#5: Mike Matusow vs. Scott Lazar (Main Event de 2005)
Vamos começar com uma mão sobre a qual falo há anos, uma que ainda considero minha mão favorita no poker. Não há blefe genial, não há hero call lendário, nem sequer existe jogo pós-flop. Mas poker não é apenas estratégia. Nós vivemos pela emoção. E essa mão teve mais emoção do que muitos filmes de Hollywood.
Mike Matusow chegou à mesa final do Main Event de 2005. Logo no início, ele foi all-in pré-flop segurando … contra de Scott Lazar.
Para deixar tudo ainda mais insano, um terceiro jogador, Steve Dannenmann, largou pré-flop. Um fold disciplinado — e no fim correto. Dannenmann terminaria em 2º lugar nesse evento.
Na superfície, é o cooler mais padrão do mundo. Mas coolers têm um peso diferente quando acontecem na mesa final do Main Event, especialmente no auge do boom do poker. A WSOP de 2005 teve 5.619 jogadores, e o primeiro lugar pagou então um prêmio recorde de US$ 7,5 milhões. A tensão naquela mesa era surreal.
E então essa mão virou puro cinema:
Ao pagar o shove de Mike, Lazar disse com um sorriso: “Agora está com eles”, apontando para o céu.
E os deuses do poker responderam — de forma brutal.
O flop trouxe , e Matusow explodiu de alegria. Ele gritou, pulou, comemorou, convencido de que finalmente sua sorte havia mudado.

Mas não tinha acabado. O turn trouxe , dando a Lazar um flush draw.
E então aconteceu: o river trouxe , dando a Lazar o flush vencedor e destruindo o sonho de Matusow de se tornar campeão mundial. Matusow nunca se recuperou mentalmente do golpe e foi eliminado em 9º lugar. Lazar também não foi longe — o campeão seria Joe Hachem.

Um milagre Rei, seguido por um runout milagroso de copas. Uma das mãos mais emocionantes da história do Main Event.
#4: Erik Seidel vs. Johnny Chan (Main Event de 1988)
Outra mão cinematográfica — literalmente. Esta é a famosa mão final imortalizada em Rounders. Na o Brasil, o filme recebeu o nome de Cartas na Mesa.
Leia LeiaNo Main Event de 1988, Johnny Chan — já campeão mundial após vencer em 1987 — enfrentava um jovem e relativamente desconhecido Erik Seidel no heads-up.
Na mão final, Chan floppou uma sequência com . Seidel floppou top pair com .
No flop , Seidel deu check. Chan, com o nuts, apostou 40K. Seidel deu raise para 90K, que Chan pagou.

O turn foi de check–check.
No river , acreditando estar à frente, Seidel foi all-in. Chan pagou instantaneamente e se tornou bicampeão mundial — algo que apenas um punhado de jogadores na história conseguiu.

Dez anos depois, Rounders recriou essa mão quase carta por carta, inspirando o protagonista Mike McDermott (Matt Damon) a usar a mesma estratégia de slowplay contra Teddy KGB.
A mão se tornou icônica duas vezes — uma na vida real, outra no cinema.
Leia LeiaHá também um detalhe divertido dos bastidores: Chan só concordou em deixar os produtores usarem seu vídeo real do heads-up depois que sua filha — grande fã de Matt Damon — pediu para ele aparecer no filme. Ele brincou dizendo que só assinaria os direitos se ganhasse um papel ou pelo menos se pudesse apresentar a filha ao Damon no set. No fim, conseguiu os dois.
Rumores sobre um roteiro de Rounders 2 circulam há anos. Damon e Norton disseram que voltariam aos seus papéis. Até Daniel Negreanu afirmou que adoraria aparecer em um cameo. Se isso vai acontecer algum dia, veremos.
#3.5: Phil Ivey (2009) — Uma Dolorosa Eliminação no Main Event da WSOP
No final dos anos 2000, Phil Ivey era amplamente considerado o melhor jogador de poker do mundo. Em 2009, ele finalmente realizou um sonho antigo — chegou à mesa final do Main Event da WSOP. Era a era do “November Nine”, então a expectativa era gigantesca. Quase 6.500 jogadores participaram naquele ano, e a presença de Ivey na FT virou manchete em todo o mundo do poker.
Sua eliminação veio pelas mãos de Darvin Moon, o lenhador calado de Maryland que entrou no torneio como completo amador e acabou se tornando a grande história daquele ano.
Ivey colocou tudo no meio com contra de Moon — um spot de equidade gigantesca, valendo milhões de dólares em valor esperado.
O flop trouxe a , e a torcida inteira explodiu. Mas o board correu limpo para Moon, e Ivey foi eliminado em 7º lugar.
O que tornou o momento lendário, no entanto, foi a reação de Ivey. Sem raiva. Sem desespero. Apenas a mordida mais impassível em uma maçã na história da WSOP.

Esse clipe virou instantaneamente um dos maiores memes da história do poker.
Moon acabou terminando em segundo lugar no Main Event de 2009. Ele se tornou um dos personagens mais queridos da história da WSOP — humilde, modesto, genuinamente gentil, e alguém que imediatamente conquistou o respeito da comunidade. E sim, ele era literalmente um lenhador. Depois da WSOP, pegou todos os seus US$ 5 milhões e investiu em terras, equipamentos e no crescimento de seu pequeno negócio.
Infelizmente, Darvin Moon faleceu em 2020 devido a complicações após uma cirurgia. Tinha apenas 56 anos. Um verdadeiro cavalheiro que se foi cedo demais.
#3: A Dolorosa Eliminação de Daniel Negreanu em 2015 — 11º Lugar
Agora vamos relembrar outro momento inesquecível e devastador da WSOP — desta vez protagonizado por Daniel Negreanu. Não foi na mesa final, mas sim no 11º lugar, e ainda assim continua sendo uma das eliminações mais dramáticas da história do Main Event.
Em 2015, Negreanu teve sua melhor chance em mais de uma década de alcançar a mesa final do Main Event. O mundo inteiro do poker torcia por ele. Mas na mesa semifinal, ele encontrou o futuro campeão mundial Joe McKeehen.
No turn, McKeehen tinha um gutshot e um flush draw — um enorme combo draw — e o river completou sua sequência. Daniel caiu para trás no chão, cobrindo o rosto com as mãos, incrédulo.

Pior ainda? Daniel já havia terminado em 11º lugar uma vez antes, em 2001. Quatorze anos depois, a história se repetiu da forma mais cruel possível. Ele também terminou em 11º no evento de Seven Card Stud de US$ 10.000 em 2008.
Os deuses do poker têm um senso de humor sombrio. E, realisticamente, é improvável que Negreanu volte a chegar tão fundo no Main Event. Mas, como sempre, ele lidou com tudo com classe.
Leia Leia#2: A Famosa Frase de Scotty Nguyen — “You call, it’s all over, baby!” (1998)
Agora voltamos ao Main Event de 1998 — um dos duelos de heads-up mais icônicos já jogados. O confronto envolveu Scotty Nguyen, que já se tornava um queridinho dos fãs, e Kevin McBride, um amador inexperiente que chegou ao heads-up como um enorme azarão. Scotty tinha as fichas, a experiência e toda a confiança do mundo.
E então veio "A" mão.
McBride deu limp, Scotty deu check no big blind.
O flop veio . McBride apostou.
O turn trouxe um , dobrando o board novamente.
McBride apostou mais uma vez. Scotty pensou… e pagou de novo.
E o river?
O dealer virou outro — formando um full de oitos com noves.
O board ficou: ..
Numa situação assim, normalmente o board joga para ambos os jogadores, resultando num pote dividido. Mas não desta vez.
Scotty colocou tudo no meio imediatamente.

McBride congelou. Ele não tinha muitas fichas restantes. Aquela última decisão provavelmente valia o torneio inteiro.
Se Scotty tivesse um nove, Kevin estava morto.
Se Scotty estivesse blefando, Kevin inda poderia vencer o Main Event.
E então veio a frase que entrou para a imortalidade do poker:
“You call, it’s all over, baby!” (Se você pagar, tudo estará terminado, bebê)
Ele não estava falando apenas com McBride.
Estava falando com qualquer pessoa que um dia sentasse do outro lado da mesa.
A imagem permanece viva na mitologia do poker: Scotty de camisa aberta, corrente de ouro, óculos escuros, cigarro aceso e uma Corona na mão. Não daria para roteirizar melhor a era dourada do poker.

McBride acabou pagando e, assim como Scotty prometeu — acabou mesmo. Nguyen mostrou , formando o full house vencedor.
#1: Chris Moneymaker vs. Sam Farha (2003)
Já mencionamos o boom do poker várias vezes nesta lista — e encerramos com a mão que começou tudo, a mão mais importante da história da WSOP.
Leia LeiaEm 2003, um contador de 27 anos do Tennessee chamado Chris Moneymaker ganhou um satélite no PokerStars para se classificar para o Main Event de US$ 10.000. Ele nem percebeu, a princípio, que tinha ganho um seat completo para a WSOP. Ele não tinha dinheiro para a viagem ou para o hotel — precisou pegar emprestado do pai só para conseguir ir a Las Vegas.
Mas quando chegou lá, algo mágico aconteceu.

Moneymaker engatou uma corrida impressionante, eliminando vários profissionais — incluindo Johnny Chan — e também derrubando Phil Ivey em um enorme all-in que fez a sala inteira tremer.
Ele estava jogando poker perfeito? Não. Ele era inexperiente, muitas vezes incerto sobre a ação, às vezes até esquecendo que era a vez dele.
Mas ele tinha coração. E tinha sorte. E às vezes — isso basta.

Finalmente, ele chegou ao heads-up contra Sam Farha, um profissional polido, intimidante, saído diretamente de uma cena de cassino de Scorsese — camisa aberta, cigarro, estilo libanês impecável. Do outro lado da mesa, um contador quieto de boné. Ninguém esperava que Moneymaker vencesse.
E então veio a mão decisiva!
Stacks:
- Chris Moneymaker — 5.690.000
- Sam Farha — 2.700.000
Pré-flop: Farha aumenta para 100K com , e Moneymaker, com , paga.
Flop: . Moneymaker dá check, Farha aposta 175K. Então Moneymaker dá raise para 300K, e Farha diz “Let’s go” e coloca tudo no meio. Chris paga.
Turn:
River:

O efeito foi imediato — e mudou o mundo. Um amador desconhecido, classificado online, havia vencido o maior torneio do planeta. Milhões de pessoas pensaram de repente: “Se ele conseguiu… por que não eu?”
O poker online explodiu. O poker ao vivo explodiu.
Um boom global começou — e aqueles anos dourados moldaram toda uma geração de jogadores.
E com essa nota nostálgica — encerramos.