David Einhorn tem sido notícia no mundo do poker depois de se envolver eu um all-in pré-flop no primeiro nível de blinds de um torneio de $525.000 da WSOP Paradise. O que muitos não sabem é que o bilionário é jogador das antigas. O patrimônio de David é avaliado em $1,3 bilhão. Em sua carreira no poker, ele conquistou prêmios tanto em torneios de $400 quanto de $1.000.000. Há exatos 10 anos, em 2014, ele deu uma entrevista bem interessante para o podcast Thinking Poker. Vamos relembrá-la.
– David, eu ouvi falar de você depois do One Drop, mas ao olhar seu currículo no poker, vi que você já tinha bons resultados em 2006. Há quanto tempo você joga poker?
– Comecei cerca de dois anos antes disso, quando fui convidado para um torneio beneficente em Nova York. Me diverti muito lá e conheci um amigo que jogava bastante poker. Ele me recomendou alguns livros, e nós começamos a nos preparar para a World Series of Poker (WSOP) de 2006. Meu primeiro grande torneio foi o Main Event daquele ano. Tive um bom desempenho, e desde então tento jogá-lo quase todos os anos. [Nota do Editor: em 2006, David terminou na 18ª posição e doou todo o prêmio de $659.730 para a Fundação Michael J. Fox. Já os $4,35 milhões que ele ganhou ao terminar em terceiro no One Drop de 2012 foram doados à organização City Year].
– O que te atraiu no poker?
– Eu simplesmente gostei do jogo. Eu amo quebra-cabeças, e a maioria das decisões no poker, na minha opinião, são exatamente isso.
– Então, para você, a mesa de poker é como um quebra-cabeça que precisa ser resolvido?
– Sim, exatamente. Minha tarefa é descobrir o que meus oponentes estão planejando.
– Gosto dessa abordagem. Acho que isso explica por que você joga nos torneios mais difíceis – onde estão os quebra-cabeças mais complexos?
– Naturalmente. Eu não estou interessado no poker do ponto de vista do lucro. Eu gosto de competir e, como você disse, tentar resolver quebra-cabeças difíceis. Quanto mais desafiador, mais interessante, especialmente naqueles raros momentos em que consigo encontrar a solução certa.
– Você mencionou que, no início da carreira, leu vários livros e treinou com um amigo. Como você se prepara para os torneios agora, já que você joga apenas alguns por ano? Por exemplo, como foi sua preparação para o One Drop?
– Nos últimos dois anos, eu contratei treinadores cerca de dois meses antes dos torneios. Antes do One Drop, estudamos um pouco sobre outros jogadores, já que a lista de participantes era bem pequena. Então, antes do torneio, eu já tinha uma ideia do que esperar de alguns oponentes.
– Pode nos dizer quem foram seus treinadores?
– Claro. No primeiro ano, eu tive três treinadores: Phil Gordon, Mike McDonald e Brandon Adams. Este ano, trabalhei com Andrew Frankenberger.
– Há muitos jogadores fortes. Por que escolheu esses especificamente?
– Alguns eu já conhecia, outros foram indicados para mim.
– Você teve excelentes resultados no One Drop. Como se sentiu ao sentar-se à mesa sabendo que enfrentaria jogadores muito inteligentes e bem mais experientes?
– É claro que, tecnicamente, eles são muito mais fortes do que eu. Minha principal vantagem – se é que eu tinha alguma, o que duvido muito – era que, para mim, aquilo era apenas uma pausa de verão. Eu estava lá apenas para competir. Não dou nenhuma atenção às apostas, fichas ou coisas do tipo. Meu foco é apenas no meu jogo.
– E, ao contrário de outros jogadores, o buy-in não te pressionava. Mesmo para aqueles que venderam ações, era um valor significativo. Como você doa todos os seus ganhos para caridade, o lado financeiro não pesa?
– Tenho muitas coisas na minha vida que me pressionam constantemente, então, no poker, eu relaxo.
– Você sabe que a maioria dos profissionais vende ações. Isso te incomoda? Tem a impressão de que isso reduz sua vantagem?
– Não. Existe uma certa dinâmica quando os jogadores trocam ações, mas não tenho certeza se isso influencia a forma como jogam ou minha vantagem. Gosto do One Drop e do Main Event da WSOP porque, mesmo para os profissionais mais experientes, esses torneios podem ser cruciais no ano deles. Para um amador, é uma chance de se tornar rico e famoso; para um profissional, é uma oportunidade de entrar para a elite. Por isso, esses torneios são abordados de maneira mais séria, e os jogadores correm menos riscos neles, o que pode me dar alguma vantagem.
– Muitos jogadores acreditam que as habilidades no poker são extremamente úteis para o que você faz profissionalmente – investimentos, mercado de ações e assim por diante. Eles acham que poderiam se sair bem nessa área, caso quisessem. Você vê alguma conexão entre essas atividades? As habilidades de uma área ajudaram na outra?
– Existe uma semelhança, mas suspeito que funcione apenas em uma direção. É mais fácil para um investidor começar a jogar poker do que para um jogador se tornar investidor. Uma das razões é que no poker tudo acontece muito rápido. O resultado de uma mão é conhecido em poucos minutos. Em investimentos, o processo de pensamento é quase o mesmo, mas o resultado pode aparecer em dois, três, quatro ou cinco anos, e isso exige uma abordagem completamente diferente.
– Podemos dizer que, em investimentos e negócios, existem muito mais variáveis do que no poker?
– Não tenho certeza se eu colocaria dessa forma, mas não discordo. Para começar, vamos comparar o que há em comum entre poker e investimentos. Em ambos, existem coisas nas quais você pode ter 100% de certeza. Por exemplo, suas cartas no Texas Hold'em – você as conhece, assim como as cartas que o dealer abre na mesa. Em investimentos, é parecido – por exemplo, relatórios financeiros de uma empresa estão disponíveis a qualquer momento. Mas também existem coisas que só podem ser especuladas. O que meu oponente está planejando? Como ele joga? Ou, nos negócios – o que está na pauta da administração da empresa? O que preocupa outros acionistas ou potenciais investidores? Essas são coisas sobre as quais só podemos fazer hipóteses.
A estratégia de jogo em uma mão pode ser construída com base no conhecimento e na análise, mas o resultado pode variar. No poker, ele é mais definido, porque o número de cartas possíveis é finito – embora ainda não saibamos quais exatamente aparecerão. Em investimentos, você também pode ter um conjunto de fatos precisos e boas teorias, mas o resultado pode ser influenciado por eventos no mercado, no mundo e dentro da própria empresa.
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– Isso cobre os pontos em comum. E quanto às principais diferenças?
– Acho que, no nosso ramo, há mais elementos envolvidos. No poker, fatores objetivos são relativamente fáceis de avaliar. Relatórios financeiros também podem ser lidos, mas no mundo financeiro há muita informação, e identificar o que é realmente importante é um desafio maior. No mundo dos negócios, há mais dimensões do que no poker.
– Você mencionou dois torneios – o Main Event e o One Drop. Eles são muito diferentes entre si, embora os melhores profissionais joguem em ambos. No One Drop, apenas os jogadores mais fortes participam, enquanto no Main Event há pessoas de níveis muito variados. Alguém poderia dizer que é mais difícil prever as ações de oponentes desconhecidos no Main Event. Por outro lado, os melhores jogadores se destacam por serem imprevisíveis. Em qual torneio você acha mais fácil ler os oponentes?
– Essa é uma ótima pergunta, mas, temo, não tenho uma boa resposta para ela. Joguei apenas dois torneios One Drop e outro intermediário, de $111.000. Em um deles, joguei muito bem, mas no outro fui eliminado cinco horas antes do penúltimo lugar. Provavelmente, não tenho experiência suficiente no One Drop. Já no Main Event, fui longe duas vezes. No total, joguei entre 8 e 9 edições, e em 6 delas não passei do segundo dia.
– Parece que você joga principalmente por motivos beneficentes. No One Drop, uma porcentagem significativa do prêmio é destinada à caridade. Isso influenciou sua decisão de participar?
– Não, isso não influencia. Primeiro, quero jogar, e, se tiver sorte e ganhar algum dinheiro, ajudar alguém. Tenho um departamento de caridade considerável, confio neles e sei que posso contribuir muito mais com essa equipe do que com o poker.
– Você pessoalmente escolhe os fundos e define a estratégia do departamento?
– Sim, claro, com o apoio de uma equipe de profissionais.
– Você mencionou gostar de resolver problemas. Recomendaria o poker como uma forma de desenvolver habilidades gerais ou acredita que seria melhor ler, por exemplo, livros de filosofia?
– Não sei ao certo. Eu jogo porque gosto e porque amo competir onde é preciso pensar. Não estou certo de que o poker me ajuda em outras áreas.
– Você joga poker com amigos ou viaja para isso?
– Organizo torneios beneficentes em Nova York todo ano. Na minha empresa, fazemos um torneio anual, convidando também clientes. Participo de alguns eventos semelhantes algumas vezes ao ano, mas mais pelo aspecto social. Costumo ir a Las Vegas para o Main Event e, ocasionalmente, a Atlantic City, se tiver oportunidade. Não jogo regularmente, e cash games não me interessam.
– Você se prepara de outra forma além de trabalhar com profissionais?
– Às vezes, antes de ir para Vegas, leio algum livro novo sobre poker. Gosto de ver novas abordagens.
– Há algo no poker que tem chamado sua atenção ultimamente?
– Eu jogo apenas Texas Hold'em e, ultimamente, me sinto mais confiante no pós-flop. Acredito que, atualmente, jogo melhor do que a média dos participantes do Main Event. Me tornei muito mais passivo no pré-flop. Este ano, cheguei ao quinto dia do Main Event sem fazer um único 4-bet. Em 2006, ou eu ganhava os potes no pré-flop ou vencia confrontos lá mesmo, principalmente em coin flips, mas às vezes tinha uma vantagem de 4 para 1.
– Isso também é uma habilidade importante no poker.
– Sem dúvida. Mas no One Drop, quando terminei em terceiro lugar, não houve nada parecido. Evitei confrontos de all-in por um bom tempo, até que todas as cartas fossem abertas. No primeiro grande all-in, meu oponente tinha apenas um out. Quanto melhor me tornei no pós-flop, ou pelo menos quanto mais confiante me sinto, menos vontade tenho de colocar todas as fichas no centro e apenas esperar pelas cartas.
– Acredito que você joga melhor o pós-flop no Main Event do que a média dos participantes do primeiro ou até do segundo dia. No One Drop, você jogou mais agressivamente no pré-flop, considerando a força dos adversários, ou também mudou seu jogo?
– Mesmo no primeiro One Drop, joguei de forma muito mais cautelosa no pré-flop, o que resultou em um bom desempenho. Acho que me defendi bem no pós-flop. Em duas ou três ocasiões, perdi o foco, mas, para um torneio de três dias, isso não é ruim. Embora, talvez, tenha havido outras situações que eu possa ter jogado mal e não ter percebido.
– Você assistiu à gravação do torneio para analisar seu jogo?
– Durante o torneio, anotei minhas jogadas e depois discuti com amigos. Mas não gosto de me ver na TV, então tento evitar isso.
– Estamos chegando ao fim da nossa conversa. Há algo mais que gostaria de discutir?
– Não, gostei muito das suas perguntas. Espero que nossa conversa seja útil ou, pelo menos, interessante para quem acompanhou.