Daqui a algumas semanas, retornarei a Montenegro pela primeira vez desde 2019 [Nota: de 12 a 26 de maio será realizada mais uma série Triton]. Gosto muito desse lugar — o cassino fica à beira-mar, e sempre tenho bons resultados nos torneios quando consigo dar um mergulho antes. Naquela ocasião, cheguei à mesa final em três eventos, incluindo o Main Event.

Mas, como frequentemente ocorre em grandes séries, a linha entre uma viagem lucrativa e uma desastrosa é muito tênue. No primeiro torneio, apenas 6 jogadores premiavam. Na bolha, eu era chip leader e havia vários short stacks na mesa. Mesmo assim, dei um repush com Q9s, bati de frente com de Steve O'Dwyer e terminei com um mini-cash. Steve acabou vencendo o torneio.

No terceiro evento — de Short Deck — caí na bolha quando Leon Tsoukernik pagou meu all-in com (completamente lixo nesse formato). No Main Event de NLHE, fui eliminado duas vezes e, na terceira bala, comecei a fazer o que todo profissional experiente faz: calcular a colocação mínima para sair no lucro da viagem. Recebi QJs, Danny Tang abriu do meio da mesa… Não sou bom em reads ao vivo, mas naquela hora olhei para ele e pensei: “Nunca vi alguém parecer tão tranquilo assim”. Mesmo assim, eu tinha 30bb no small blind e me convenci: “Não pira. O Danny tem muita experiência ao vivo. QJs é sempre shove aqui. Vai”. Dei o shove, quebrei os ases dele e fui para a mesa final como um dos chip leaders.

Nas próximas semanas, vou falar de algumas mãos em que errei nessa FT. Algo como um ritual de limpeza espiritual antes de voltar para o lugar onde me desestabilizei seis anos atrás. As mãos serão apresentadas em ordem cronológica. Começo hoje com a primeira, que me tirou a liderança em fichas.

Mão no replayer

Triton Montenegro 2019 – Evento #5 – NLHE Main Event (€110K / HKD 1M)

Level 18: 25k/50k/50k (SB/BB/Ante)Mesa final 9-handed

Stacks no início da mão:

  • Nikita – 2.8M
  • Sam – 2.7M
  • Stack médio – 2.08M

Nikita abre no UTG+2 110k. Eu no botão dou call com e os blinds foldam.

Flop (345k):
Nikita c-bet 110k, eu call.

Turn (565k):
Nikita aposta 300k, eu call.

River (1.165M):
Nikita dá check, eu aposto 1M, ele paga com .

Meus pensamentos

Nikita era chip leader, então esperava que abrisse muitas mãos no pré-flop, mas jogasse de forma bem mais tight no pós-flop. Achei que meu range de flat no botão era forte o suficiente — até mãos como — o que justifica incluir mãos mais especulativas.

No flop, eu tinha K-high com dois backdoors — suficiente para pagar uma aposta pequena. No turn, acertei top pair. Raise ou fold nem foram cogitados, sempre call. No river, achei que Nikita apostaria com qualquer mão melhor que a minha, o que me dava uma boa margem para value bet. Apostei 1M já sonhando em passar de 3M ou até 4M em fichas. Infelizmente, fui vítima de um Nikita-roll. Ele pensou por 30 segundos, me fez acreditar 100% que eu estava ganhando… e então pagou com .

Nota: Nikita é um jogador extremamente analítico. O termo “Nikita-roll” se refere a quando você faz um value bet, ele pensa tempo suficiente para te convencer que está foldando, mas então paga… e ganha. O mais memorável foi numa FT do APPT Macau: eu shovei 6bb com T8s do botão, ele era chip leader no BB, mas antes de dar call com AQo, ainda perguntou calmamente: “Tenho certeza que vou pagar, mas queria confirmar os stacks.”

Onde eu errei?

Um detalhe curioso: Nikita (UTG+2), Matthias Eibinger (LJ) e Bryn Kenney (CO) tinham stacks parecidos. Consultei o HRC para ver se podia jogar K6s contra qualquer um deles. Se fosse Bryn abrindo do CO, eu poderia 3-betar, mas contra Nikita e Matthias, é fold. O solver joga de flat com K9s e 3-beta K8s com frequência. Mas em 2019, o “meta” nos high rollers era os chip leaders abrirem com mãos bem marginais, incluindo pares pequenos, suited connectors, ases offsuit e reis suited. Nesse cenário, o call com K6s fazia sentido — ainda mais considerando que Nikita provavelmente defenderia mais loose contra 3-bets do que o solver faria.

Meu call no flop foi razoável. Mãos como e com apenas um backdoor também entram no range de call. K6s tem vantagens adicionais: é difícil me colocarem numa sequência se o backdoor completar, especialmente se bater um ou , e posso ganhar um pote enorme contra um wheel. Além disso, K6s é ótimo para blefar se o turn vier , , ou — cartas que favorecem meu range.

No turn, não havia nada a se pensar — sempre call.

Mas no river eu deveria ter pensado mais. Num torneio desse nível, não quero fazer value bets finas. Tenho poucos blefes no range e, se tomar call de uma mão melhor, perco posição estratégica na mesa. É difícil imaginar mãos em que Nikita jogaria check-call. Se ele vê meu range pré-flop como tight, ele não pode pagar com A-high. As mãos que restam são pares médios e acertos fracos tipo , ou , e ainda assim ele não terá essas mãos com frequência.

O principal motivo pelo qual a value bet com minha mão perde pouco EV na teoria é que, no mundo do solver, meu range é tight o suficiente para fazer Nikita foldar .... Mas, na prática, minha estratégia foi uma tragédia tanto no aspecto teórico quanto exploratório. Ela fez com que o Nikita-roll fosse completamente justificável. Se ele soubesse minha estratégia real, teria dado insta-call — igual você paga um all-in num $2/$5 com num board . Sim, às vezes perde para um straight flush — mas isso é só azar. No meu caso, não foi azar. Nikita ganhou um presente generoso. E logo vocês vão ver que ele não foi o único naquela FT.

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Tipos de erros

Muitas vezes erramos no poker ao fazer uma suposição e seguir com ela sem se perguntar: “E se eu estiver errado?” No pré-flop, flop e turn, minhas decisões foram limítrofes, mas justificáveis. O erro real foi no river. Fiz uma suposição absurda: “E se um dos melhores jogadores do mundo nunca der check no river com uma mão forte?” E ainda piorei ao não me perguntar: “Se ele nunca tem mãos fortes, qual o melhor sizing para extrair valor de um bluff catcher fraco?”

No fim das contas, apostei alto demais. Joguei essa mão muito mal — e isso me custou caro. Dou nota 2 para mim mesmo.