Profissional de MTT Stephen Chidwick desfaz equívocos sobre GTO

Aqui é Stephen Chidwick para o Octopi Poker, e hoje vou falar sobre o que considero os equívocos mais comuns sobre o GTO no poker.

Por que o GTO não é apenas memorização

Eu ouço o tempo todo as pessoas dizendo que jogar GTO — ou aprender a jogar no estilo GTO — é tudo sobre memória. É vasculhar muitos gráficos, lembrar o que fazer em todas essas situações diferentes, para que, quando a situação ocorrer durante o jogo, você simplesmente recorde o que aprendeu e copie aquela estratégia.

Eu acho que isso é um enorme equívoco.

Primeiro de tudo, é completamente impossível. Se você pensar em apenas uma mão de poker em um único board — apenas button contra big blind — existem inúmeras combinações diferentes. Cada ponto de decisão é um novo nó na árvore do jogo: eu poderia apostar pequeno, apostar grande, dar check; você poderia dar check-raise pequeno, check-raise grande, e assim por diante. Para cada um desses nós, eu precisaria lembrar uma estratégia para cada combinação possível que eu pudesse ter — centenas de combinações por nó. Multiplique isso por cada combinação de posições, profundidade de stack e estágio do torneio com diversas pressões de ICM, e isso se torna inadministrável.

Mesmo que você pudesse memorizar tudo, passaria sua vida inteira apenas tentando navegar pela árvore de decisões.

Em vez disso, o que considero benéfico ao estudar GTO é aprender princípios — tentar identificar padrões nos dados que aprofundem sua compreensão teórica. Esses princípios gerais ou heurísticas podem ser aplicados a novas situações durante o jogo.

Essa é uma das coisas mais legais do poker: quando um solver resolve uma mão, ele joga bilhões de iterações contra si mesmo, testando diferentes linhas e eventualmente convergindo para um equilíbrio — onde ambos os jogadores sabem o que o outro está fazendo e qualquer desvio é explorável. Como humanos, no entanto, precisamos sentar e, em 5 a 30 segundos, encontrar uma estratégia na hora. Uma iteração, uma decisão — usando apenas nossos cérebros. Por mais avançados que sejam os solvers, eles ainda ignoram muito do contexto. Eles não sabem nada sobre psicologia, tendências dos jogadores ou reads físicos. Nossos cérebros — idealmente — combinam tudo isso com nosso entendimento teórico e criam uma solução nova para cada mão.

É isso que acho divertido no jogo.

Então, para mim, o GTO não tira a empolgação do poker. Ele a aumenta.

Estratégia GTO não é chata. É criativa

Outro equívoco comum que ouço é que o poker GTO é chato. Eu acho isso completamente falso.

Primeiro, ninguém realmente joga o verdadeiro GTO. Mesmo as pessoas consideradas mais próximas do ótimo não inserem a complexidade e profundidade que um solver faz. Se você rodar o GTO trainer e jogar contra ele, constantemente se verá em situações extremamente difíceis — overbets, linhas incomuns, tamanhos de aposta estranhos. A maioria dos humanos simplesmente não cria esse nível de dificuldade.

Mas você pode aprender algumas linhas incrivelmente criativas com os resultados dos solvers.

Por exemplo, há uma jogada que chamamos de demi-bluff, onde você aposta com uma mão como bottom pair para fazer mãos melhores foldarem — como middle pair — mas ainda é pago por flush draws com ace-high. Então, no river, você dá check back. Foi uma value bet? Um blefe? Foi ambos. Antes de começar a olhar os resultados dos solvers, eu nem percebia que esse tipo de valor híbrido/blefe era possível.

Portanto, sim, o poker GTO é na verdade muito rico e criativo. Nada chato. Outro equívoco que ouço com frequência é: “O GTO não se aplica aos jogos que eu jogo. Ninguém joga assim. Então, para que se importar?” Mas isso perde o ponto.

Olhar os resultados do solver e compará-los com como as pessoas realmente jogam é o primeiro passo para encontrar e explorar erros. Se você não souber que seu oponente está se desviando da estratégia ótima, não poderá contra-atacá-lo de forma eficaz.

O objetivo não é jogar como um robô. É entender como o jogo funciona em nível teórico e, então, aplicar esse entendimento ao field que você está enfrentando. Seu oponente pode não seguir o GTO, mas você pode usar seu conhecimento dele para punir os erros que ele comete.

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Como usar o GTO em jogos não-GTO

Digamos que estamos analisando um flop de , lowjack contra big blind em um pote com raise único. O big blind dá check, como deve fazer com todo seu range. O lowjack está em uma posição forte — esse é um ótimo flop para ele.

O solver prefere um tamanho de c-bet maior aqui e mistura alguns checks. Mas eu frequentemente vejo pessoas, na prática, jogarem esse spot como uma c-bet de range com tamanho pequeno.

Então, o que podemos aprender com isso?

Primeiro, agora você sabe que o solver gosta de dar check com alguns pares menores — como , , etc. — e apostar mais alto com top pairs fortes e draws. Se seu oponente está sempre apostando pequeno, provavelmente não está fazendo essa mistura. Isso significa que ele chegará ao turn e river com ranges distorcidos — talvez muitas mãos fracas ou muitas mãos de força média.

Agora, digamos que o turn seja o . Você verá que o solver começa a liderar bastante — quase metade do range. Isso porque temos 18% de flushes nesse nó. O e o bloqueiam grande parte dos suited combos que o lowjack abriria. Então, mesmo que a equidade geral do nosso range não seja tão alta, ainda extraímos valor dos flushes.

Na verdade, temos uma vantagem de equidade significativa aqui.

Agora, alguém pode dizer: "Ok, mas nos meus jogos, as pessoas não lideram no turn — elas apenas dão check em tudo." Isso é ótimo! Então você deu c-bet no flop, eles deram check-call, e agora o turn bateu. Você sabe que eles têm três vezes mais flushes que você, e eles dão check.

De acordo com a simulação, se seu oponente tivesse liderado com metade do range, incluindo seus flushes mais fortes, estaríamos apostando no turn com uma estratégia mais balanceada. Mas agora que ele dá check, o range dele é mais forte do que o solver assume.

Portanto, na prática, queremos ser mais passivos. Mãos como e ? Podemos simplesmente dar 100% de check com elas. Queremos estar altamente desbalanceados em direção ao valor quando apostamos no turn.

Esse é o ponto chave — mesmo que nosso oponente não esteja jogando GTO, podemos usar a simulação para aprender como ajustar de forma ótima por causa disso.

Espero que, ao passar por diferentes boards e estratégias, eu tenha ajudado você a aprender algo útil para o seu jogo. E se você tinha algum desses equívocos, espero que isso tenha ajudado a esclarecê-los.

Divirta-se aprendendo com o OctopiPoker.ai. Aqui foi Stephen Chidwick — até a próxima.