Entrevista com o campeão do EPT Monte Carlo: "GTO é a pior coisa que pode existir no poker"

— Os jornalistas do PokerNews te chamaram no artigo de "um amador de TI de 37 anos". Essa definição é correta? Ou você de fato já ganhou o suficiente e joga apenas por diversão?

— É exatamente isso. Em 2021, parei de jogar cash e passei a jogar torneios por diversão. Jogo uma vez por semana, aos domingos. Está bem longe de ser um jogo profissional.

— Você realmente se classificou para o EPT através de um satélite?

— Tecnicamente sim, mas só a primeira entrada. A segunda bala foi paga com dinheiro. O PokerStars gosta de criar histórias bonitas sobre satélites. Mas quem somos nós para julgar (risos).

— Vamos falar da famosa mão com . Na nossa comunidade, você recebeu muito apoio — e no exterior? Algum jogador te escreveu?

— Não, ninguém escreveu. Me parece que a comunidade de língua inglesa se dividiu em dois grupos: uma parte acha que foi um angle, e a outra que eu cometi um erro. Um jogador estrangeiro chegou a escrever que eu deveria ser banido do EPT por um ano. Loucura!

Antes mesmo de dar o call, eu já entendia como aquilo parecia de fora. Havia grande chance de ele dar shove e eu ser acusado de jogo sujo. Por isso pedi desculpas antecipadamente.

Consigo entender o Jamil e quem me critica. Só não concordo com o argumento do “valor da aposta em voz alta” — um cara no Twitter escreveu que até então eu sempre colocava as fichas em silêncio. Os jornalistas do PokerNews assistiram ao quinto dia do EPT e fizeram sua própria investigação: de 40 mãos, eu anunciei o tamanho da aposta em sete. Houve até um spot emblemático em que abri do SB para o BB com o mesmo sizing e também falei o valor em voz alta.

— Essa história ainda te incomoda?

— Ficou na cabeça durante a mesa final e por mais alguns dias, mas agora já não.

— Sam Greenwood fez um post sobre a mão. Ele analisou se a jogada do Jamil foi teoricamente correta. No padrão, o shove era lucrativo, mas se considerarmos 10-20% de chance de angle shooting, vira um shove super negativo. O que você teria feito no lugar dele?

— Se tivesse tempo suficiente para pensar, teria dado call com certeza. Mas entendo por que ele shovou.

No mundo há 10-15 jogadores conhecidos em que se pode confiar que nunca fariam algo assim na reta final. Já contra um jogador relativamente desconhecido (e eu era desconhecido para ele), melhor considerar a possibilidade de angle e simplesmente dar call.

Não esqueça da mesa final: não era um shove que imprimia dinheiro. E o Jamil subestimou meu range: na internet diziam que eu abria de forma polarizada, mas naquele spot meu range era linear. Eu também daria call num shove com um range mais amplo, pois percebi logo que ele interpretou meu sizing como erro e superestimou meu range.

— Antes dessa mão, houve um pequeno escândalo quando você parou de colocar as cartas no sensor após as ações de Boris e Mariusz. Não pensou em chamar o floor logo?
(Nota da redação – Boris Angelov e Mariusz Golinski no quinto dia iam regularmente até seus torcedores para ver os showdowns anteriores.)

— Foi uma decisão espontânea, não fiquei pensando o dia todo o que fazer. Depois, o diretor do torneio resolveu tudo bem rápido — respeito a ele!

— Como você avalia a organização e o cumprimento das regras no EPT?

— Excelente! Tudo perfeito.

— Estamos conversando logo após o Triton. Onde é mais confortável jogar?

— Na Triton é mais agradável. Primeiro, há bem menos gente, não tem multidões como na WSOP. Segundo, há "mimos" gratuitos: bebidas, alimentação. No EPT, como todo mundo já sabe, eu pagava até pelo chá!

Este é um detalhe menor dentro de um post maior, mas é absolutamente insano que o @PokerStarsLIVE não esteja oferecendo bebidas gratuitas aos jogadores nas mesas de TV.

— E quanto aos fields?

— No Main Event do EPT o field é melhor. Mas, no geral, os high rollers em etapas como Praga são piores que no Triton.

— Você já joga high stakes ao vivo há bastante tempo: no seu blog no GipsyTeam você vendia cotas para a WSOP e para o 10K do Aria. Onde há o melhor equilíbrio entre field, conforto e preço?

— Triton em Jeju. Vai muita gente da Ásia. Não dá para chamá-los de fish, mas são tecnicamente mais fracos. Mas nem todos as Tritons são iguais — por exemplo, em Montenegro o equilíbrio "reg/amador" já não é tão bom.

— No GipsyTeam você manteve um blog até 2014 e depois parou. O que fazia? Jogava cash online?

— Sim, e às vezes torneios. Hoje posso dizer que era “jogo de fish”. Na época eu não entendia nada. Os regs de MTT também eram piores, mas as oportunidades de melhorar o jogo eram bem menores. Teria sido melhor ficar só no cash, mas ao menos ganhei alguma experiência.

— No início da carreira você jogou de tudo: desde cap games até torneios. Pode contar onde e o que jogava?

— Joguei em muitos sites e variados formatos. Jogava tudo o que aparecia. O auge foi no fim de 2020, quando o Ben Affleck apareceu na WPN. Também joguei no GG, mas lá tinha menos ação do que, por exemplo, em 2023.

— Hoje não pensa em voltar ao cash caro?

— Não tem para onde voltar. Ele não existe mais (risos). Vi estatísticas de quantas mãos os top regs jogaram em 2025: ninguém chegou nem a 80.000 mãos. Não vale o esforço.

A idade também pesa: o poker é muito desgastante. Rotina desregulada, estresse. Não quero fazer isso a vida inteira.

— Chegou a tentar short deck ou Omaha?

— Quando começaram a ficar populares, em 2017-2018. Joguei menos de 1.000 mãos de Omaha, no 6+ joguei um mês, ganhei $10k e parei. Tinha muita ação no Hold'em.

Talvez tenha sido um erro. Pelo que sei, hoje o PLO é mais divertido que o NL.

— No GipsyTeam você veio do PokerStrategy, no seu blog há muitos nomes antigos. Mantém contato com o pessoal desses fóruns?

— Com alguns tenho contato próximo. Outros conheci só agora, como o Artem oSpiel. Engraçado: passamos a carreira juntos, nos cruzamos nas mesas quase todo dia, mas só fomos nos conhecer ao vivo este ano.

— O Artem só apareceu publicamente ano passado, quando comentou a Triton com a Avr0ra.

— Sim, antes todos o conheciam, mas poucos o tinham visto.

— Ainda acompanha a comunidade e as notícias?

— Ainda abro o GipsyTeam toda semana, mais por hábito.

— Por que parou de escrever depois de 2014?

— Nem sei. Na época já tinha meu círculo de amigos no poker. O PokerStrategy morreu, o debate de mãos no GT foi caindo, as pessoas passaram a escrever menos nos blogs, principalmente no NL400+.

Depois apareceram os solvers, e achei que discutir mãos perdeu o sentido. Achei que aquilo era o Santo Graal do poker. Estava errado!

— Por quê?

— Não dá para copiar o jogo do solver integralmente. Só alguns poucos no high stakes conseguem imitar bem o solver. Comparado ao GTO ideal, o exploit ainda dá mais dinheiro no longo prazo.

O solver praticamente destruiu meu jogo por um ano — passei a jogar break even e demorei para sair dessa. Fiz coachings e percebi que tentar copiar o solver foi um erro.

Muitos jogadores de torneio ainda acham que copiar cegamente o GTOWizard dá resultado. Mas pelos resultados do FiatLab e seus alunos, GTO é a pior coisa que pode existir no poker. Os regs de lá têm ótimos resultados, mesmo "jogando com o coração".

CoinPoker

4.5

Freeroll semanal com premiação de $100 da GipsyTeam

Análise da sala 115 análises

Bônus GT

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Até $1.000 para novos jogadores

Análise da sala 94 análises

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4.5

Até $1.000 para novos jogadores

Análise da sala 96 análises

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— Se hoje você precisasse melhorar, o que faria?

— Para torneios, entraria no FiatLab. Não é propaganda, nem conheço ninguém de lá. No cash, buscaria jogos fechados e bons fields, porque hoje a situação está bem ruim.

— De 2015 a 2019, enquanto você saiu dos fóruns, o field mudou muito?

— Sim, o entendimento mudou. Tem menos decisões por "feeling", mais teoria. Mas os melhores resultados continuam sendo dos que não copiam o GTO, como o 1nvoker ou o Stefan.

Entre os russos, destaco o Artem oSpiel, que sempre buscou jogar próximo da teoria e tem bons resultados. Mas ele tem QI de 180+, é um caso especial. Para o jogador médio, é muito mais fácil aprender exploit.

— Quais regs russos são os mais difíceis na mesa? Diga seu top 3.

— Obviamente o Stefan. Depois 1nvoker e oSpiel. Claro que estou esquecendo vários: forhayley, fish2013 também são difíceis. Ou o Trueteller. Jogávamos cap games em 2011, havia lendas, como Sergey "vedevas" Lebedev.

— Quais foram seus maiores upswings e downswings na carreira?

— Prefiro não falar de números, mas nunca houve grandes quedas, no máximo 10-20 buy-ins. O pior foi 2016, joguei break even. O maior sucesso é a vitória recente no EPT.

— Tem planos futuros no poker?

— Vou para a WSOP, depois não sei. Talvez jogue alguns EPTs por ano. Nem sei se vou jogar 30 domingos online. Cash não me atrai, só se me convidarem para um jogo bom, caro e honesto, o que é bem improvável.

— Já jogou caro ao vivo?

— Cash em Sochi e Vegas, mas não muito caro, no máximo NL10k. Muito chato! Em torneio você olha o telão, vê o prêmio do primeiro e imagina onde vai gastar o dinheiro. No cash não tem isso.

— Onde vai gastar o milhão do EPT?

— Provavelmente vou comprar um imóvel na Eslovênia. Os preços aqui são bem altos comparado ao resto da Europa, então quase certo que será uma casa.

— Vida difícil na Europa! Pode contar o que faz além do poker?

— Prefiro não entrar em detalhes. Digamos que tento buscar vantagem nos mercados tradicionais e de criptoativos.

— Tem algo que poderia te fazer voltar a escrever no blog?

— Boa pergunta. Nos últimos dez anos, várias vezes quis escrever algo, mas seria mais por vaidade. Talvez eu volte quando tiver 60 anos e precise escrever minhas memórias!