A linha esquecida? Como maximizar lucros sendo o caller PF em potes de 3-Bet

A escola de poker UpSwing Poker, do lendário Doug Polk, trouxe um texto gratuito e interessante sobre potes "tribetados" em que você não é o agressor. Adaptamos o conteúdo original (https://upswingpoker.com/in-position-raising-3-bet-pots/) para o português para que você possa melhorar o seu jogo:

Parte I – Introdução Teórica: A Linha Esquecida

Soou misterioso por um segundo, não é? Mas essa é uma linha importante e bastante subutilizada. Mesmo quando os jogadores a usam, raramente executam de forma eficiente.

Neste artigo, vou explicar por que a chamo de “Linha Esquecida”, por que essa estratégia funciona assim na teoria, como seus oponentes jogam contra ela, por que a abordagem deles se desvia tanto do GTO e — o mais importante — como você pode explorar essa lacuna para ganhar mais dinheiro aplicando essa linha.

Durante o texto, vou incluir conceitos avançados, mas vou condensar tudo em partes fáceis de digerir.

Por que a Linha Esquecida?

Vamos esclarecer exatamente sobre o que estou falando com um exemplo concreto: Você abre raise no botão. O small blind aplica uma 3-bet, e você apenas paga. O flop é virado e ele faz uma c-bet. Agora, você pode foldar, pagar ou aumentar.

Chamo isso de Linha Esquecida porque é uma das linhas mais negligenciadas e mal jogadas de alta frequência em todo o jogo. Mesmo jogadores fortes — do NL 500 até NL 5000 — cometem erros sistemáticos nessa situação. Na Parte II desta série, vou mostrar dados que comprovam isso.

Mas, antes, vamos entender a teoria por trás…

Mecânica da C-Bet no Flop

Quando o small blind faz um 3-bet e você paga em posição, ele normalmente mantém tanto um range amplo quanto vantagem de nuts. O objetivo dele na maioria dos boards é otimizar em torno de uma grande quantidade de mãos de força média, que querem extrair valor de mãos mais fracas enquanto controlam o tamanho do pote.

Isso geralmente é feito com block bets — apostas pequenas que forçam matematicamente o jogador em posição a defender uma parte ampla do seu range. Assim, a estratégia ótima de c-bet é de alta frequência e tamanho pequeno, como mostrado na tabela abaixo.

As únicas situações que não favorecem o small blind são os boards baixos, onde a mais alta é um 9. Nesses flops, grande parte do range dele erra, já que sua distribuição pré-flop é pesada em broadways. A estratégia ótima nesses casos é mais defensiva: c-bet com menor frequência, tamanho maior e range polarizado. O range de check precisa ser protegido com muitos overpairs e mãos fortes.

O objetivo é otimizar para a grande parte do range que não conectou. Ao fazer check com mãos fortes e apostar menos com mãos fracas, ele evita que o botão aposte demais, permitindo que suas mãos não feitas realizem a equidade:

Mecânica de Defesa

Teoricamente, o objetivo ao defender contra apostas (ou raises) é criar indiferença entre bet e check no range do oponente.

A frequência ótima de fold pode ser entendida pelo conceito de MDF (Minimum Defense Frequency). A fórmula é:

MDF = 1 – B / (B + P)

Onde:

B = tamanho da aposta
P = tamanho do pote

Exemplo: pote de $100, enfrentando aposta de $50:

1 – 50 / (50 + 100) = 1 – 0,33 = 0,67 → você deve defender 67% do seu range.

A frequência ótima de raise depende de vários fatores. São eles (lembrando que o contrário vale para todos eles):

Quantidade de mãos com alta equidade: quanto mais mãos você tiver com equidade muito alta, maior será a frequência ótima de raise.
Quantidade de mãos com equidade média e vulneráveis: quanto mais mãos com equidade média e também altamente vulneráveis você tiver, maior será a frequência de raise.
Equidade das mãos fortes contra o range de fold do oponente: quanto mais equidade suas mãos fortes tiverem contra o range de fold do oponente, menor será a frequência de raise.
SPR (stack-to-pot ratio): quanto menor o SPR, menor a pressão que o oponente pode exercer, permitindo aumentar com mais frequência mãos de força média a forte.
Posição relativa: em posição, você controla o tamanho do pote e tende a slowplayar mãos fortes, recuperando valor em streets posteriores.

Resumindo: quanto mais fraco o range de aposta do oponente, mais frequentemente você deve aumentar. Quanto mais fraco o range de check dele, mais você deve apostar. Esses princípios refletem a base do pensamento GTO e abrem espaço para compreender estratégias mais avançadas.

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Quiz rápido

Com a base teórica estabelecida e os exemplos apresentados, em qual situação você esperaria ver maior frequência de raise contra uma c-bet (assumindo todas as outras variáveis constantes)?

A) No flop , enfrentando c-bet de 25% do pote
B) No flop , enfrentando uma c-bet de 75% do pote

Resposta: A — a frequência de raise é maior contra a block bet.

O solver aumenta contra a c-bet de 25% do pote cerca de 13% das vezes, mas apenas 1% contra a aposta de 75% do pote.

Isso acontece porque, com tamanho menor, o range do oponente terá mais mãos de equidade média, aumentando a quantidade de mãos que atingem o limiar de valor para raise. Com tamanho maior, o range se polariza e menos mãos qualificam para valor.

Considerações de SPR e Posição Relativa

Com SPR em torno de 4, você deve ser mais conservador com jogadas rápidas. Ainda há fichas suficientes para explorar em streets futuras, então não é ideal "apertar" com mãos médias.

Estar em posição encoraja a jogar de forma mais passiva com mãos muito fortes, já que você pode extrair valor nas streets seguintes, agindo por último. Fora de posição, o incentivo é o oposto: fast play para conseguir colocar todas as fichas no pote de forma mais eficiente.

Com essa base teórica, você está preparado para entender profundamente as estratégias que exploraremos na Parte II. Vou mostrar como o GTO se comporta em diferentes texturas de board e comparar com a forma como até jogadores de alto nível jogam na prática, apresentando formas de explorar esses desvios para aumentar seu win rate.

Boa sorte nas mesas, grinders!