"PR0DIGY" analisa as falhas de Linus

— Hoje vamos olhar algumas mãos entre Linus Loeliger e Bjorn Li, jogadas na $200/$400 com ante. Você mencionou que gosta bastante desse formato, certo?

— Sim. No heads-up já há ação constante, e com ante é preciso jogar quase todas as mãos, especialmente se você usa limps. Embora em muitos matches desse tipo os jogadores combinem previamente não usar limps, o jogo continua sendo muito agressivo e com ranges extremamente amplos. Não dá para se esconder atrás de mãos fortes; é preciso entrar em potes com mãos duvidosas e torcer pelo melhor.

— Dá a impressão de que AsianFlushie e LinusLove continuam jogando só porque nenhum deles quer ser o primeiro a desistir?

— Eles já jogaram muito um contra o outro. Ainda em dezembro passado me contaram que já tinham disputado 80.000 mãos, e esse número só aumentou, mesmo com algumas pausas. Pelo que sei, Flushie está levemente no lucro, mas é um resultado pequeno considerando o volume.

— Na primeira mão, Linus defendeu no pré-flop contra um raise de 2.5x, e depois aplicou um check-raise no flop. Tudo padrão?

— Sim, essas mãos nunca são foldadas no pré-flop, mesmo sem ante. Em teoria, dá para misturar a estratégia, mas jogadores desse nível sempre vão optar pelo call. É impossível chegar a esses limites sem acreditar que sabe jogar bem esse tipo de mão.

O tamanho da c-bet também é totalmente padrão. Em boards pareados bem baixos, às vezes se aposta um pouco mais. Linus fez um raise de meio pote, geralmente o maior sizing usado nesses flops. Existem raras exceções em que se aposta mais, mas é incomum.

— Flushie responde com outro raise.

— Esses constantes raises e re-raises são o que tornam o duelo interessante. Linus não quer apenas dar call, para não permitir que o oponente realize equidade, mas Bjorn o pune imediatamente por isso. Se você começar a aumentar com frequência, ele vai 3-betar logo em seguida. Repito: a dinâmica entre eles é extremamente agressiva, e ambos se sentem confortáveis nesse tipo de ambiente.

— Linus volta a aumentar.

— Haha, claramente não quer perder a iniciativa. O range dele contém muitas mãos de valor, mas mesmo com essa mão específica ele está feliz em inflar o pote.

— Flushie dá call, e no turn Linus aposta meio pote.

— Mais uma vez, a linha mais padrão. Ainda assim, às vezes pode-se considerar check-call ou até check-raise. Se checarmos, Flushie provavelmente fará uma aposta pequena, oferecendo boas pot odds.

— No river, o straight se completa; Linus shova e recebe o call.

— Linus ainda pode perder para um full house, mas, por exemplo, o Flushie não pode ter aqui. A única possibilidade é , mas nós temos o .

Considerando o quanto de dinheiro já foi colocado no pote nas streets anteriores, a mão de Linus parece até mais forte do que realmente é. E uma das combinações mais prováveis com que o oponente poderia nos “coolerar” já tinha sido foldada há tempos. Mesmo assim, por mais agradável que seja ver o straight se completando, Bjorn ainda tem muitos full houses no range, e não dá para ficar feliz com um snap call.

— Mas com o straight o all-in era a única opção aqui?

— Sim, o check-call seria melhor se tivéssemos um straight sem copas. Nosso bloqueia muitos possíveis blefes. Flushie poderia facilmente ter jogado assim com .

De modo geral, um check-call do Linus nessa situação seria mais um exploit, e não uma linha ditada pelo solver. Esse match é o verdadeiro Velho Oeste do poker — impossível de analisar sob uma ótica puramente GTO. Tudo muda radicalmente a cada mão.

— Como você previu, Bjorn pagou instantaneamente e mostrou .

— O que dá pra dizer? Linus simplesmente não teve sorte. No river, não havia mais para onde correr — talvez pudesse ter jogado diferente nas ruas anteriores.

4.5

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— Na mão seguinte, Bjorn abriu novamente com um raise de 2.5x do botão, e Linus deu call.

— Essa mão é boa o bastante para uma 3-bet, mas o problema desse tipo de mão é que podemos acertar uma combinação forte, mas não o nuts. O lado positivo da 3-bet é que reduzimos o SPR e ficamos mais confortáveis em colocar todas as fichas com top pair fortes. Se acertarmos um ás depois de 3-betar, podemos enfiar o dinheiro no pote sem medo. Mas se só pagarmos, dificilmente vamos querer nos comprometer com um SPR 20.

— Linus realmente acertou o ás. Flushie fez uma c-bet do mesmo tamanho da mão anterior, e Linus pagou.

— Às vezes esse tipo de c-bet pode ser aumentado, mas depende dos sizings. Se o oponente usa sizings polares, com mãos muito fortes ou muito fracas, é melhor não fazer check-raise com mãos fortes. Mas em partidas com ante, gosto mais da linha check-raise + aposta no turn, porque nesse formato nossa mão parece um pouco mais forte do que seria sem ante.

— Linus deu call, e Bjorn disparou o segundo barril.

— Ah, eu vi essa mão. Linus vai aumentar, certo?

Várias pessoas me mandaram essa mão perguntando: “O que diabos está acontecendo aqui?”. Bjorn escolheu um sizing não muito grande, e Linus parece tê-lo lido, como se dissesse: “Sei que você tem , mas essa mão eu ganho, então vou aumentar”.

Mas o problema é que o oponente é o AsianFlushie, não um reg de $2/$5 do Wynn. Ele sabe perfeitamente o que está representando com . É bem provável que eles já tenham tido mãos em que, no showdown, mostraram exatamente as mãos que estavam representando. Mas isso nem sempre acontece.

Não gosto da linha do Linus porque, se nossa intenção é check-check no river, o ideal seria ter duas cartas de ouros. Se o river não nos ajudar, checamos; se vier um ouro, temos o nuts. Nós vencemos vários ases — , , e assim por diante —, mas o oponente também tende a jogar essas mãos quando tem o . E quando o está com Linus, aumenta a chance de parecer que estamos tentando “provocar” uma ação. É engraçado chamar uma aposta de 75% do pote de provocação, mas esse é justamente o spot em que Bjorn poderia ter apostado ainda mais.

— Flushie pagou. No river, Linus shovou e recebeu call de .

— Sim, mão interessante. Eu nem diria que foi uma armadilha completa da parte de Bjorn. Com uma mão dessas ele está claramente à frente do range polarizado de raise no turn, mas se no range do Linus há mãos como , , e outras com as quais ele tenta extrair valor de algo como , então, ao jogar bet-call com , estamos basicamente imprimindo dinheiro.

Para uma verdadeira armadilha, seriam necessárias mãos mais fortes — sets ou dois pares. Mas Bjorn jogou de forma muito astuta e induziu ação com uma mão apenas um pouco melhor do que as combinações com que Linus tentava extrair valor.

Fiquei curioso com o timing do Bjorn no river. Se foi um snap call, é sinal de que ele conseguiu exatamente o que queria e superou Linus. Mas se ele pensou por um tempo, provavelmente estava apenas pegando blefe e não esperava ver . Eu acho que foi o primeiro caso.

Adorei essa mão. Quero destacar novamente que Linus tinha o — pra mim, isso é um sinal de alerta, mas é possível que ele tenha levado isso em conta e, mesmo assim, tenha decidido seguir essa linha. Isso mostra o quanto ele confia no próprio jogo. Mas Flushie estava um passo à frente.

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— Na terceira mão, temos um pote de 4-bet. A 3-bet é padrão?

— Eu diria que pode ser até um erro não aplicar a 3-bet aqui com alta frequência. Embora eu não tenha revisado esse tipo de spot no solver há algum tempo. O call na 4-bet também é obrigatório — mesmo que tenhamos certeza de que o oponente tem .

— Flushie fez uma c-bet pequena no flop. Não faz sentido aumentar aqui com o par baixo?

— Linus é justamente o tipo de jogador que às vezes pode aumentar nesse spot. Mas o raise deixa a mão maluca demais, porque com esse tipo de mão a última coisa que queremos é ver um all-in. Ao aumentar, nos colocamos em uma situação difícil. Temos apenas par baixo e cinco outs para melhorar diretamente. Não é muito, mas foldar ainda assim faz a gente perder uma boa equidade. Podemos pagar esperando ver o oponente mostrar ou , mas contra qualquer par estamos em péssima situação. Então, o check-raise aqui geralmente leva a consequências desagradáveis e imprevisíveis. É melhor jogar assim com mãos um pouco mais fortes — que aguentem um shove — ou um pouco mais fracas, que possamos foldar tranquilamente.

— Linus pagou, e no turn veio um . O stack de Bjorn ficou um pouco maior do que o pote.

— Fico curioso se Linus alguma vez lideraria aqui. Os potes 4-bet com ante ainda não são bem estudados, mas eu não me surpreenderia se ele ocasionalmente jogasse dessa forma.

— Ele deu check, e Bjorn apostou bem pequeno.

— Interessante o porquê de Flushie escolher esse sizing. Ele oferece ótimas pot odds para muitas mãos, mas, ao mesmo tempo, justamente por ser “barato”, Linus precisa defender mais mãos.

Com uma mão como , ficamos numa situação estranha: as pot odds para o call são muito boas, mas talvez já não tenhamos outs reais. É como se Bjorn dissesse: “Posso te dar esse preço tranquilo, porque meu range é composto principalmente por e ”.

Mas também não podemos foldar o tempo todo para apostas de 1/4 do pote.

— Linus deu call, e no river o Dez dobrou. O pote tem $46.000, e Bjorn foi all-in de $24.000. No lugar de Linus, deveríamos temer que o oponente tenha muitos ?

— Com um , ele certamente shovaria e provavelmente teria apostado no turn também.

— E quais são os blefes dele?

— Qualquer mão que não tenha conectado o board. Qualquer combinação suited com uma carta alta e uma baixa, tipo .

K9o, A9o, A5o também podem jogar assim. A 4-bet em posição funciona melhor com esse tipo de carta do que com as “bonitas”, que depois dá pena de largar diante de um 5-bet.

— O que Linus deve fazer?

— Não há resposta exata — é uma mão puramente exploitativa. Podemos refletir sobre o que definitivamente deveria ser fold. é o pior bluff-catcher possível — não ganhamos de nada. Até é melhor, pois bloqueia menos blefes. Tenho certeza de que eles têm um monte de reads um do outro que influenciam a decisão.

— Vamos ver o showdown.

— Damas... Faz todo sentido. Antes citei e como exemplos de mãos “à prova de balas”, com as quais se oferece pot odds vantajosas de propósito. Mas também se encaixa perfeitamente aqui. Uma das principais mãos que queremos manter no pote é — só perdemos se o oponente fizer trips ou dois pares, e ainda há o cooler draw, já que pegamos o stack inteiro se bater um nove no river. Então faz sentido tentar manter essas mãos na disputa. Com , ou , seria melhor apostar mais no turn.

No vácuo, é impossível dizer se o call do Linus foi bom ou não. Quando alguém aposta meio pote no river, não é necessário estar certo todas as vezes. E com esse tipo de sizing, os oponentes podem blefar com muita facilidade.

— Você mencionou várias combinações com as quais ele pode aplicar o 4-bet e depois disparar três barris.

— Sim, mas essas mãos nem sempre estarão no range do Bjorn. Damas, por outro lado, estão lá 100%.

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