Antes do poker, Norson Saho atuava na área de design de games. Entre o trabalho de estagiário e a faculdade no Morumbi, jogava poker fechado com seus amigos. Tudo começou como uma brincadeira. Na época, Saho já era jogador profissional de Age of Empires, um jogo de estratégia em tempo real, e utilizava o mesmo nick que usa para jogar poker online “BrazilianEye”. Quando viu outros colegas da área tendo sucesso e migrando para o poker, resolveu se arriscar também.
Ainda sem base de conhecimentos suficientes no jogo de cartas, suas primeiras investidas não deram certo e viu a necessidade de estudar e se preparar. Dali, tudo começou a dar certo.
Naquele cenário, para ter sucesso na área de jogos eletrônicos, Norson Saho relembra que era necessário ter uma grande capacidade de autodidatismo, de desenvolver a sua própria estratégia. Era tentativa e erro. A troca de informações não era comum como hoje em dia e, por isso, ele precisou descobrir o seu próprio método: jogar, errar e aprender. E essa necessidade da busca de informações por conta própria, de ler muito e correr atrás, o ajudou no poker.
Por questões de bankroll e pela facilidade na época, Norson Saho começou no poker online. O poker live ainda estava se desenhando e, os circuitos além de mais caros, eram ainda instáveis e representavam uma lucratividade menor. Depois de vários anos no online, ele se viu cansado e desmotivado com aquela rotina. Foi aí que o jogador começou sua migração para o live. Ele se apaixonou e, em menos de seis meses, já estava se destacando nos principais circuitos do país.
Poker ao vivo
Para além da questão financeira, Norson Saho encontrou uma satisfação pessoal: “Mesmo que seja possível volumar muito mais no online, prefiro jogar menos no live e me manter ali. Porque acho que vai ter um benefício maior para mim, por questões de gratificação, de prazer. O prazer está onde? Pra mim, está na relação humana, no fato de você sentar no clube e poder conversar, dar uma falinha ou tomar uma falinha”.
Talvez por isso, Norson Saho foi um dos raros jogadores que teve a maior parte de seus ganhos no poker ao vivo. Nas mesas, ele percebia as maiores dificuldades dos oponentes que vinham do online e encaravam, pontualmente, algum grande torneio live. Segundo ele, “muitos jogadores não conseguem se adaptar à nova dinâmica. Porque é, de fato, um exercício difícil você ficar sentado em uma mesa, muitas vezes, por mais de 12 horas. É fácil se distrair e acabar ignorando o que está acontecendo à sua volta. E este é um grande erro, pois tem muita informação vinda da parte social. Às vezes, o oponente levou uma bad beat e você não viu porque estava vendo o celular, por exemplo. Ou ele brigou com o garçom porque pediu um filé de frango e veio um parmegiana de filé mignon, ficando queimado na mesa. Esse tipo de informação acaba sendo crucial numa mão”.
Norson Saho, pontua, ainda, as diferenças no dia a dia dos jogadores do online: “Em casa você está sentado na sua cadeira, na sua mesa, com as suas coisas. A vida está relativamente regulada. No poker ao vivo, não. Um dia você está no BSOP, no outro em Vegas. O pedágio físico que o poker ao vivo cobra do jogador é árduo. É preciso preparação para aguentar as viagens e o fato de cada dia estar sentado numa cadeira diferente.”
Norson Saho também é adepto dos bons hábitos. Ele não bebe e não fuma. Tem uma boa alimentação, pratica esportes e descansa bem todos os dias. Organização e preparação sempre fizeram parte do seu dia a dia nas grandes conquistas.
A famosa poker face
Norson Saho ficou famoso nas mesas pela tranquilidade, sem demonstrar grandes variações de humor, mas ele já admitiu que também “tilta”: “Às vezes eu me queimo um pouco, mas porque eu vou demonstrar? O importante não é você não queimar, o importante é não demonstrar para os adversários que você está assim. Algo que me ajudou muito no começo, para não me queimar, foi o fato de que eu estudei muito a questão da matemática do jogo. Por exemplo, quando eu fiz a transição de sitting go para torneios, eu estudei muito quantas vezes o jogador pega ITM, quantas vezes ele vai chegar na final, quantas vezes irá cravar. Eu sabia que, por exemplo, quando se entra num torneio você está entrando literalmente para se ferrar. 95% das vezes você sairá frustrado. Você irá bolhar ou fazer mini-cash que, às vezes, nem salvará os buy-ins que você fez. Então eu já cheguei pra jogar torneio com essa mentalidade: ‘estou entrando em um negócio que é de altíssimo risco’. Você não pode ir a um torneio com aquela expectativa de chegar e cravar.
“Normalmente, não é isso que acontece. Você tem que ir para o torneio sabendo que provavelmente você vai se dar mal. Esta é a realidade. Acho que isso me ajudou muito. Desde o começo, eu já sabia disso. Por isso, e também pela questão de gerenciar o bankroll. Eu sempre tive bastante buy-ins, 200, 300, 500, sabendo que poderia pegar uma fase muito ruim”.
Resultados
Seu principal resultado ao vivo foi na World Series of Poker 2019, no torneio Colossus. O evento teve buy-in de $400 e incríveis 13.109 entradas. Norson chegou à mesa final e caiu depois de uma triste bad beat. De QQ, ele foi eliminado, em all-in pré-flop, pelo jogador da Coreia do Sul Sejin Park, que tinha A5. Norson levou $90.838, caindo na 6ª posição. Seu carrasco acabou cravando o torneio depois e embolsou $451.272.
Em 2015, ele também teve um resultado gigante no BSOP de Brasília. Ele derrotou o mineiro Rafael Caiaffa no heads-up do Main Event e levou R$ 357.500.
Oficialmente, Norson acumulou cerca de $600.000 em premiações ao vivo na carreira, mas os números reais são bem maiores, uma vez que grande parte dos torneios regionais, como o CPH, que ele já jogou e ganhou não entram na conta.
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