Vamos falar de equilíbrio contra outros oponentes

Petrangelo: Eu tentei escolher mãos que são típicas do Main Event, como este pote de 3-bet com três jogadores, com o qual vamos começar. Essas situações tiram o chão do jogador logo de cara. É aqui que os bons jogadores constroem seu edge principal, enquanto os amadores que jogam com base nos solvers começam a enfrentar grandes problemas. No Main Event, especialmente no primeiro dia, acontecem mãos que os high rollers experientes não veem há muito tempo, mas que são completamente normais para grinders de cash games baratos em cassinos.

A stream começou no nível 200/400/400, ou seja, não desde o início. Scott Blumstein, ex-campeão do Main Event, dá raise do lojack e recebe uma 3-bet. Primeiro dia do Main, você recebe 3-bet de um desconhecido. Olhe para esse homem de camisa, avalie sua aparência, seu comportamento, e pergunte-se: ele é capaz de blefar pré-flop? Pode ser que ele saiba como é visto pelos outros e tire vantagem disso de forma descarada? Passei por uma fase em que esses caras me destruíam – eu achava que eles nunca blefavam e foldava tudo.

O jogador no small blind encontra . O que você faria no lugar dele?

Jaffe: Minha decisão no Main Event vai ser diferente de um torneio normal, onde meu ROI padrão é cerca de 20%. Lá eu posso jogar com base nos charts. Aqui... talvez seja uma boa situação para foldar direto! Alguma informação sobre Napolitano ajudaria. Dar call fora de posição vai ser sofrimento, mesmo que você ache que é melhor que os dois oponentes.

Mas se não sei nada sobre Napolitano, ainda não estou pronto para foldar valetes. A não ser que esteja numa mesa dos sonhos. A mesa no primeiro dia influencia muito nosso ROI. Digamos que você estime seu ROI no Main em 80%. Uma boa mesa pode aumentar isso para 150%, uma ruim pode cair para 50%. Como vamos jogar mãos marginais, como essa com valetes, depende muito da mesa.

Talvez eu fizesse um clique esquisito, tipo 7k. Um sizing bizarro, sem sentido, mas com a desculpa à la Norman Chad – aumentar para ver onde estamos – que no Main acaba fazendo sentido.

Não tem resposta clara aqui, tudo depende da mesa e dos oponentes. Mas uma coisa é certa – eu nunca daria call.

Para o GTO Wizard, o range do small blind no início do torneio, com 200bb, é este:

Com 160bb os ranges mudam um pouco, mas os valetes reagem igual – fold tranquilo. Então jogar com os charts também não é tão ruim! – GT.

Petrangelo: Concordo com você. Se eu tivesse aqui, o fold seria bem fácil. Gosto da sua ideia de uma 4-bet pequena. Depois pode apostar 25% ou 10% do pote no flop, receber call de e dar check até o river.

E mais: quando você dá call nessa situação, está jogando com cartas abertas. Você não faria esse call com 76s.

Jaffe: Se estivéssemos no botão – aí sim! Aí o call com valetes é bom na teoria e na prática, e contra oponentes passivos no pós-flop dá até pra mergulhar com mãos bem fracas. Tipo, call com J9s não rola, mas com JTs, por que não?

Petrangelo: Taylor dá call. Blumstein também. O que achou do call dele?

Jaffe: É próximo, mas eu sou a favor do call. Com K-9s eu já começaria a foldar. Tudo depende da agressividade do Napolitano. Não é nem a força do range dele, é com que frequência ele vai te colocar em decisões difíceis depois. Se eu acerto top pair, preciso levar até o turn, ou ele nunca blefa e o fold é fácil?

Outro fator é o tamanho do meu stack. Se eu tivesse 45k, eu foldaria.

Petrangelo: C-bet insana do Napolitano, concorda?

Jaffe: Sim, sim, claro. Totalmente fora da curva. O small blind tem set nesse flop em 15% das vezes, talvez mais. A textura é perfeita pro range do Blumstein. A gente tem que dar check com ases aqui, certeza.

Que leitura dá pra fazer do Napolitano? Parece que ele acha que o agressor pré-flop sempre tem que continuar agressivo no flop. Isso vai influenciar como jogamos contra ele no futuro.

Todos pagam no flop. Você lideraria o turn no lugar do Blumstein?

Petrangelo: É obrigatório liderar. Se o small blind tivesse set ou straight, teria mostrado no flop.

Jaffe: Sei que na teoria esses ranges não existem, mas na prática, como vemos, eles existem sim. No small blind, com essa linha, 50-60% das mãos são valetes ou damas. Se tenho trips, tanto faz se eles foldam ou pagam, mas quero apostar contra eles. Não sei o que Napolitano tem, mas ele provavelmente está atrás e quase nunca vai blefar.

Petrangelo: No Main Event, não espere que um amador dê 3-bet com A-5s, A-4s, T-9s ou Q-Js. Pode acontecer, mas é raro. Com stack profundo, essas mãos são muito mais confortáveis de jogar dando call. Só com pros ou recreativos fortes que essas 3-bets aparecem.

Jaffe: Então lideramos. E se alguém me perguntar com quais mãos vamos blefar pra equilibrar, eu dou de ombros e digo que não é disso que se trata. Equilíbrio é pra torneios difíceis contra oponentes fortes. Aqui não faz sentido.

Petrangelo: Ok, mas ele tem bastante blefes possíveis.

Jaffe: Sei disso, mas ele não precisa usar.

Petrangelo: O que acha da jogada no river? Taylor deve apostar com straight? E Blumstein com trinca?

Jaffe: Não quero comentar o Taylor – ele nem deveria estar nesse spot. Nossos alunos não devem dar cold call com valetes no small blind. Sobre o Blumstein, a aposta parece gananciosa demais. Eu daria check.

Napolitano paga, Taylor também e leva o pote.

Jaffe: Um conselho universal para amadores. Se você é o Jim do Kansas com $1.700 em prêmios no Hendon Mob, e um pro faz uma aposta grande no river deixando você short, nunca tente pegar blefe. Melhor decisão: fold. Mas se for all-in – aí sim, vai ter muitos blefes.

Petrangelo: Exato. Quando blefar no Main, tem que fazer doer se o oponente pagar e perder.

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Petrangelo: No chat pediram uma mão da Leo Margets, escolhi esta. Pote de 3-bet. Quando vi na stream, pensei: “Ok, interessante!”

Já começa agressivo: Desantis abre do UTG+1 com A-T offsuit, e Leo 3-beta com A-4s do lojack. Ele está abrindo contra oito jogadores – é 9-max. Em 9-max tem regras que você não pode quebrar. Uma delas é: com tanta gente na mesa, só abra com um mão boa. Não é 6-max. Tenha paciência.

No flop, Leo aposta 1/4 do pote, Desantis paga. Falando de range normal de 3-bet e call, esse flop não foi bom pra quem 3-betou... Ou você quer começar do pré-flop?

Jaffe: Sim. Leo Margets joga há muito tempo e sabe o que faz. Ela não daria 3-bet com A-4s se achasse que o oponente nunca folda . As pessoas podem surpreender – esteja pronto pra mudar suas reads conforme surgem novas infos.

Petrangelo: Sabendo que ele agarra os potes assim, o que mudaríamos na nossa estratégia? Talvez não 3-betar suited aces pequenos e parar de dar call com AJs – esses sim vale 3-bet. Jogar linear, sem lixo.

No pré-flop o call dele foi bem loose.

Range de call do Desantis segundo o GTO Wizard:

O 3-bet da Leo é bem padrão, feito com frequência, mais do que o call.

No turn, começa a ficar interessante. O que acha do segundo barrel?

Jaffe: Vejo contradição na lógica dela. Queremos pressionar Desantis como se ele fosse tight e cauteloso, mas contra um nit, eu não dou 3-bet com A-4s, só call. Se ele folda muito, esse barrel é arriscado. Eu teria começado com fold pré-flop – call só se os jogadores atrás forem muito passivos e nunca derem squeeze. E jamais 3-betaria – nem contra nit, nem contra LAG.

Estando no flop após 3-bet, eu faria exatamente o que ela fez! O range de call dele acerta bem esse board. Se vamos apostar, temos que entender que pra ganhar vamos ter que colocar muitas fichas em várias streets. Difícil saber se vai valer a pena.

Petrangelo: Concordo. E não pense que por estar numa mesa fraca o caminho é ir com tudo e dominar todos. Isso é um erro.

Enquanto falamos, o cara continua pensando e claramente parece desconfortável. Vemos a mão dele e sabemos que ele está sendo sincero. Mas esse comportamento pode ser encenação.

Jaffe: Tem um bom jeito de distinguir sinceros de trapaceiros, mas só funciona com quem olha as cartas antes da vez. Se a pessoa fica olhando ao redor e folda quando chega a vez, ela provavelmente age sinceramente. Mas se olha as cartas, finge tédio ou conversa e depois entra no pote, no showdown ele não terá 76s, mas .

Petrangelo: No river ele lidera. Sabemos que o Ás é ruim pro range dele e tudo mais. O que você faz ao ver linhas ilógicas assim de amadores? Ok, vemos as cartas. Mas se fosse a Leo, como pensaria?

Jaffe: Fico assustado e acho que perdi. Ele tem full house e todo sofrimento dele era fingimento.

Petrangelo: Mas Leo não é como nós. Ela entende que o cara tem lixo e vai foldar pro all-in!

Jaffe: Se eu desse all-in aqui, não teria nada a ver com as cartas. Eu teria concluído que ele liderou só pra evitar tomar shove.

Acho que não daria shove no lugar da Leo. Mas já estive em situações parecidas, às vezes deu certo, às vezes não. Uma vez dei all-in e pensei: “Que besteira você fez!” Mas o oponente foldou!

Difícil dizer se é bom ou não. Leo sabe melhor – ela jogou o dia todo com o cara.

Petrangelo: Esquecendo as cartas, gosto da ideia do blefe – ninguém blefa aqui, então não pode ser horrível.

Desantis foldou, seguimos.

A próxima mão é com o lendário Nick Rigby. A principal lição aqui é: as pessoas entram no Main Event por razões muito diferentes e veem o jogo de formas muito distintas. Alguns acham que jogar mãos lixo é, na verdade, o segredo do sucesso.

Jaffe: Rigby não é como aquele Kassouf, que só finge ser louco mas joga ranges normais. Rigby chega à mesa para dar show. Ele quer se divertir, aplicar blefes insanos e tudo mais. Quais são as chances de ele foldar 32o? Quase nenhuma. São 16 combinações extras em qualquer situação.

Aqui ele entra no pote contra um raise com 64o..

Nick Rigby sabe exatamente o que está fazendo e sabe usar sua imagem. Contra Killday, ele joga de um jeito totalmente diferente do que jogaria contra Petrangelo. Quando joga contra ele, você precisa entender a dinâmica entre vocês e o que ele acha do seu jogo.

Falando de maneira geral, quando joga contra alguém que tem muitas mãos malucas no range, recomendo fazer mais checks ou apostas pequenas. Esse tipo de jogador responde bem a provocações. Mas apostas grandes não funcionam tão bem.

Petrangelo: Se meu aluno jogasse essa mão contra Rigby dando check-call em todas as streets, eu o elogiaria e daria de ombros: é o Rigby, ele sempre está air. Mas não jogue como Killday! Ele tem medo de perder a iniciativa e continua apostando sem ter uma mão forte, caindo na armadilha do Rigby.

Jaffe: Contra jogadores como Rigby funciona bem a estratégia de “blockbet no flop – check no turn”. Quero destacar também o sizing dele. Ele aumenta para 15k num pote que tinha o quê, 11k? Será que ele jogaria assim com ? Provavelmente não. Mas com blefes ele vai aumentar o sizing. Se eu sou o Killday, sem grandes resultados no Hendon Mob, e sinto que estão me caçando, posso tentar usar isso como arma.

Petrangelo: Claro, estamos vendo as cartas dos jogadores, mas por essa linha pode ser que ele só tenha blefes. Quando você é Nick Rigby e acerta set ou dois pares disfarçados, provavelmente vai dar raise logo. Mas quando dá float no flop, o oponente aposta uma segunda vez meio sem confiança no turn, e você dá um grande raise... Bom, estamos vendo as cartas.

Raise no UTG, call no UTG+1 e Rigby no botão dá squeeze com T4o. Os stacks são deep. Como você recomendaria ao aluno punir essa jogada? Dar click-4-bets pré-flop? Parece que ele não faz 5-bets com lixo.

Tive uma situação parecida num torneio de $200k contra o Papai Noel... quer dizer, Korzinin. Ele ficava dando 3-bet com qualquer lixo, e eu não sabia como reagir: dar 4-bet com AJs porque estou bem à frente do range dele e aceito call ou fold, ou dar call e jogar pós-flop contra um range fraco – mas contra alguém que pode simplesmente dar shove com qualquer mão no flop.

Jaffe: No lugar do Caballo, gosto do call. Eu não esperaria muitas 3-bets malucas do botão contra UTG e UTG+1. Em outras posições, pode valer 4-bet, mas aqui o call parece melhor.

No pós-flop, Rigby joga sabendo exatamente a força da sua mão. Pequena c-bet no flop, depois check no turn. Ele não supervaloriza o par de dez e não tenta “fazer merge”. O mais interessante da mão é o blefe do oponente no river.

Quando Rigby dá check no turn ao invés de continuar pressionando, colocamos ele num par fraco, tipo 63s. Mas há grande chance de essa mão pagar no river! Não temos muitos valetes. Sim, temos e , mas será que isso assusta alguém que 3-beta um monte de lixo? Acho que devemos jogar aqui sem blefes.

Petrangelo: Também vale pensar como ele agiria no river com a mão típica desse spot – . Sempre folda? Dá call? Talvez shove?

Jaffe: Se eu tivesse certeza de que ele tem , eu aprovaria o blefe. Mas nunca projete seu jogo nos outros.

Petrangelo: E um último ponto. O pote tem 33k, temos 52k. Decidimos apostar 22k. Acho que esse sizing não vai fazer ele foldar , 76o ou 63s. Mas num all-in, acredito que teríamos muito mais folds.

Jaffe: Justo.

Rigby paga.

No pré-flop, Kuziv abriu do hijack, Geislinger deu call no small blind com , Mercier deu call com QTo.

No flop, Kuziv dá c-bet, Geislinger dá raise, Mercier paga.

Primeiro de tudo, espero que nenhum dos nossos espectadores dê call no small blind com , mas vamos tentar entender o que pensa alguém que joga assim! Vejo dois fatores. Primeiro: “eles nunca vão me colocar nessa mão!” Segundo: Jason Mercier, pelo que sei, é muito agressivo e pode dar squeeze depois do meu call. Ok, talvez... Mas mesmo se ele for agressivo, duvido que dê squeeze mais de 20% das vezes.

Em resumo, o call com geralmente é ruim, mas quando você vê alguém jogando assim, não se limite a rotulá-lo como fish – tente entender o motivo. Claro, você não vai decifrar tudo de cara, mas na próxima mão contra ele você vai jogar melhor.

Petrangelo: No flop, ambos dão check pro raiser, ele aposta pequeno – tudo certo, nesses boards e em posição deve-se apostar com frequência. O jogador no small blind fecha a armadilha e dá check-raise, que parece bem agressivo.

Jaffe: Pra mim, é um típico raise pra “ver onde estou”.

Petrangelo: Eu vejo o raciocínio dele assim: é uma mão muito forte que joguei de forma astuta, e agora quero extrair valor máximo.

Mercier dá call. Você jogaria igual?

Jaffe: Sim. Não dou raise aqui, exceto blefes exploratórios, onde a mão pouco importa. Posso aumentar com J9s, 76s e afins. O principal é ter identificado o small blind como alguém que faz raises informativos. Ou contra regs agressivos – houve um tempo em que todos os regs europeus davam check-raise nesse spot com qualquer mão, e contra eles você podia dar click-reraise no BB.

Petrangelo: E o floating aqui é menos eficiente?

Jaffe: Contra reg, é eficiente. Contra esse tipo de recreativo, normalmente não. Ao ver o call, ele vai te colocar em um par médio e achar que ainda está à frente.

Petrangelo: Com qual mão mais fraca você daria cold call no lugar do Jason?

Jaffe: Trips :)

Petrangelo: Quem gosta de reads, veja o que acontece com o jogador quando sai um no turn.

Ele dá check rápido, suspira e desvia o olhar com tristeza.

Jaffe: Ha,ha! Talvez ele só esteja dando check com todo o range nesse turn!

Jason dá check em seguida – comentários?

Petrangelo: Pode ter reagido à expressão do oponente e pensado: “Tem algo estranho – melhor dar check”. Era hora de enfiar T9s, mas ele dá check, o que foi inteligente.

Jaffe: Ou talvez ele ache que o range do oponente é polarizado. e , seguem apostando, mas os blefes e armadilhas como e dão check.

Petrangelo: A lição aqui é saber extrair valor com nuts. Jonathan já disse que o range de cold call do Mercier aqui é trips. O fato de nosso full house bloquear top pair não é motivo pra dar check, porque no range do Mercier não há mãos com . Ao contrário, é uma ótima carta pra extrair valor, seja com ou . Não espere que o pro agressivo vá blefar se você der check – após o cold call no flop, ele não tem blefes no range.

Com aposta no turn dava pra pegar mais 10-12k. Com check, não se ganha isso. Slowplay aqui é erro grande.

No river, Geislinger apostou 7.2k, Jason deu call rápido, pois ainda ganhava de alguma coisa, e levantou as sobrancelhas ao ver a mão do oponente.

Resumo: Quando você tem uma combinação muito forte e pensa só em induzir blefe – está errado. Para pegar blefes, basta ter bluffcatcher. Nuts são pra levar o stack em caso de cooler.

Jaffe: Rigby entende isso!