brandon ou Doug roubarem o pote ou melhorarem para um bluff-catcher, então deu novo check.

No river, ele percebe que Brandon fará uma block bet com uma quantidade razoável de mãos com , então qualquer pode aumentar para valor. Mas quando recebe o all-in, David vai para o inferno. O spot é simples: Brandon representa quadra ou blefe. Um all-in com também seria possível, mas não tenho dúvida de que todas as combinações de deveriam 3-betar no pré-flop.

Se Brandon estivesse shovando para fazer David foldar a mesma mão, David não pode foldar um full house de noves, mas deve misturar calls e folds com . Para resolver estrategicamente, David provavelmente pode pagar com , bloqueando os que defende do BB (é que as offsuited não deveriam ser defendidas nunca, exceto talvez ).

O que Sam pensa

Embora esse blog normalmente trate dos meus próprios erros, hoje tenho a chance de vestir o chapéu de general de sofá. Por um lado, todas as decisões parecem ok; por outro, o botão criou um problema completamente desnecessário para si.

Comecemos pelo básico: acho que David deveria apostar o flop. Sua mão é forte o bastante para jogar por stacks contra Doug, e Brandon deveria foldar um monte de no pré-flop. Eu não me preocuparia em levar um check-raise que ameaça o stack; se acontecer, paciência. Às vezes você tem que jogar poker sem garantia de que tem a melhor mão.

O check no turn, contudo, me parece bom e coerente com a linha adotada no flop. Damos chance para Doug ou Brandon fazerem par e extrairmos deles no river. Duas streets de valor de mãos piores não existem nesse board. Diferente de um board ,, aqui não podemos melhorar para um full house maior no river ( ). A razão para apostar turn seria evitar dar um free card para empate ou dois outs gratuitos para pocket pairs. A perda de EV do check é mínima.

O check também é bom se estivermos com medo da agressão de Brandon e quisermos aumentar a chance de obter o segundo lugar. Porém, seguindo essa lógica, no river deveríamos dar um call simples. Dado o contexto do torneio, precisaríamos ser pagos muito frequentemente por full houses piores para o raise ser bom. Além disso, nos expomos a re-blefes e tiramos a possibilidade de Doug dar um overcall com mãos piores. Ambas acontecem raramente, mas receber call de um raise de uma mão com também é raro.

O segundo problema: não gosto do size do raise. David só tem uma mão clara de valor: . É uma mão extremamente forte. Brandon quase nunca vai dar bet-fold com um Ás no river, e ao dar raise de 30% do pote contra mãos com 9, tiramos valor de nós mesmos. Pode até existir um equilíbrio complicado que justifique esse size, mas, para mim, esse raise grita “tenho Ás” e incentiva Brandon a shovar todos os , algo nada desejável para David. Se vamos incluir , blefes e alguns , prefiro usar um size mais próximo do pote, algo em torno de 700k.

Quando recebemos o all-in, o spot fica horrível, e não dá para pagar sempre com . O fold sem blocker para quadra parece correto. Mas acho que David provocou esse all-in ao fazer um raise pequeno demais.

O que o solver diz

Eu honestamente tentei rodar no solver, mas desisti pelos motivos abaixo. A maioria dos ranges do pré-flop exige que Doug faça 3-bet ou fold no SB, deixando apenas 3% de mãos para call, o que impacta muito o range de call do BB — Brandon não deveria pagar com K9o. Resultado: já no pré-flop, dois dos três jogadores têm ranges incorretos e loose demais. E, embora o board seja ótimo para solver, que organiza tudo lindamente em texturas estranhas, o desfecho ainda é totalmente humano.

Acho que David deveria apostar flop, porque trips na mão de Brandon são raros, e a chance de ganhar um pote grande contra Doug é alta. No river, não sou fã do block bet de Brandon. Sim, ele bloqueia um 9, mas é uma das piores mãos com 9, porque estamos torcendo para sermos pagos por K-high. Quando David dá raise, ele provavelmente deve cerrar os dentes e pagar com contendo paus, bloqueando os suited Q2s de Brandon.

Considerando que Brandon tem menos de 10 combos de valor, ele deve escolher seus 3-bets de blefe com muito cuidado, usando mãos com uma carta alta de paus para bloquear , que bloqueia Q2s.

Conclusão e avaliação

Muitas ações nessa mão deveriam ocorrer com frequência baixa ou nunca. Na ordem:

• call de Doug no pré-flop (melhor 3-bet ou all-in),
• call de Brandon no pré-flop (melhor fold),
• check de David no flop (melhor bet),
• bet de Brandon no river (melhor check),
• raise de David no river (melhor size maior ou só call),
• all-in de Brandon no river (melhor fold),
• fold de David no river (bom na teoria, mas fraco contra blefes de 9 sem carta alta de paus).

Muitos erros? Sim. Mas nenhum grave. O pior de todos talvez seja o all-in no river, porque arrisca muitas fichas e precisa funcionar frequentemente. Check no flop ou raise pequeno no river não são tão graves quanto um overbet de 3 potes errado.

Mas como decidi avaliar o jogo de David: seu check no flop, check no turn e size do raise no river são pequenos erros agravados pelo prêmio extra pelo segundo lugar.

Nota: C+

P.S. Coleman conseguiu sua Purple Jacket mesmo assim — GT.

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